Macron dissolve Assembleia Nacional na França após vitória da extrema-direita
O presidente francês fez o anúncio após derrota retumbante de seu partido nas eleições para a UE. O partido de Le Pen obteve o dobro dos votos da candidata de Macron
Publicado 10/06/2024 11:26 | Editado 11/06/2024 17:58
O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou a dissolução da Assembleia Nacional, após a vitória retumbante da extrema-direita do país nas eleições europeias, neste domingo (9). A lista do Reunião Nacional, do cabeça de chapa e presidente do partido, Jordan Bardella, obteve cerca de 31,4% dos votos, enquanto o partido de Macron obteve 14,6%.
Neste domingo, cerca de 49,5 milhões de franceses foram às urnas para escolher 81 eurodeputados que representarão o país no parlamento da União Europeia pelos próximos cinco anos. A França faz parte do conjunto de potências do continente que viram a extrema-direita avançar com bastante vigor.
“São tempos para esclarecimentos” disse Macron, em discurso transmitido no palácio do Eliseu. O francês classificou a extrema-direita como “nacionalistas e demagogos” e alertou sobre os perigos decorrentes de sua ascensão, não apenas “para nossa nação, mas para toda a Europa.”
“Hoje, os desafios a frente, sejam os perigos externos, as alterações climáticas e suas consequências, ou a ameaça à nossa própria coesão, estes desafios exigem clareza em nosso debate”, disse.
🇫🇷 DISCURSO LEGENDADO: Macron dissolve Parlamento francês após derrota pra a extrema-direita nas Eleições Europeias.
— Eixo Político (@eixopolitico) June 9, 2024
Ele afirmou que a decisão foi difícil, mas necessária para dar uma resposta à “ascensão dos nacionalistas e demagogos”, que ele considera um perigo tanto para a… pic.twitter.com/FeAAMezG71
“A extrema-direita é ao mesmo tempo o empobrecimento dos franceses e o desmantelamento do nosso país. Então, no final do dia, eu não poderia fingir que nada aconteceu”, declarou Macron.
“É por isso que depois de ter realizado as consultas previstas no artigo 12 da nossa Constituição, eu decidi te devolver a escolha do nosso futuro parlamentar através da votação. Portanto, eu dissolvo nesta noite a Assembleia Nacional. Vou assinar em alguns momentos o decreto de convocação e eleições legislativas cujo 1º turno será realizado em 30 de junho e o 2º turno em 7 de julho”, anunciou o presidente.
A decisão de Macron gerou uma série de reações políticas dentro da França. A líder do Reunião Nacional, Marine Le Pen, disse que a extrema-direita está pronta para assumir o poder, enquanto o líder da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, convocou uma frente ampla contra os neofascistas.
“Estamos prontos para exercer o poder se os franceses confiarem em nós nas próximas eleições legislativas”, assegurou Marine Le Pen, cujo partido lançaria Jordan Bardella como candidato a primeiro-ministro.
Bardella, de 28 anos, obteve uma vitória elástica sobre a candidata governista Valérie Hayer, que somou 14,6% dos votos deste domingo. O resultado do RN, um dos melhores de sua história, confirma também os esforços de Le Pen, para alçar ao poder o antigo Frente Nacional (Front National), que herdou em 2018 de seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas.
A grande vitória de Bardella antecipou os planos do RN que através do seu vice-presidente do partido, Sébastien Chenu, anunciou, nesta segunda (10), que o eurodeputado será o candidato do seu partido ao cargo de primeiro-ministro na França.
“Jordan Bardella foi eleito deputado europeu, portanto já tem a unção popular” e “é o nosso candidato para ir para Matignon”, nome da residência oficial do primeiro-ministro, declarou à imprensa.
Do outro lado do espectro político, o líder do Partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, deu razão a decisão de Macron em dissolver o legislativo e afirmou que o presidente não possui mais legitimidade para governar.
“Quando somos rebeldes, não tememos o povo. Pelo o contrário”, disse o líder França Insubmissa, na noite de domingo. “Ele já não tem legitimidade para continuar a sua política. Já não tem legitimidade para continuar o sistema de maus-tratos sociais generalizados em que está envolvido”, declarou.
Seu correligionário, François Ruffin, deputado da França Insubmissa na Assembleia Nacional dissolvida por Macron, apelou às forças de esquerda para “apoiarem uma barreira comum” que seria chamada de “Frente Popular”. “Somos capazes de uma onda, podemos vencer”, garante. Manon Aubry, chefe da lista La France Insoumise para as eleições europeias, declarou que “o Presidente da República tomou nota esta noite da sua derrota contundente”.
Dos 81 assentos, o partido Reunião Nacional (Rassemblement National, em francês) ficou com 30 lugares, de acordo com estimativas realizadas pela consultoria Verian. Já a lista apoiada pelo partido de Macron, o Renascimento (Renaissance, em francês), contabilizou 13 cadeiras em Bruxelas, mesmo número alcançado pelo partido Socialista que obteve 13,8% dos votos, segundo as projeções.
Os resultados preliminares indicam que a bancada francesa será distribuída da seguinte forma:
- Reunião Nacional: 30 lugares (31,4%)
- Renascimento: 13 lugares (14,6%)
- Socialistas: 13 lugares (13,8%)
- Insubmissos: 9 lugares (9,9%)
- Republicanos: 6 lugares (7,3%)
- Ecologistas: 5 lugares (5,5%)
- Reconquista: 5 lugares (5,5%)
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