Vice de Nunes defendeu abordagem policial diferente nos Jardins e periferia

Declaração de Mello Araújo foi dada ao UOL em 2017 quando ocupava o comando da Rota em SP. Anúncio de Nunes revela sua dependência com a extrema-direita

Araújo Mello, comandante da Rota - Reprodução de vídeo

Apesar de tentar mascarar suas alianças com a extrema-direita, o prefeito da capital paulista Ricardo Nunes (MDB) anunciou na última sexta (21) o coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL) para vice-prefeito na chapa que busca a reeleição.

Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) tem um histórico de defesa de pautas e pontos de vista identificados com a extrema direita, especialmente no que se refere à atuação das polícias.

Em 2017, assim que assumiu o comando da Rota, Araújo defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.

“A gente pega um policial que trabalha numa área de periferia e um que trabalha nos Jardins. Já muda. Nos Jardins, a forma como ele vai lidar com a comunidade ou com as pessoas que transitam por lá é totalmente diferente do policial que trabalha na periferia. Se ele for abordar uma pessoa da mesma forma que abordaria aqui nos Jardins, ele vai ter dificuldades. Não vai ser respeitado. Da mesma forma, se eu coloco um da periferia para lidar, falar com a mesma linguagem aqui nos Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com a pessoa dos Jardins ali, que está andando”, declarou Mello, em entrevista para o UOL.

Nunes pretendia empurrar a escolha do vice até o limite permitido pela lei eleitoral, dia 5 de julho deste ano, para tentar dissuadir Bolsonaro da indicação de Araújo. Porém, a entrada e ascensão do coach Pablo Marçal (PRTB) na corrida eleitoral de São Paulo acelerou a decisão.

Marçal forçou a aproximação com bolsonaristas insatisfeitos com Nunes e chegou a ser recebido por Jair Bolsonaro em Brasília. A movimentação do coach teria preocupado a equipe do prefeito, que teria ficado receosa de perder a aliança com a extrema direita e, então, acelerou a aproximação com Mello Araújo.

O deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), afirmou que a indicação de Bolsonaro revela que o ex-presidente quer mandar na cidade.

“Deixa claro [a escolha] que é Jair Bolsonaro quem vai mandar na cidade caso o prefeito seja reeleito”, diz Boulos. “O nome do policial foi enfiado goela abaixo de Nunes e seus aliados e é assim que vai ser nos próximos quatro anos se deixarmos São Paulo se transformar numa filial da milícia. Em troca de apoio eleitoral, Nunes é capaz de tudo. Tenho certeza de que o povo não vai deixar que o negacionismo e o ódio bolsonaristas ponham as mãos sobre a maior cidade do Brasil”, afirmou o parlamentar.

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