Macron defende formação de coalizão ampla e “republicana” sem esquerda
Na primeira declaração após eleições, o presidente francês deu sinais de que não sentará a mesa com o partido de Jean-Luc Mélenchon, um dos vencedores do pleito
Publicado 11/07/2024 16:30 | Editado 12/07/2024 15:42
Na primeira declaração após as eleições legislativas que deram vitória a bancada da esquerda, a Nova Frente Popular (NFP, na sigla em francês), e que barraram a ascensão da extrema direita no país. Rejeitando a vitória expressiva da NFP, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou nesta quarta (10) que “ninguém ganhou” as eleições, destacando o fato de que nenhum partido conseguiu a maioria na Assembleia Nacional.
O mandatário demorou dois dias inteiros para quebrar o silêncio após o término do segundo turno, que deu a maioria relativa para a NFP, com 182 deputados, dos 577 no total. A coligação liderada pelo presidente francês, o Juntos, foi a segunda mais votada com 168 assentos conquistados, a frente do Reunião Nacional (RN, na sigla em francês), partido de extrema direita de Marine Le Pen, que assegurou 143 cadeiras.
“Nenhuma força política obteve sozinha uma maioria suficiente e os blocos e coalizões que emergiram dessas eleições são todos minoritários”, destacou o presidente. “Somente as forças republicanas representam uma maioria absoluta”, completou.
Ele disse ainda que o povo claramente rechaçou a chegada da extrema direita ao poder e que é preciso construir uma maioria sólida e plural.
A estratégia macronista pretende isolar o partido França Insubmissa (LFI, na sigla em francês), de Jean-Luc Mélenchon, a principal força política da NFP. Macron utiliza uma falsa equivalência para comparar a LFI e o RN.
Em uma carta ao povo francês, Macron pediu aos partidos tradicionais com “valores republicanos” que formem uma coalizão de governo e disse que espera escolher um primeiro-ministro de tal agrupamento.
“Depositaremos nossa esperança na capacidade de nossos líderes políticos de demonstrar bom senso, harmonia e calma em seu interesse e no interesse do país”, escreveu. “É à luz desses princípios que decidirei sobre a nomeação do primeiro-ministro”.
A menção de Macron aos “valores republicanos” é a senha de que o presidente francês não aceitará o resultado das eleições, e tentará boicotar a formação de um governo de esquerda.
“Macron tomou a decisão de dissolver a Assembleia Nacional. Decidiu sozinho e deve agora assumir as consequências. A lógica institucional ordena que ele nos chame [para formar o novo governo]”, rebateu Marine Tondelier, secretária nacional dos Ecologistas, um dos partidos da NFP.
Ainda na quarta, Mélenchon instou Macron a iniciar o processo de formação de um novo governo, consultando a coligação da esquerda sobre questões relacionadas à França na Otan.
“O homem que dissolveu a Assembleia Nacional não está chamando ninguém para formar um governo. É quarta-feira, há três dias que conhecemos o resultado das eleições”, afirmou Mélenchon. “Não há nenhum sinal de que haja qualquer intenção de dar início a uma resposta à situação”.