Bolsonaro guardou joias nos EUA e não em fazenda de Piquet, diz PF
Advogado do ex-presidente afirmou que ele havia guardado acervo no terreno do ex-piloto de Fórmula 1, em Brasília; investigação da Polícia Federal contradiz defesa
Publicado 10/07/2024 14:33 | Editado 10/07/2024 20:37
O inquérito da Polícia Federal (PF) que apura suposta apropriação indevida de joias da Arábia Saudita contradiz o ex-presidente Jair Bolsonaro e aponta que as peças não foram guardadas na fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, em Brasília, e sim nos Estados Unidos, onde seriam leiloadas.
A defesa de Bolsonaro, representada pelo advogado e ex-ministro da Comunicação Fábio Wajngarten afirmou, em abril de 2023, que o ex-presidente havia guardado seu acervo na fazenda de Piquet pouco antes do término do mandato.
No entanto, segundo o relatório da PF que investiga o caso, cujo sigilo foi retirado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda (8), as joias foram acervadas nos Estados Unidos.
“Conforme exposto, ao contrário da versão publicada em fontes abertas, os referidos objetos não estavam no Brasil, especificamente na localidade “Fazenda Piquet”, em Brasília (DF), mas sim nos Estados Unidos para serem alienados, fato que não ocorreu devido à ausência de lance no leilão ocorrido no dia 08/02/2023.”
O documento aponta como a “estratégia articulada pelos investigados” garantiu a versão falsa da história que colocava as joias recebidas de presente na Fazenda Piquet, do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. A narrativa foi contada em depoimento de mais de um investigado, mas derrubada na apuração policial.
O relatório cita que o conjunto “kit ouro rosê”, contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe e um relógio, recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, foi levado, pelo avião presidencial em 30 de dezembro de 2022, para os Estados Unidos. O item foi a leilão em Nova York, mas não foi arrematado.
“Posteriormente, após a tentativa frustrada de venda, e cientes da restrição legal de comercializar bens do acervo privado presidencial no exterior, somado à divulgação na imprensa da existência do referido kit, Mauro Cid, Marcelo Camara e Osmar Crivelatti organizaram uma ‘operação de resgate’ dos bens”, aponta o documento. Nesse momento, o grupo afirmava que o kit estava na Fazenda Piquet. Uma troca de mensagens entre Marcelo Camara, ex-assessor de Bolsonaro, e Mauro Cid mostra preocupação com uma possível vistoria no local. Após matéria da imprensa levantar a possibilidade de vistoria do Tribunal de Contas da União (TCU) no local, Camara escreve: “O problema é que essa matéria está falando que se o TCU quiser ir lá vai encontrar e não vai”.