Greve em defesa da educação e da valorização profissional

“Reconhecer nossa greve e atender as reivindicações dos nossos trabalhadores é defender um projeto de educação pública que seja inclusivo, democrático e de qualidade”. Leia artigo de Herivelton Ferraz, servidor da UFMG

Laboratório da Nupad integra a rede da UFMG dedicada ao diagnóstico de covid-19 Arquivo Nupad/UFMG

Nos últimos anos, as universidades e institutos federais do Brasil têm enfrentado uma série de desafios que vão além das questões orçamentárias. Nossa greve, como técnicos administrativos em educação, frequentemente levanta questões fundamentais sobre o modelo educacional que estamos construindo e como ele reflete (ou não) as aspirações de uma educação pública, democrática e de qualidade.

Salários e condições de trabalho

Nós, técnicos administrativos, somos essenciais para o funcionamento das universidades e institutos federais. Garantimos a execução de muitas atividades vitais para a vida acadêmica, desde a administração de recursos até o apoio direto aos estudantes e professores. No entanto, somos frequentemente relegados a segundo plano, recebendo os piores salários no Poder Executivo. Esse cenário não só desvaloriza nossa profissão, mas também compromete a qualidade do serviço prestado.

Além disso, a questão do assédio moral dentro das universidades agrava ainda mais a situação. Muitos de nós sofrem assédio moral, frequentemente praticado por docentes, o que cria um ambiente de trabalho hostil e prejudica nossa saúde mental e bem-estar. Esse tipo de abuso de poder não pode ser tolerado e precisa ser combatido com firmeza.

A greve, portanto, emerge como uma forma legítima de luta por melhores condições de trabalho e remuneração justa. Quando reivindicamos salários dignos e um ambiente de trabalho livre de assédio, estamos também lutando por uma universidade mais eficiente e propícia ao desenvolvimento acadêmico. Melhorar nossas condições de trabalho é um passo crucial para assegurar uma educação de qualidade para todos.

Democracia interna: um caminho para a paridade

Além das questões salariais, lutamos por uma democracia interna mais robusta nas universidades e institutos federais. Atualmente, a escolha de reitores e a composição dos órgãos colegiados não refletem plenamente a diversidade e a pluralidade da comunidade acadêmica. A falta de paridade entre docentes, técnicos e estudantes nos processos decisórios cria um descompasso que mina a representatividade e a democracia interna dessas instituições.

A busca pela paridade na escolha de reitores e na composição dos órgãos colegiados é uma demanda justa e necessária. Ela garante que todas as vozes sejam ouvidas e que as decisões reflitam os interesses de toda a comunidade acadêmica, não apenas de um grupo específico. Esse modelo mais democrático promove um ambiente mais inclusivo e participativo, essencial para a construção de uma educação verdadeiramente transformadora.

Defesa das instituições e da educação pública

Nós, técnicos administrativos, fomos os que mais defenderam, com unhas e dentes, as universidades e institutos federais durante os anos de Michel Temer e, principalmente, nos anos do governo Bolsonaro.

Durante esses períodos, enfrentamos políticas que visavam destruir o ensino superior educacional, científico e tecnológico no Brasil,   como o serviço público como um todo. Graças à nossa resistência e compromisso, muitos direitos foram mantidos e a qualidade da educação pública foi preservada, apesar dos ataques constantes. Diante de tantos ataques que sofremos durante o último governo e da possibilidade de termos mais um eventual governo Bolsonaro, colocando em risco não só as instituições federais de ensino como também a própria democracia do país, não hesitamos em declarar apoio ao então candidato Lula, sendo nós, técnico-administrativos em educação, o primeiro segmento do serviço público federal a fazer tal manifestação pública.

Lembramos ainda que durante a pandemia Covid 19, os hospitais universitários e os centros de pesquisa das universidades e institutos federais se desdobram em serviços e assistência para socorrer e minimizar o impacto da pandemia  nas populações mais carentes e na sociedade como um todo, combatemos o negacionismos do governo anterior com dados e publicações científicas , expondo de forma clara e objetiva as formas corretas de enfrentamento da doença e auxiliando na sua prevenção e erradicação.

Educação pública de qualidade, um direito de todos

Nossa greve nas universidades e institutos federais deve ser vista, sobretudo, como uma luta pela educação pública de qualidade. Não estamos apenas reivindicando nossos direitos trabalhistas, que são justos, mas também defendendo um projeto de educação que beneficia toda a sociedade. A educação que temos atualmente está longe de ser a que queremos e precisamos. É necessário um modelo que valorize todos os profissionais envolvidos, que assegure a participação democrática e que ofereça condições adequadas para o ensino e a aprendizagem.

Um governo que, sobretudo, coloca a educação como prioridade, anuncia a abertura de mais 100 novos campus dos institutos federais e mais investimentos nas universidades publicas, visando aumentar o número de matrículas, sabe que para  esse projeto dar certo serão necessários técnicos e docentes valorizados, sabe também que nestas categorias estão os melhores profissionais e pesquisadores do país e que são capazes de propor e implementar as melhores alternativas de desenvolvimento para que nosso país volte a ser a 6ª ou 5ª melhor economia do mundo novamente.

Conclusão

Tudo isso só será alcançado se realmente a educação pública for colocada como prioridade deste governo.  Reconhecer nossa greve e atender as reivindicações dos nossos trabalhadores é defender um projeto de educação pública que seja inclusivo, democrático e de qualidade que irá mais uma vez transformar o país. É lutar por uma Universidade e Instituto Federal onde todos – docentes, técnicos e estudantes – tenham voz e vez. É reivindicar condições dignas de trabalho para aqueles que garantem o funcionamento das nossas instituições de ensino. Somente assim poderemos construir a educação que verdadeiramente queremos e que a sociedade brasileira merece.

A educação é um direito de todos, e sua qualidade reflete diretamente nas oportunidades e no desenvolvimento de cada indivíduo. Portanto, reconhecer  nossa luta é apoiar o futuro e o progresso do país.

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