Lula rejeita desvincular salário mínimo para conter “nervosismo do mercado”
Presidente voltou a criticar a taxa de juros a 10,5% ao ano e disse que “a inflação está controlada neste país”. Lula despistou sobre Galípolo na presidência do BC
Publicado 26/06/2024 12:00 | Editado 27/06/2024 17:41
Em mais um entrevista concedida à imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é preciso saber se precisa cortar ou aumentar a arrecadação e que não irá desvincular o salário mínimo. Lula ainda elogiou Gabriel Galípolo mas evitou dar pistas sobre a indicação do diretor do Banco Central para a presidência da autoridade monetária.
As declarações ocorreram em entrevista ao UOL, na manhã desta quarta (26). Ao ser questionado sobre quais cortes o governo deverá fazer, Lula afirmou que ainda analisa se eles serão necessários.
“Nós estamos fazendo uma análise de onde é que tem gasto exagerado, onde é que tem gasto que não deveria ter, onde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo”, disse o presidente.
Lula acrescentou: “Isso com muita tranquilidade, sem levar em conta o nervosismo do mercado, levando em conta a necessidade de manter política de investimento”.
O presidente da República afirmou que vai continuar investindo em Educação e Saúde, e disse que esses gastos podem melhorar a produtividade nesses setores. Em seguida, questionou “se precisa cortar” gastos.
“O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar, ou se a gente precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, declarou.
O presidente também citou outros países desenvolvidos que, segundo números apresentados por ele, gastam mais que o Brasil, e afirmou que o seu governo aplica valores menores em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). “O Brasil está muito aquém dos gastos que outros países fazem”, disse Lula.
“Nós precisamos saber se o gasto está sendo bem feito, se vai melhorar futuro do País. Acho que está”, afirmou.
Salário mínimo
Perguntado sobre se o governo pretende promover a desvinculação do piso das aposentadorias, pensões e outros do benefícios do salário mínimo, Lula negou e disse que se fizesse isso ele “não vai pro céu, ficaria no purgatório”.
“Eu garanto que o salário mínimo não será mexido enquanto eu for presidente da República”, disse.
Lula afirmou que dar aumento real do salário mínimo não é gasto. “Não considero isso um gasto”, disse ele ao ser questionado se pretendia impedir que o reajuste das pensões previdenciárias e do BPC — pagamento de um mínimo a deficientes e ao idoso com 65 anos ou mais — respeitasse a correção inflacionária e o aumento do PIB.
Para Lula, a solução para resolver a equação entre arrecadação e gastos não passa pelas camadas de rendas mais baixas.
“Eu não posso penalizar a pessoa que ganha menos. [Dizem] ‘Ah, mas é tantos trilhões de reais’…mas são quantos milhões de pessoas? Ora, tantos trilhões para muita gente”, justificou Lula sobre a sua posição no tema.
Mais adiante, o presidente tornou a tratar do assunto e, novamente, enfatizou:
“Não é possível [desvincular benefícios previdenciários do salário mínimo] porque eu não considero isso como um gasto”, afirmou.
“Pelo amor de Deus, a palavra salário mínimo é o mínimo que uma pessoa precisa para sobreviver. Ora, se eu acho que eu vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo eu tô desgraçado…eu não vou pro céu…eu ficaria no purgatório”, emendou, então, Lula.
Banco Central e a taxa Selic
O presidente aproveitou para repetir críticas aos integrantes do mercado financeiro e integrantes do Banco Central que optaram por paralisar os cortes na taxa básica de juros do País.
“A pergunta que eu faço é: o Banco Central tem necessidade de manter em 10,5% a taxa de juros enquanto a inflação está a 4%? O Banco Central leva em conta que as pessoas estão tendo dificuldades de fazer financiamento? O cara não pode só cuidar da inflação…o BC vai ter um plano de meta de crescimento que diga que vai controlar a inflação, mas vamos crescer?”, iniciou.
“Você acha que a Faria Lima tem alguém que quer mais o bem do Brasil do que eu? Alguém que tem interesse em melhorar a vida do povo mais do que? Vocês acham que quando eles estão discutindo aumento da taxa de juros eles estão pensando no cara que está dormindo embaixo de uma ponte, na sarjeta ou no cara que está morrendo de fome? Não pensam, pensam no lucro”, disse
Lula ainda elogiou o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo. Para o presidente, Galípolo é um nome “altamente preparado”, mas ainda não quis adiantar a discussão sobre sua indicação para a presidência da autarquia.
“O Galípolo é um companheiro altamente preparado, conhece muito do sistema financeiro”, disse.
“Eu ainda não estou pensando na questão do Banco Central. Vai chegar um momento em que eu vou pensar e indicar um nome para que seja presidente do Banco Central – e nao venham com chorumela, porque eu fui presidente oito anos, tive presidente do Banco Central e o [Henrique] Meirelles tinha total autonomia, porque eu não preciso de uma lei para dizer que tem autonomia, eu preciso respeitar a função do Banco Central”, afirmou.
Ao ser perguntado sobre a reunião em que o diretor do BC teve com Lula nesta terça (25), o presidente afirmou que o tema da reunião era sobre a meta inflacionária. “O Galípolo veio aqui para uma reunião em que a gente estava discutindo a meta inflacionária, e a gente manteve a meta que tinha, a novidade foi estabelecer a meta contínua”, afirmou.