Macron decide manter primeiro-ministro e paralisia política ameaça a França
Macron pediu a permanência do correligionário para “garantir a estabilidade do país” em meio aos Jogos Olímpicos. Coligação do presidente rechaça França Insubmissa
Publicado 08/07/2024 13:22 | Editado 08/07/2024 14:03
O presidente Emmanuel Macron negou nesta segunda (8) o pedido de demissão do primeiro-ministro, Gabriel Attal. Macron pediu a permanência do correligionário para “garantir a estabilidade do país”, anunciou o Eliseu.
Após a publicação das projeções do segundo turno, Attal foi à imprensa para comunicar sua saída do cargo de premiê.
“Esta noite, o partido político que representei nesta campanha (…) não tem maioria. Assim, fiel à tradição republicana e de acordo com os meus princípios, apresentarei amanhã de manhã a minha demissão ao Presidente da República”, declarou na escadaria do hotel Matignon, residência oficial do primeiro-ministro da França.
Attal chegou ao Palácio do Eliseu no fim da manhã desta segunda, e apresentou a carta de demissão ao presidente francês. Macron estava acompanhado por vários ministros de Estado, tal como Gérald Darmanin (Interior) e Stéphane Séjourné (Relações Exteriores), ambos reeleitos deputados na nova Assembleia Nacional.
O presidente justificou seu pedido alegando precisar garantir a estabilidade política na França em meio aos Jogos Olímpicos de Paris, que começam a partir do dia 26 de julho.
Neste domingo (7), o segundo turno das eleições legislativas deu uma vitória surpreendente a Nova Frente Popular (NFP, na sigla em francês), uma coligação de partidos e movimentos sociais de esquerda, com 182 cadeiras na Assembleia Nacional. A coligação liderada por Macron, o Juntos, a direita liberal classificada pelos grandes veículos de imprensa como “centro”, obteve 162 cadeiras, deixando de ter a maioria parlamentar.
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O Reunião Nacional (RN, na sigla em francês), partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen e seu pupilo Jordan Bardella, ficou com 143 cadeiras.
Nem um dos três blocos alcançou a maioria absoluta da Assembleia Nacional, o que deve colocar a França em um impasse político potencialmente perigoso.
Após o anúncio dos primeiros resultados deste domigo, o líder da França Insubmissa, principal partido da NFP, Jean-Luc Mélenchon, ordenou que Gabriel Attal “fosse embora” e declarou que o NFP deveria “governar”. “A derrota do presidente da República e da sua coligação está claramente confirmada. O presidente deve se curvar e admitir esta derrota sem tentar contorná-la de forma alguma”, sublinhou Jean-Luc Mélenchon.
A líder do partido Ecologista, Marine Tondelier, que também integra a NFP, disse que Macron “deveria ligar hoje” para esquerda “para solicitar o nome do novo primeiro-ministro”. Já o socialista Olivier Faure, por sua vez, esperava que a NFP “pudesse apresentar uma candidatura” para Matignon, a sede da Assembleia Nacional, “dentro de uma semana”.
Do lado macronista, o deputado eleito François Bayrou, líder do Movimento Democrático (MoDem, na sigla em francês), que integra o Juntos, a coligação presidencial, considerou “possível” construir uma maioria sem a França Insubmissa, de Mélenchon, considerada tão radical quanto a extrema-direita pela direita liberal.
A aposta do campo político liderado por Macron de que a Nova Frente Popular pode rachar para formar maioria com o Juntos foi rechaçada por Tondelier. “Aqueles que nos explicam que vão formar maioria sem a França Insubmissa não tiveram os mesmos professores de matemática que eu. Não vejo como isso é possível”, disse a líder dos Ecologistas.
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