Meta recebeu ao menos R$ 500 mil por 4 mil anúncios de golpe

Segundo reportagem do UOL e análise da Netlab da UFRJ, anúncios geraram até 6,7 milhões de impressões nas redes da empresa

Foto: reprodução/Canva

Mais um fato evidencia a necessidade de regulação das redes sociais. A empresa Meta — dona do Facebook, Instagram e WhatsApp — já recebeu ao menos R$ 500 mil pela veiculação de pouco mais de quatro mil anúncios relativos a um golpe virtual que promete o pagamento de indenização por um suposto vazamento de dados por parte da Serasa. Os conteúdos são vídeos manipulados por inteligência artificial (IA) com imagem de políticos, inclusive do presidente Lula. 

Esses anúncios geraram até 6,7 milhões de impressões nas plataformas da Meta. Impressões são o número de vezes que um conteúdo é entregue a um usuário. As informações foram divulgadas pelo portal UOL, tendo como base análise feita pelo Netlab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

A veiculação foi verificada no início em janeiro e mesmo tendo havido denúncias de veículos de comunicação e agências de checagem, além de desmentido da Serasa, o golpe continuou sendo publicado na Meta. 

“Buscando compreender a persistência desse golpe e do uso de IA, coletamos na biblioteca da empresa anúncios relacionados à Serasa. A partir da análise dos conteúdos, identificamos 4.321 anúncios que veiculavam o golpe e que utilizam ferramentas de IA na produção do conteúdo”, diz relatório da Netlab. 

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O levantamento também destaca que foi identificado uso de figuras públicas de diferentes partidos para o golpe. “Todos os anúncios identificados veiculam golpes utilizando trechos de vídeos dos deputados Nikolas Ferreira, Sargento Fahur, Eduardo Bolsonaro e do presidente Lula, manipulados com uso de IA para enganar os consumidores”, afirma. 

Além disso, aponta o uso de páginas e perfis com “indícios de comportamento inautêntico” e sites criados para simular canais oficiais, e veículos de comunicação, como o do Ministério Público Federal e o SBT, entre outros. 

Foram identificados ao menos 67 páginas e perfis envolvidos nos golpes e 55 sites suspeitos identificados nos anúncios fraudulentos.

O relatório também salienta que o perfil estelionatário está entre os principais anunciantes da Meta, mesmo apresentando informações inconsistentes, “o que demonstra que não foi verificado” pela empresa.

Outro ponto colocado pela Natlab é que embora todos anúncios apresentassem golpes, a Meta não moderou 1.154 deles (26,7%). Outros 105 anúncios foram moderados por problemas relacionados aos “Padrões de publicidade” da Meta.

Em geral, as pessoas são induzidas a entrarem num site para verificar se têm direito à tal indenização e os golpistas cobram uma taxa para que supostamente o processo possa ir adiante. 

Os golpes se utilizam de uma informação de base verídica para enganar os internautas. Conforme lembra o UOL, em 2021, mais de 200 milhões de brasileiros tiveram seus dados expostos na internet e principal suspeita da origem do vazamento era a Serasa. Em dezembro de 2023, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação contra a empresa, mas o caso ainda não foi julgado. 

Sem avanços 

Enquanto isso, o projeto de lei que versava sobre a regulação das redes sociais (PL 2.630/20), relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), foi retirado da pauta da Câmara dos Deputados em abril por decisão do presidente Arthur Lira (PP-AL). Pouco depois, o parlamentar anunciou a criação de novo grupo de trabalho para tratar do tema. 

A decisão foi tomada na esteira das polêmicas envolvendo o dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, que fez comentários criticando o governo brasileiro e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Na ocasião, o empresário ídolo da extrema direita afirmou que não cumpriria determinações de Moraes e reativaria contas bloqueadas, desrespeitando ordens judiciais.

Em abril de 2023, a Câmara havia aprovado requerimento de urgência para votar a proposta diretamente no plenário. Em maio, quando a votação estava prestes a acontecer, as big techs e as bancadas alinhadas ao bolsonarismo pressionaram os parlamentares contra a proposta, que ficou parada até a recente decisão de Lira. 

(PL)

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