Reformista tem vantagem sobre conservador nas eleições do Irã
A eleição teve a menor participação eleitoral para uma eleição presidencial desde que a República Islâmica foi estabelecida em 1979.
Publicado 30/06/2024 18:56 | Editado 01/07/2024 08:04
O candidato reformista Masoud Pezeshkian obteve a maioria dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais do Irã e enfrentará o conservador linha-dura Saeed Jalili em um segundo turno na próxima semana.
Nenhum dos quatro candidatos conseguiu mais de 50% dos votos na eleição de sexta-feira, levando a um segundo turno em 5 de julho. A eleição teve a menor participação eleitoral para uma eleição presidencial desde que a República Islâmica foi estabelecida em 1979.
Pezeshkian, legislador reformista, e Jalili, ex-negociador nuclear ultraconservador, que receberam a maioria dos votos, disputarão o segundo turno, de acordo com Mohsen Eslami, porta-voz do comitê eleitoral.
Pezeshkian liderou com 42,5% dos votos, seguido por Jalili com 38,6%, conforme reportou a agência de notícias estatal IRNA. Dos 60 milhões de eleitores elegíveis, 24 milhões votaram, resultando em uma participação de 40%, informou Eslami.
Os resultados serão revisados pelo Conselho Guardião, o poderoso órgão de 12 membros encarregado de supervisionar eleições e legislações, antes que os dois candidatos reiniciem suas campanhas.
Eleição antecipada
A eleição antecipada foi realizada após a morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero em 19 de maio, no remoto noroeste do país, juntamente com o ministro das Relações Exteriores Hossein Amir-Abdollahian e outros oficiais.
Dois conservadores retiraram suas candidaturas um dia antes das eleições para ajudar a consolidar o voto conservador em favor dos candidatos linha-dura.
Pezeshkian foi o único candidato reformista após dezenas de outros candidatos serem impedidos de concorrer pelo Conselho Guardião.
Apatia dos eleitores
O processo eleitoral iraniano tem sido marcado pela apatia dos eleitores recentemente, causando embaraço para um establishment que depende de alta participação eleitoral para reforçar suas credenciais democráticas e legitimidade popular.
O descontentamento nacional foi evidente na baixa participação eleitoral tanto em eleições parlamentares quanto presidenciais nos últimos anos. Enquanto o Irã se orgulha de uma participação eleitoral excepcionalmente alta, sua última eleição legislativa em março registrou a menor participação desde 1979, apesar dos esforços do governo para mobilizar os eleitores.
O Líder Supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei, pediu aos iranianos que votassem após ele próprio depositar seu voto na eleição na manhã de sexta-feira.
“Participação popular é parte da essência do estado, e a continuação da existência da República Islâmica e seu status no mundo estão ligados à participação do povo”, disse ele.
Masoud Pezeshkian
Os dois candidatos que competirão no próximo turno das eleições representam lados opostos do espectro político do Irã, e ambos já concorreram às eleições presidenciais sem sucesso no passado.
Ex-ministro da Saúde sob o presidente reformista Mohammad Khatami, Pezeshkian é cirurgião cardíaco e legislador. Ele ganhou destaque por sua postura contra a repressão aos protestos pró-democracia de 2009 e à violência perpetrada pela polícia moral em 2022, após a morte de uma jovem sob custódia policial por não cumprir o rígido código de vestimenta da República Islâmica para mulheres.
Pezeshkian perdeu sua esposa e um de seus filhos em um acidente de carro em 1994, e desde então tem se dedicado à política. Ele concorreu à presidência em 2013 e 2021, mas não conseguiu avançar. Aos 69 anos, Pezeshkian vem de uma família etnicamente mista – seu pai é azeri e sua mãe é curda, e o persa não é sua língua materna. Isso fortaleceu sua imagem entre as minorias do Irã, mas também o deixou vulnerável a ataques xenofóbicos de alguns opositores.
Saeed Jalili
Jalili é um linha-dura conhecido por sua postura inflexível em relação ao Ocidente. Ele é um conselheiro de segurança de longa data de Khamenei e ex-soldado do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) durante a guerra Irã-Iraque. Como principal negociador do acordo nuclear de 2015, ele liderou os esforços de Teerã para obter alívio das sanções em troca de controles em seu programa nuclear. Ele é descrito pela mídia iraniana como um “negociador firme e meticuloso que não fez concessões” durante as negociações nucleares.
Contexto político
As eleições ocorreram em um momento delicado para a República Islâmica, com o país envolvido em tensões crescentes com Israel e seus aliados ocidentais, desencadeadas pela guerra em Gaza e pelo avanço do programa nuclear iraniano.
A luta do Irã com os EUA deixou a economia em frangalhos, prejudicada por anos de sanções americanas, uma moeda local enfraquecida e alta inflação. Enquanto o Líder Supremo é o árbitro final para a maioria das decisões no Irã, o presidente eleito será a face da República Islâmica no exterior.
A eleição presidencial do Irã está sendo observada de perto por suas implicações tanto internas quanto externas, com o segundo turno prometendo ser decisivo para o futuro político do país.