Ajuda humanitária entra em Gaza com pausa diária
Anúncio atrai críticas de ala da extrema direita e Netanyahu sugere não ter sido avisado. Analistas apontam que premiê planejou anúncio para público externo e doméstico
Publicado 17/06/2024 11:29 | Editado 17/06/2024 13:15
Mesmo desautorizado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o exército israelense colocou em prática, nesta segunda (17), pela primeira vez desde o início do conflito, a “pausa tática diária” para a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.
Caminhões transportando ajuda humanitária foram vistos passando pela passagem de Kerem Shalom, no sul de Israel, nesta segunda, um dia depois de os militares anunciarem que implementariam o plano.
Num terreno próximo, no lado israelense da fronteira, dezenas de caixotes contendo ajuda – na sua maioria produtos alimentares como cebolas, cogumelos enlatados, arroz e bananas – aguardavam para serem colocados em caminhões para serem transferidos na fronteira para organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas e outros parceiros que operam no terreno em Gaza.
No domingo (16), Netanyahu disse ser “inaceitável” a pausa diária anunciada pelas FDI (Forças de Defesa de Israel).
“Quando o primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu] ouviu pela manhã os relatos de uma pausa humanitária de 11 horas, voltou-se para o seu secretário militar e deixou claro que isto era inaceitável para ele”, disse um funcionário do gabinete do premiê israelense à Reuters.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, líder do partido de direita Otzma Yehudit, afirmou em post no Telegram que o responsável pela decisão da trégua é um “tolo” e deveria perder o cargo. Disse ainda que a pausa não foi comunicada ao gabinete do primeiro-ministro.
“Quem decidiu uma ‘trégua tática’ com o objetivo de uma transição humanitária, especialmente numa altura em que bons soldados estão morrendo em batalha, é um malvado e um tolo que não deveria continuar no cargo. Infelizmente, essa medida não foi apresentada ao gabinete e não condiz com as nossas decisões”, declarou Ben-Gvir.
À divulgação do primeiro anúncio do Exército em inglês, e do outro em hebraico, seguiu-se uma declaração do governo sugerindo que Netanyahu só soube do plano militar por meio da imprensa, sinalizando sua desaprovação.
Analistas ouvidos pelo The New York Times, no entanto, afirmam ser provável que o premier não só estava ciente do plano como também da divulgação das mensagens em duas línguas diferentes, com a primeira voltada ao público externo e, a segunda, ao doméstico — enquanto é pressionado pelos EUA e outros países sobre o conflito, o premier depende de sua coligação para manter-se no poder.
“É o clássico Netanyahu”, disse ao diário americano Amos Harel, analista de assuntos militares do jornal israelense de esquerda Haaretz. “Ele tem uma máscara para cada ocasião. Para os americanos, precisa mostrar que está fazendo mais para conseguir ajuda [a Gaza]. Para o público israelense, ele pode dizer ‘eu não sabia’ e optar por uma negação plausível”, disse Harel.
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