BC reforça conservadorismo e mantém Selic em 10,50%
Ao que tudo indica, houve um conluio. Para agradar ao mercado, os quatro nomes indicados por Lula votaram, sim, a favor da austeridade, e não do País.
Publicado 19/06/2024 21:17 | Editado 21/06/2024 09:02
Acabou o breve ciclo de cortes na taxa básica de juros do Brasil. Nesta quarta-feira (19), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a Selic em elevadíssimos 10,50% ao ano, interrompendo uma trajetória de sete quedas seguidas.
A despeito dos alertas disparados especialmente pelo presidente Lula – que lembrou os impactos de juros tão altos para economia brasileira –, o BC frustrou o Brasil ao reforçar uma postura conservadora absolutamente inexplicável. Para piorar, a decisão do colegiado foi tomada por unanimidade.
Com a manutenção da Selic num percentual de dois dígitos, o Brasil permanece como o segundo País (entre 40) com a segunda maior taxa de juros reais do mundo, atrás apenas da Rússia – que está às voltas com a guerra na Ucrânia. O índice brasileiro é de 6,79%, e o russo, de 8,91%. Para calcular o valor, divide-se a taxa básica de juros pela inflação.
O mercado chegou a especular que a Selic poderia terminar 2024 em 9% ao ano, o que, a esta altura, se torna improvável, quase impossível. Sob a liderança do bolsonarista e ultraliberal Roberto Campos Neto, a tendência é de que novas quedas só ocorram em 2025, quando Lula já tiver indicado o novo presidente do BC.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, apontou o Copom após a decisão. Cabe a pergunta: por que membros do Copom indicados por Lula toparam tamanha concessão?
Conforme o comunicado do colegiado, o ambiente externo é desfavorável”, dada a “incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos”. Os tecnocratas também alegaram que é preciso observar a “velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”.
Ao que tudo indica, houve um conluio. Para agradar ao mercado, os quatro nomes indicados por Lula votaram, sim, a favor da austeridade, e não do País. Em troca, os aliados de Campos concordaram em centrar as críticas no risco de alta de inflação no Brasil – mas não atribuir a medida fundamentalmente a supostos desajustes na economia brasileira.
Assim o colegiado se pronunciou: “A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Pesquisa do instituto Ipsos apontou que, para 69% dos brasileiros, os juros contribuem muito para o aumento da inflação. Lula e as centrais sindicais toparam ir para essa disputa contra Campos. É preciso mais pressão para conter esse ataque contra os interesses populares e nacionais.