“Deu pra ti, baixo astral”. Esperança e reconstrução, já!

“Em Porto Alegre precisamos de um projeto de cidade humanizado, que priorize as pessoas e seus direitos.” Leia artigo de Silvana Conti, presidente do PCdoB de Porto Alegre

Foto: Isabelle Rieger/Sul21

A herança maldita do neoliberalismo e do negacionismo, segue firme e forte em Porto Alegre, já que o prefeito Melo e o vice-prefeito Ricardo Gomes desde o início da sua gestão, foram e são aliados de primeira hora do bolsonarismo e das forças de extrema-direita. 

A gestão de Porto Alegre conta em sua maioria com secretários(as), e uma base governista na Câmara municipal, privatista, que defendem o estado mínimo, que privatizaram a Carris, não pouparam esforços para privatizar o DMAE, reduzindo em 50% os trabalhadores(as) do departamento de água e esgoto da capital e assim, precarizando o serviço, para ter motivos para a dita privatização da água.

Também tinham intenção de derrubar o muro da Mauá, foram favoráveis a derrubada de árvores próximas à Orla do Guaíba, são favoráveis a especulação imobiliária e sem dúvidas são os(as) protagonistas deste projeto de morte que prioriza a busca incessante de lucros individuais sob o capitalismo financeirizado neoliberal que existe em nossa capital.

As consequências sociais destas escolhas da gestão municipal já existem na vida do povo a muito tempo, com a grande falta de acesso à educação infantil, que é um direito das crianças e das mães que precisam trabalhar e deixar seus e suas filhas(os) em lugares seguros, com a precarização e sucateamento da FASC, que hoje tem um quadro muito reduzido de servidores(as), e com os escândalos das licitações na SMED, que já foi uma Secretaria Municipal de Educação  referência internacional com um projeto político pedagógico qualificado, com a gestão democrática, com a transparência no uso dos recursos públicos, e que contribuía com a qualidade na educação, com a  participação e  o fortalecimento do controle social .

Agora neste momento desta crise climática e humanitária, ficam escancaradas as escolhas, as negligências e as prioridades da prefeitura à luz do negacionismo climático.

O negacionismo me parece uma cortina de fumaça para esconder as responsabilidades do prefeito e da gestão, pois existem culpados sim, já que fatos recentes que antecedem a tragédia, apontam que a Prefeitura de Porto Alegre não investiu um real sequer em prevenção a enchentes em 2023.  

O sistema de proteção de nossa cidade é composto principalmente por um conjunto de diques, que inclui o muro da Mauá e 23 casas de bombas. A constatação é de que as comportas estão com as estruturas enferrujadas, emperradas, e, portanto, sem condições objetivas de bom funcionamento. 

Enfim, os sistemas de drenagem estão sucateados, sem vedação ou sacos de areia suficientes e as águas do Guaíba avançaram na cidade e paralisaram também o sistema de abastecimento de água, e por tudo isso  sofremos pela falta de água, com a falta de luz, com perdas sem precedentes, já que vidas foram perdidas, casas foram alagadas, o comércio foi atingido, muitos prédios foram afetados, muitas famílias perderam suas referências de território, de casa, de escola, de fotos e documentos que faziam parte das suas histórias de vida.  

A crise climática e humanitária que vivemos em Porto Alegre e no RS, resulta do projeto neoliberal da prefeitura e do governo do Estado, que defendem o Estado mínimo, o enxugamento da máquina pública e a austeridade fiscal. 

A proposta de cidade provisória apresentada é muito perversa, pois colocar muitas pessoas em lugar perto do lixão, quase fora da cidade, em situação precária, vulnerável, e a segregação parece estar por de trás desta modalidade de solução.

As pessoas têm o direito à moradia digna e próxima do seu lugar de origem, da mesma forma as crianças e adolescentes precisam estudar próximos de suas casas.

Precisamos de atitudes e responsabilidade dos gestores públicos, precisamos seguir com as ações de solidariedade, e precisamos participar das escolhas políticas que faremos em outubro.

Neste ano de 2024, as eleições municipais serão fundamentais para mudar a correlação de forças em 2026. O Brasil continua polarizado!

O governo Lula está em disputa, o projeto de cidade que defendemos também está em disputa, e nossa organização e força nas ruas é fundamental.

Aqui em Porto Alegre precisamos de um projeto de cidade humanizado, que priorize as pessoas e seus direitos, com políticas públicas de qualidade, priorizando a moradia, a saúde, a educação, a assistência social, o trabalho digno, e assim protegendo as pessoas que neste momento sobrevivem na nossa cidade.

Hoje mais do que nunca o direito a uma vida digna é um DIREITO HUMANO, e para que possamos viver com dignidade precisamos superar estes dias tão difíceis deste maio de 2024. 

Para voltarmos a “ESPERANÇAR” como bem dizia nosso mestre Paulo Freire precisamos ampliar nossa aliança com os(as) democratas, progressistas e principalmente com amplos setores da sociedade, e assim construirmos uma grande aliança com o povo das periferias ao centro, para que a reconstrução da nossa cidade seja feita com ampla participação, amorosidade, solidariedade e respeito a cada um e a cada uma.

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Publicado originalmente no Sul 21

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