O Vasco moribundo e “os últimos 20 anos”

A goleada sofrida contra o Flamengo não foi acidente de percurso. Tampouco foi fruto dos “últimos 20 anos”, como diz quem quer encobrir responsabilidades.

A goleada sofrida no último domingo não foi um acidente.

O Vasco vive uma tragédia grega, na qual o Almirante é assassinado em cada ato da peça. A última cena foi a goleada histórica para nosso principal rival.

É importante que sócios e torcida entendam o que está acontecendo e parem de repetir chavões, entre eles: “o Vasco está mal há 20 anos”, uma meia-verdade que encobre uma grande mentira.

Viver fases longas de crises esportivas e financeiras (coisa que todo grande clube já passou) é muito distante, infinitamente distante, de perder sua essência e sua alma, que é justamente o que está acontecendo, sendo esse fenômeno a antessala da extinção.

O grupo do ex-presidente Jorge Salgado, assumiu as rédeas totais do poder vascaíno em 2021 garantindo não só que o Vasco era totalmente viável como afiançando ter soluções financeiras encaminhadas para viabilizar um futuro de vitórias e conquistas para o futebol e os demais esportes.

Na verdade, o grupo político de Jorge Salgado comandava as finanças vascaínas desde maio/junho de 2018, quando aderiu à gestão do então presidente Alexandre Campello, sempre com o mesmo discurso de “saneamento das finanças” e promessas de um futuro melhor.

Quando Salgado assume a presidência em 2021, eu fui o primeiro, ou pelo menos um dos primeiros, a fazer o alerta e, portanto, a desmascarar a mentira: “o plano de Salgado e sua turma é vender o Vasco”, declarei na ocasião.

Por conta disso, mas usando falsos pretextos, a medida inaugural da gestão Jorge Salgado foi propor minha expulsão do clube, o que em um primeiro momento ele conseguiu, através de um Conselho Deliberativo totalmente dominado por seu grupo, porém, depois a expulsão imotivada foi revertida pela justiça.

A gestão Salgado foi, inegavelmente a pior em 126 anos de CRVG. Retirou o funcionamento administrativo de São Januário, distanciando o Clube de suas raízes na Barreira, acabou com quase todos os esportes amadores, demitiu mais de 140 funcionários em plena pandemia sem pagar qualquer direito trabalhista, montou um time que ficou em 10º lugar na série B, sendo a primeira vez que o Vasco não voltava à série A depois de cair, e finalmente vendeu o clube na xepa.

Hoje, cada vez mais toma-se consciência do que foi a venda do futebol vascaíno para a 777 Partners.

Nenhum outro clube do Brasil vendeu seu futebol com contrato secreto e provavelmente isso tenha sido inédito no mundo.

Afinal, não se vende nem uma bicicleta sem conhecer as condições da venda, mas teve gente que aceitou vender o futebol vascaíno desta forma, ao mesmo tempo afirmando um suposto amor ao Vasco. Parece que amam mais suas bicicletas.

Não estou, por óbvio, me referindo ao sócio ou ao torcedor comum, que foi levado ao desespero e enganado pelo discurso, hoje desmascarado, do “Vasco bilionário”. Meu alvo é a cúpula política (diretores e conselheiros) que sabia perfeitamente o que estava fazendo.

Para que o leitor tenha uma ideia de como essa operação foi um crime de lesa-Vasco, um vazamento de parte do contrato secreto revelou que toda a base do futebol foi adquirida por R$ 44 milhões, sendo que pouco tempo depois a 777 Partners vende Andrey, uma joia formada pelo Clube, por R$ 153 milhões. Muitos outros detalhes escabrosos poderiam ser expostos aqui, mas faltaria espaço.

As advertências feitas contra a venda foram ignoradas ou rechaçadas por uma massacrante avalanche midiática.

E a 777 Partners, que segundo Jorge Salgado e sua turma, era sólida e rica, entra em processo pré-falimentar menos de dois anos após comprar o futebol do Vasco, ameaçando a própria existência do Clube.

Diante disso, surge um questionamento natural: os que venderam o futebol vascaíno defendiam os interesses do clube, ou outros interesses?

Até para a preservação do nome dos que capitanearam a venda do futebol, seria importante que o contrato fosse aberto para o escrutínio de sócios e torcedores, inclusive com a divulgação de quem recebeu os quase 30 milhões de reais de comissão pela venda.

O saldo da venda do futebol vascaíno? As principais promessas da base rapidamente vendidas e vexames sucessivos em campo.

A venda do time para uma empresa picareta, cair para a segunda divisão e lá permanecer, ser eliminado do carioca levando baile de time pequeno e ver o Vasco humilhado por nosso principal rival, foram descalabros que aconteceram nos últimos quatro anos e não “nos últimos 20 anos”.

Não situar corretamente as coisas no seu tempo devido é querer acobertar responsabilidades. Os culpados pelos desastres têm nomes e sobrenomes conhecidos.

Por isso fico espantado com “protestos da torcida” que colocam funcionários na mira e silenciam sobre os verdadeiros responsáveis. São silêncios que não têm nada de inocentes.

O atual presidente do Vasco, senhor Pedro Paulo de Oliveira (conhecido como Pedrinho nos tempos de jogador), apoiou toda a malfeitoria da venda do futebol e foi o candidato de Jorge Salgado à sucessão, contudo, agora toma a medida correta de buscar afastar a 777 Partners do comando, o que, por enquanto conseguiu, para a nossa alegria.

Mas não basta afastar a 777. É preciso reencontrar o verdadeiro espírito cruzmaltino, hoje enxovalhado e prostituído, e para que isso aconteça o Vasco deve ser passado a limpo.

Foi com coragem e luta que os vascaínos, ao longo de nossa centenária trajetória, defenderam a dignidade e a honra do clube, valores que não têm preço.

Entretanto, coragem não se pede emprestado e luta não é tarefa que se terceirize.

Sócios omissos e torcida passiva não salvarão o Vasco de nada.

Já passou MUITO da hora de sócios e torcida despertarem para o fato de que está em curso um projeto de destruição do Vasco, que só terá freio com a mobilização e união dos verdadeiros cruzmaltinos.

Essa união e mobilização dos vascaínos não significa incitação à depredação ou violência, mas pressão massiva e constante, dentro e fora dos estádios, exigindo:

1 – Que o Vasco não seja revendido;

2 – Que os dirigentes eleitos assumam de fato compromissos com a grandeza do Clube ou renunciem coletivamente aos seus cargos;

3 – A expulsão dos que eventualmente cometeram crimes de lesa-Vasco, com apuração feita por quem não participou do processo da venda e com amplo direito de defesa.

Estou convicto de que ou os sócios e torcedores trilham esse caminho ou dias ainda piores virão.

Um dos instrumentos para essa luta pode ser o Movimento Vasco do Povo (MVP), que tem como presidente de honra o grande Martinho da Vila.

Não adianta nada ganhar título de “torcida mais leal” se nossos cânticos servirem apenas para embalar o cortejo fúnebre do Almirante.

Que os espíritos guerreiros de pioneiros como Cândido José de Araújo, José Augusto Prestes e Cyro Aranha iluminem os vascaínos, fazendo-os compreender que o amor sem atitude é apenas uma proclamação vazia.

Fonte: Pega na Geral

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