Cida Pedrosa faz história ao receber prêmio literário Guerra Junqueiro

Poeta, vereadora e advogada pernambucana celebra reconhecimento internacional e publicação inédita de sua obra em Portugal, destacando a união cultural lusófona.

Cida Pedrosa é a primeira mulher brasileira a receber o Prêmio Guerra Junqueiro - Lusofonia, uma honraria concedida pelo município português de Freixo de Espada à Cinta | Foto: Ascom

A poeta, vereadora e advogada pernambucana Cida Pedrosa foi agraciada com o Prêmio Literário Guerra Junqueiro – Lusofonia, na última sexta-feira (14). A premiação, organizada pelo município português de Freixo de Espada à Cinta, celebrou sua quarta edição, e Cida foi a representante brasileira de 2023. A cerimônia de entrega ocorreu no auditório governador Eduardo Campos, na sede da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), em Recife.

A distinção, que homenageia autores de países de língua portuguesa, garantiu à escritora um troféu e a publicação de um de seus livros em Portugal, um marco inédito em sua carreira. “Fiquei muito feliz, principalmente porque a pessoa é escolhida por uma comissão, você não se candidata”, declarou Cida Pedrosa, destacando a importância do reconhecimento. “Isso é maravilhoso”, celebrou.

O prêmio homenageia Abílio Manuel Guerra Junqueiro (1850-1923), poeta português natural de Freixo de Espada à Cinta. Segundo Cida, “dar o nome do escritor ao prêmio é bacana porque, além do reconhecimento à obra da autora e do autor vivo, é uma forma de deixar viva a memória do autor que já morreu, pois sua obra passa a circular também”.

Instituído em 2017, o Prêmio Guerra Junqueiro é concedido a autores lusófonos desde 2020. No Brasil, os primeiros homenageados foram os cearenses Sidney Rocha (2020), Abraão Bezerra Batista (2021) e Ronaldo Correia de Brito (2022). Radicado no Recife, Ronaldo Correia de Brito recebeu seu troféu na mesma solenidade que Cida Pedrosa. “O prêmio na lusofonia pretende ser um contributo para um movimento criador de uma união cultural lusófona e fazer da literatura responsável por todos sermos cidadãos do mundo”, afirmou Avelina Ferraz, curadora do evento.

Cida Pedrosa, natural de Bodocó, é a primeira pernambucana a conquistar o Prêmio Guerra Junqueiro. Com 11 livros publicados, a poeta venceu o Prêmio Jabuti-2020 nas categorias Poesia e Livro do Ano com “Solo para Vialejo”, editado pela Cepe em 2019. Também pela Cepe, lançou “Estesia” (2022) e “Gris” (2018), e prepara uma nova edição de “Claranã” para este ano. Seu mais recente trabalho, “Araras Vermelhas” (Companhia das Letras, 2022), foi finalista do Jabuti-2023 e venceu o prêmio de melhor livro de poesia de 2022 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Além de Cida, outros autores foram laureados na edição 2023 do Prêmio Guerra Junqueiro, incluindo José Ramos Horta (Timor Leste), Mário Cláudio (Portugal), José Luís Mendonça (Angola), Odete Costa Semedo (Guiné Bissau), Inocência Mata (São Tomé e Príncipe), Daniel Medina (Cabo Verde), Laureano Nsue Nguema Mibuy (Guiné Equatorial) e Paulina Chiziane (Moçambique).

Em entrevista ao Portal Vermelho, Cida Pedrosa diz que o reconhecimento é um marco em sua carreira literária, consolidando sua trajetória de mais de 40 anos dedicada à poesia. Ela vê o prêmio como uma celebração de sua jornada árdua na literatura e um incentivo para continuar contribuindo para a união cultural entre os países de língua portuguesa. Confira abaixo.

Como você se sente ao ser a primeira brasileira a receber o Prêmio Literário Guerra Junqueiro?

“Bom, a gente sempre, quando é premiado, pensa assim, por quê? E aí eu sempre penso que eu tô há 40 anos na labuta literária. Há mais de 40 anos que eu publiquei a primeira vez, em 1982, mas eu já escrevia antes disso. E tô sempre nessa tarefa árdua de batalhar a palavra, porque a palavra, a gente pensa que ela é simples, mas não é. É um trabalho de bordado, de muito, muito cuidado. Eu tenho um cuidado com a poesia. E acho que esse prêmio agracia essa jornada a que me entreguei de corpo e alma, que é a entrega de uma vida à poesia.”

O que significa para você ter um dos seus livros publicado em Portugal pela primeira vez?

“Estou muito feliz. Eu tenho poemas, contos publicados em antologias de vários lugares do mundo. Mas eu nunca tive um livro inteiro publicado [fora do Brasil]. E quebrar as fronteiras em papel, porque via internet você já quebra naturalmente, é uma nova etapa da minha carreira literária e eu estou feliz com isso.”

Como foi receber essa notícia de forma inesperada? Ou você estava esperando?

“Não, não estava esperando. Eu já conhecia o prêmio, mas não estava esperando ser escolhida. É sempre muito grato e feliz. Divido este prêmio no mundo da palavra portuguesa com escritores e escritoras que prezo muito, incluindo vencedores do Nobel da Paz e Nobel de Literatura, e isso deixa a gente muito honrada. Então eu não vou só no mundo.”

Qual a importância de prêmios como o Guerra Junqueiro para a literatura lusófona e para a união cultural entre os países de língua portuguesa?

“Acho que esse prêmio tem o caráter de unir os países de língua portuguesa. Tudo que as pessoas possam fazer em prol de juntar a língua portuguesa do ponto de vista cultural é muito importante e fico feliz com isso.”

O que você acha da representatividade feminina na literatura lusófona hoje, e como se sente contribuindo para essa representatividade?

“Temos grandes nomes consagrados, alguns que já partiram, outros em plena atividade literária. Em Portugal, eu diria, que a literatura das Marias que escreveram as novas cartas marianas, elas são uma referência na literatura para mim, além de Florbella, de Judite, que já estão no céu dos poetas no Brasil. A gente tem, desde que já partiram, como temos a Adélia Prado, que é uma referência enorme, a Adelaide Ivanova, uma jovem poetisa, mas que tá numa luta linda pela palavra. Eu tenho uma felicidade enorme de ver que as mulheres estão sendo mais publicadas e que a luta das mulheres pelo espaço dentro dos espaços culturais, ficou muito espaço nessa resposta, dentro dos espaços culturais tem surtido efeito. Nós ainda somos no Brasil apenas 30% daquelas que estão sendo publicadas. Precisamos melhorar esse ranking porque tem muita mulher escrevendo.”

Quais são os seus próximos projetos literários, especialmente após receber esse reconhecimento internacional?

“Estou com um livro pronto, contratado com a Companhia das Letras, que é um livro de poesias de memória até os 10 anos de idade. Também tenho um projeto para um longo poema, que esse eu não quero falar muito porque ele ainda é muito embrionário. Mas esse livro novo, ele está praticamente pronto e vai sair em 2025. A Cepe, companhia editora de Pernambuco, no qual eu estou aqui pra receber meu prêmio, está lançando a segunda edição de um livro que eu gosto muito, o ‘Claranã’, que vai sair agora em julho, que é um livro escrito todo em métricas de gênero de cantoria, uma brochura belíssima, e estou muito feliz com isso.”

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