Tribunal Internacional recebe nova queixa contra Israel por mortes de jornalistas
Repórteres Sem Fronteiras (RSF) voltaram a cobrar urgência na investigação de assassinatos de jornalistas que continua a crescer.
Publicado 27/05/2024 15:27

Três dias antes do nono aniversário da Resolução 2222 do Conselho de Segurança da ONU, que trata da proteção de jornalistas em tempos de guerra, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou uma nova queixa ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Esta ação vem poucos dias após o procurador do TPI ter emitido os primeiros pedidos de mandados de detenção relacionados com o conflito de Gaza.
A nova queixa da RSF ao TPI reitera a necessidade urgente de investigar os crimes das Forças de Defesa de Israel (FDI) contra jornalistas em Gaza desde 7 de outubro de 2023. Segundo a RSF, o número de jornalistas mortos em Gaza pelas FDI continua a crescer, ultrapassando a marca de 100, numa suposta tentativa de erradicar os meios de comunicação palestinos.
A queixa mais recente detalha oito novos casos de jornalistas palestinos mortos entre 20 de dezembro de 2023 e 20 de maio de 2024, além de um caso de um jornalista ferido. Todos os jornalistas envolvidos foram mortos ou feridos no exercício de seu trabalho. A RSF afirma ter motivos razoáveis para acreditar que alguns destes jornalistas foram mortos deliberadamente e que outros foram vítimas de ataques deliberados das FDI contra civis.
Entre os jornalistas mencionados na denúncia estão:
- Mustapha Thuraya e Hamza al-Dahdouh: Repórteres freelance da Al Jazeera, mortos em 7 de janeiro em Rafah por um ataque de drone israelense ao seu veículo. O drone usado por Thuraya, segundo o Washington Post, indicava uso puramente jornalístico.
- Ahmed Badir: Repórter do site Hadaf News, morto por um ataque aéreo na entrada do Hospital Shuhada al-Aqsa, em Deir al-Balah, em 10 de janeiro.
- Yasser Mamdouh: Correspondente da Agência de Notícias Kan’an, morto perto do Hospital Al-Nasser, em Khan Yunis, em 11 de fevereiro.
- Ayat Khadoura: Videoblogueiro independente, morto em sua casa em 20 de novembro após postar um vídeo.
- Yazan Emad Al-Zwaidi: Cinegrafista do canal egípcio de notícias de TV via satélite Al Ghad, morto em 14 de janeiro em Beit Hanoun.
- Ahmed Fatima: Jornalista do canal de TV Al Qahera News, morto durante um bombardeio em Khan Yunis, em 13 de novembro.
- Rami Bdeir: Repórter do meio de comunicação palestino New Press, morto durante um bombardeio israelense em Khan Yunis, em 15 de dezembro.
Declaração e resposta
Antonio Bernardo, Diretor de Defesa e Assistência da RSF, enfatizou a gravidade da situação: “A impunidade põe em perigo os jornalistas não só na Palestina, mas também em todo o mundo. Aqueles que matam jornalistas estão a atacar o direito do público à informação, que é ainda mais essencial em tempos de conflito. Eles devem ser responsabilizados, e a RSF continuará a trabalhar nesse sentido, em solidariedade com os repórteres de Gaza.”
Em uma mensagem enviada à RSF em 5 de janeiro, o gabinete do procurador do TPI afirmou pela primeira vez que os crimes contra jornalistas estão incluídos na investigação sobre a Palestina. A RSF reiterou seu pedido ao procurador para investigar todas as mortes de jornalistas pelas FDI em Gaza desde 7 de outubro.
A Resolução 2222 do Conselho de Segurança da ONU, adotada em 27 de maio de 2015, sublinha a importância de processar e punir os crimes de guerra contra jornalistas. A RSF espera que esta resolução continue a servir como uma base sólida para ações legais internacionais contra os responsáveis pelas mortes de jornalistas em conflitos.
A apresentação desta queixa marca um esforço contínuo da RSF para garantir que os crimes contra jornalistas não fiquem impunes. À medida que o conflito em Gaza persiste, a necessidade de responsabilização torna-se cada vez mais urgente, destacando a importância de mecanismos internacionais de justiça para proteger aqueles que arriscam suas vidas para informar o público.