Milhares tomam as ruas de Paris em protesto contra o avanço da extrema-direita
Frente de esquerda e grupo de Macron fazem pacto para isolar o Reunião Nacional após vitória inédita do partido de Marine Le Pen. Segundo turno será no próximo domingo (7).
Publicado 01/07/2024 10:13 | Editado 01/07/2024 15:55
Pela primeira vez na história, o Reunião Nacional (RN), partido de extrema-direita, venceu neste domingo (30), com 29,25% dos votos, o primeiro turno das eleições legislativas antecipadas na França pelo presidente Emmanuel Macron. A Nova Frente Popular (NFP), de esquerda, obteve 27,99% dos votos e a segunda colocação, e apelou para a formação de uma coalizão republicana para frear Marine Le Pen e Jordan Bardella no segundo turno, marcado para o próximo domingo (7).
Já o bloco da direita liberal liderado por Macron, o partido Renascimento (EN) minguou para 20,04% dos votos e obteve apenas o terceiro melhor resultado. Os Republicanos (LR), partido da direita tradicional, foram a quarta força do primeiro turno, confirmando seu declínio com 6,57% dos votos.
Após a publicação das estimativas logo após o encerramento das eleições, às 20h do horário de Brasília, dirigentes da NFP e do Renascimento apelaram para um novo cordão sanitário contra a extrema-direita.
O grupo de Macron anunciou, nesta segunda (1), que irá retirar do segundo turno todos os candidatos que ficarem em 3º lugar neste domingo. Em comunicado, o partido disse que as siglas não podem “deixar as chaves do país à extrema-direita” e que o Reunião Nacional é “uma ameaça inaceitável”.
Jean Luc Mélenchon, líder da coligação de esquerda, por sua vez, também afirmou que orientou para que os candidatos que ficaram em terceiro retirem suas candidaturas no próximo domingo. “Nem um voto, nem mais uma cadeira para o RN”, disse.
Uma grande manifestação tomou as ruas da capital, Paris, logo após a publicação das estimativas. O protesto foi convocado pela Nova Frente Popular e ocorreu na Praça da República, no centro da cidade.
A esquerda se une e vai às ruas para barrar o avanço da extrema-direita na França. O fascismo tem que ser combatido sem trégua! pic.twitter.com/IOb8AF29ht
— Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) June 30, 2024
Milhares de parisienses manifestam-se contra extrema-direita e pedem clarificação a Macron “Já não há, neste país, escapatória a uma escolha fundamental. É agora o momento: somos nós ou eles, não há nada no meio. E não estamos aqui só para fazer barragem, estamos aqui porque queremos mudar tudo”, exclamou Mélenchon.
Com bandeiras da coligação, da Palestina ou com o arco-íris representativo do movimento LGBT, milhares de manifestantes foram entoando cânticos como “não queremos fachos”, “somos todos antifascista”, “não passarão ” ou a música Bella Ciao.
As siglas disputam 577 cadeiras de deputados para a Assembleia Nacional, dissolvida por Macron no dia 9 de junho, após o resultado das eleições europeias. A França foi o país onde a extrema-direita mais cresceu depois da votação para o parlamento europeu.
Macron considerou necessária a dissolução do parlamento e a convocação de novas eleições legislativas, no que chamou de “tempos para esclarecimento” e que as ameaças a “coesão” da França exigem “clareza no debate”.
Hoje com 88 deputados, o RN pode alcançar entre 230 e 280 cadeiras da Assembleia Nacional. Para arrematar a maioria são necessários 289 assentos. Já a NFP pode obter entre 150 e 180 cadeiras. Atualmente, os partidos do bloco de esquerda somam 150 deputados.
A atual maioria do governo Macron deve cair dos atuais 250 deputados para algo entre 60 e 100, pondo fim ao breve gabinete do primeiro-ministro Gabriel Attal, 35, no poder desde janeiro.
Pelo sistema político da França, semipresidencialista, os eleitores elegem os partidos que vão compor o Parlamento. A sigla ou a coalizão que obtiver mais votos indica então o primeiro-ministro, que, no país europeu, governa em conjunto com o presidente — este eleito em eleições presidenciais diretas e separadas das legislativas e que, na prática, é quem ganha mais protagonismo à frente do governo.
Caso o presidente e o primeiro-ministro sejam de partidos políticos diferentes, a França entrará em um chamado governo de “coabitação”, o que ocorreu apenas três vezes na história do país europeu e que pode paralisar o governo de Macron. Isso porque, neste caso, o premiê assume as funções de comandar o governo internamente, propondo, por exemplo, quem serão os ministros.