Lula defende maior comércio entre Brasil e Itália
Ao receber nessa segunda-feira (15) o presidente da Itália, Sergio Mattarella, Lula diz que só agora foi retomado o fluxo de comércio de cerca de R$ 10 bilhões, registrado há uma década
Publicado 15/07/2024 16:46 | Editado 16/07/2024 20:26
Nas suas declarações por ocasião da visita do presidente Sergio Mattarella, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira (15), no Palácio do Planalto, maior intercâmbio comercial entre o Brasil e a Itália que ocupam a oitava e nona posições entre as maiores economias do planeta, respectivamente.
“Dois países dessa estatura devem ter um fluxo de comércio e investimentos à altura da sua riqueza. Nossa corrente de comércio, de aproximadamente R$ 10 bilhões, só agora retornou aos níveis registrados há uma década”, observa o presidente brasileiro.
Só em 2023, foram mais de US$ 4,1 bilhões em exportações de café, celulose, soja, petróleo e outros.
De acordo com Lula, a conversa com o presidente Mattarella envolveu o desejo de diversificar a pauta e incrementar as exportações brasileiras.
“A retomada, em breve, do Conselho Brasil-Itália de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Industrial e Financeiro poderá contribuir muito nesse sentido”, disse.
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O presidente lembra que a Itália é uma importante fonte de investimentos para o Brasil, sendo que as quase 1500 empresas italianas instaladas aqui geram mais de 150 mil empregos diretos.
“Desde o início deste mandato trabalhamos para atrair ainda mais investimentos. Vemos interesse renovado da indústria automotiva pelo Brasil”, destaca.
No ano passado, diz o presidente, o grupo Stellantis, resultante da fusão da Fiat Chrysler e da Peugeot, anunciou R$ 30 bilhões para modernização e ampliação de suas fábricas no Brasil. “É o maior investimento da indústria automotiva em toda a América do Sul”.
“Um setor em que a Itália já está bem posicionada é o de energia. Os parques eólicos e fotovoltaicos de empresas italianas e o interesse delas em hidrogênio verde, mostram o potencial a ser explorado nessa área. Um exemplo é o investimento de mais de 2 bilhões de reais no Complexo Eólico Aroeira, na Bahia, feito pela Enel”, disse.
Para ele, abrir novas frentes de cooperação não significa abandonar a tradicional colaboração brasileira em outras áreas.
“No passado, a cooperação tecnológica no desenvolvimento do caça AMX permitiu à Embraer um salto na produção de jatos. Hoje, a empresa tem condições de colaborar com a força aérea italiana por meio do fornecimento de aeronaves C-390 Millenium”, diz.
O encontro também é o diálogo entre dois grandes fóruns mundiais: Brasil, que atualmente preside o G20 e a Itália, que preside o G7.
A visita está no contexto das comemorações, este ano, dos 150 anos da imigração italiana no Brasil. O país tem mais de mil empresas atuando e cerca de 35 milhões de descendentes em solo brasileiro.
Acordos
Os dois presidentes assinaram alguns acordos como a conversão da carteira de habilitação nos dois países; e entendimentos entre Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Centro Internacional de Física; Embrapa e Universidade de Turim; USP e Universidade de Turim; e Unicamp e ENEL.
Lula disse que a maior força propulsora dos vínculos entre a Itália e o Brasil são as duas sociedades.
“E é do nosso interesse aproximá-las por meio de medidas simples que apoiem esse intercâmbio. Por isso, estou satisfeito com a assinatura, hoje, de acordo de reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação. Espero que esse instrumento incentive o turismo e os negócios e facilite a rotina dos brasileiros que vivem na Itália e dos italianos que moram no Brasil”, afirma.
Ajuda ao Rio Grande do Sul
Lula agradece a ajuda da Itália ao Rio Grande do Sul. “Esses laços se reforçam por meio de demonstrações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Somos muito gratos pela doação de 25 toneladas de ajuda humanitária que recebemos do governo da Itália. O material doado certamente aliviou a enorme perda sofrida pela população gaúcha, que reúne uma parcela numerosa dos mais de 35 milhões de descendentes de italianos no Brasil”, disse.
Mercosul
Em conversa com jornalistas, Lula disse ter reforçado o “interesse” do Brasil em firmar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE).
“Reiterei ao presidente italiano necessidade de concluir o quanto antes o acordo Mercosul-União Europeia para que seja equilibrado e contribua para o desenvolvimento das duas regiões. Explicitei que o avanço das negociações depende dos europeus resolverem suas próprias contradições internas.”
Marttella também se mostrou favorável ao acordo: “Consideramos indispensável chegar rapidamente a uma decisão histórica que diga respeito a duas realidades para benefício do mundo. Um tecido de colaboração intercontinental que garante a paz do mundo”.
Guerras
Os dois conversaram sobre as guerras pelo mundo: “Ucrânia e Gaza mostram que abrir mão da democracia leva a consequências nefastas”, disse o brasileiro.
O presidente italiano concorda com Lula que a solução para o conflito na Faixa de Gaza é o reconhecimento de dois estados: Israel e Palestina.
“Nós compartilhamos os mesmos objetivos, os mesmos valores e a mesma esperança para a humanidade”, afirma Mattarella, que ainda visitará Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Ele fica no país até sexta-feira (19).