Seca dos rios no Amazonas atinge 20 cidades e 5 estão em estágio crítico

O governo do Amazonas diz que 10 mil pessoas estão sendo afetadas com isolamento de comunidades, abastecimento de água potável, insumos e medicamentos

Foto: Defesa Civil

O governo do Amazonas já decretou situação de emergência em 20 municípios do estado em razão das secas dos rios, sendo que cinco deles já se encontram no pior nível de vazante, ou seja, perto das mínimas registradas em 2023, quando houve a maior seca da história do estado.

Só na calha do rio Purus são três municípios: Boca do Acre, Canutama e Lábrea. No Alto Solimões e Juruá a seca caminha para ser mais severa em Atalaia do Norte e Envira, respectivamente.

Os cinco municípios estão no nível 2 da vazante, o último da medição do monitoramento hidrometeorológico da Defesa Civil. Acima estão o nível 1 e o período de transição entre cheias e vazantes.

Os mais críticos são Boca do Acre com 1,18 metros acima da mínima registrada em outubro de 1998 e Atalaia do Norte com 1,28 metros superior a apontada em novembro do ano passado.

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De acordo com o governo do Amazonas, 10 mil pessoas estão sendo afetadas com isolamento de comunidades, abastecimento de água potável, insumos e medicamentos.

A situação de emergência alcança as cidades das do Juruá (Guajará, Ipixuna, Envira, Itamarati, Eirunepé, Carauari e Juruá), Purus (Pauini, Lábrea, Tapauá, Beruri, Canutama, Boca do Acre) e Alto Solimões (Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins), já afetadas pela vazante.

Além disso, foi decretado situação de emergência ambiental em 22 cidades do sul do estado e região metropolitana de Manaus.

“O decreto de emergência é importante para que se possa dar amparo legal aos municípios e que eles possam se mobilizar; e que a gente possa, também, estabelecer essa relação e essa comunicação com o governo federal. É importante para que a gente tenha um guarda-chuva de legalidade para tomar as decisões e as ações que vamos tomar, para que essa ajuda possa chegar o mais breve possível”, disse o governador Wilson Lima (União).

De acordo com ele, houve um planejamento para que seja possível prestar assistência às populações afetadas de forma mais rápida.

“Nós nos antecipamos e a maioria das aquisições que iremos fazer, já houve processo licitatório. Lá no ano passado, a gente trouxe esse aprendizado, por exemplo, cesta básica, água e filtros, tudo isso já conta com processo licitatório”, explicou Lima.

Mudança do Clima

Em nota, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) diz que a mudança do clima, decorrente da ação antrópica, ou seja, realizada pelo homem, está por trás da seca histórica na bacia do rio Amazonas em 2023.

Os cientistas identificaram que o aquecimento global tornou a seca que atingiu a região 30 vezes mais provável e que o aumento das temperaturas foi determinante para a intensidade e extensão do episódio.

“Os conjuntos de dados analisados indicam que o evento ‘excepcional’ e ‘devastador’, como o ocorrido no ano passado em larga escala, poderia ocorrer a cada 350 anos”, diz a pasta.

A análise rápida de atribuição, divulgada em janeiro pelo World Weather Attribution (WWA), foi elaborada por uma equipe internacional de 18 cientistas climáticos de universidades e agências meteorológicas do Brasil, Dinamarca, Reino Unido e Países Baixos. Cinco pesquisadores brasileiros participaram do estudo.

Na avaliação professora de oceanografia física e clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues, que integrou o grupo, as altas temperaturas registradas na região foram determinantes para exacerbar a seca na maior floresta tropical.

“A temperatura foi fator primordial, não foi apenas déficit de chuvas. As altas temperaturas tiveram um papel importante nessa seca e estão atreladas a mudança do clima”, explicou a professora.

Ela diz que o período seco na Amazônia começou muito mais cedo, em junho, fora do período que normalmente se espera de impacto para o El Niño, e as anomalias de temperatura das águas do Atlântico Norte, que estavam fora do padrão esperado, também contribuíram.

“A seca começou no Norte no rio Negro, atingindo os valores mais baixos em 120 anos, e se espalhou por toda a bacia. A temperatura tem papel preponderante para a evapotranspiração da floresta”, assegurou a pesquisadora.

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