Kamala Harris pode reverter a situação e mudar dinâmica das eleições, diz James Green
Para o brasilianista, as mulheres já seriam determinantes para a votação de Biden, o que deve favorecer Kamala nos estados oscilantes entre republicanos e democratas
Publicado 22/07/2024 15:01 | Editado 22/07/2024 22:49
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, já se comporta publicamente nesta segunda (22) como candidata, após ter se tornado o principal nome do partido Democrata para assumir a candidatura no lugar de Joe Biden. Ela recebeu o apoio de Joe Biden para a indicação democrata nas eleições após o presidente ter desistido da corrida eleitoral neste domingo (21).
Kamala tornou-se uma das favoritas dentro do partido para assumir a candidatura e enfrentar Donald Trump, mas só poderá ser oficializada na convenção eleitoral dos democratas. Os principais nomes do partido que poderiam disputar a indicação com ela já declararam apoio. Até então, o cenário favorecia a candidatura republicana de Donald Trump.
Em meio ao ambiente político altamente polarizado e incerto nos Estados Unidos, James Green, brasilianista e professor da Universidade Brown, ofereceu ao Portal Vermelho uma análise sobre a possível candidatura de Kamala Harris e seu impacto nas eleições presidenciais. Do pessimismo com a insistência de Biden em disputar, Green passou a encarar como vitoriosa a eventual confirmação de Kamala como candidata. Até porque ele já via como determinante o voto feminino nesta eleição.
Green acredita que Kamala Harris tem grandes chances de reverter a situação atual. “Está muito apertado nos estados cruciais, esses seis estados oscilantes, swing states,” explicou, referindo-se a Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin, estados que não fecham automaticamente com um dos partidos.
Segundo ele, a escolha de um vice-presidente adequado será crucial para Harris. “Depende muito de como ela consegue indicar um vice-presidente, ou vice-presidenta. E eu acho que vai realmente modificar totalmente a dinâmica da campanha eleitoral,” afirmou Green, sugerindo que Trump deve estar preocupado com essa possibilidade.
Antes da sugestão de Kamala Harris, o professor comparou a situação de Biden com a substituição de Lula por Haddad nas eleições brasileiras, em 2018, sugerindo que uma troca de candidato agora seria difícil de consolidar. “Caso o candidato substituto fosse outro, seria muito difícil ele fazer uma campanha eleitoral bem-sucedida,” disse ele, destacando a pressão que Biden sofreu de setores do Partido Democrata e financiadores de campanha para sair.
Polarização e independentes
Green também comentou o discurso controverso e reacionário de Donald Trump, na semana passada. Ele observou a recepção polarizada ao discurso de Trump, com sua base apoiando fortemente e os opositores rejeitando enfaticamente. “O país está totalmente polarizado e as pessoas do meio, essas chamadas independentes, eu não consigo entender a mentalidade deles,” afirmou. Ele ressaltou que a capacidade dos Democratas de mobilizar sua base será determinante para as eleições.
Comentando sobre a dinâmica atual, Green destacou que, até recentemente, fatores como o atentado e a crise interna no Partido Democrata favoreceram Trump. “As pesquisas indicam que ele está por um ou dois pontos à frente em alguns estados-chaves,” explicou. No entanto, ele acredita que a votação das mulheres, especialmente em estados com plebiscitos sobre a legalização do aborto, será crucial. “Isso com certeza vai mobilizar as mulheres,” afirmou.
Impacto do atentado e questões legais
Sobre o recente atentado contra Trump, Green comparou a situação ao atentado contra Jair Bolsonaro no Brasil, sugerindo que Trump está utilizando o incidente para ganhar simpatia entre seus apoiadores. Ele mencionou o curativo gigante colocado na orelha para destacar seu status de vítima. “Isso só entra na base dele. Porque as outras pessoas odeiam ele, não querem nem saber,” disse Green.
Ele também abordou as questões legais envolvendo Trump, mencionando decisões judiciais desfavoráveis ao ex-presidente. “Se ele for eleito, ele vai acabar com esse processo. Se não for eleito, ele será processado ou encarcerado,” explicou, destacando a importância fundamental da eleição para o futuro legal de Trump.
Quem é Kamala Harris
Kamala, de 59 anos, é a primeira mulher a se tornar vice-presidente dos EUA. Formada em Direito e Ciências Políticas, ela foi procuradora da cidade de São Francisco e, depois, do estado da Califórnia. Kamala também foi senadora pelo estado entre 2017 e 2020.
Ela chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca para as eleições de 2020 e liderou algumas pesquisas dentro do Partido Democrata. No entanto, perdeu apoio e desistiu da corrida por falta recursos financeiros.
Filha de mãe indiana e pai jamaicano, ela foi escolhida para integrar a chapa democrata para atrair minorias, sendo ela mulher, negra e filha de imigrantes.
A opção por Harris foi fundamental para a eleição de Biden, já que funcionou como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.