Nota conjunta China-Brasil sobre Ucrânia é fato de grande relevância

Iniciativa dos dois países mostra que o Brasil, arrostando corajosamente pressões de todo o tipo, segue firme no caminho do fortalecimento de um novo ambiente internacional

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A nota conjunta dos governos da China e do Brasil sobre a Ucrânia é acontecimento político de grande magnitude. Mostra que o Brasil, arrostando corajosamente pressões de todo o tipo, segue firme no caminho do fortalecimento de um novo ambiente internacional. Fruto de uma reunião em Pequim, nesta quinta-feira (23), entre o Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi e o Assessor-Chefe do Presidente do Brasil, Celso Amorim, a nota combate a visão maniqueísta de uma solução para o conflito na Ucrânia que não leve em consideração a Rússia e suas preocupações.

O texto assinado por Brasil e China, na verdade consolida a correta posição que os dois países adotaram há tempos, negando-se a um posicionamento unilateral e alinhado aos EUA e Otan, pregando negociações de paz sem pré-condições  e acusando os que fornecem armas à Ucrânia de contribuírem para a continuação do conflito.

A nota representa, para todos os efeitos, uma reprovação tácita à Conferência de Paz sobre a Ucrânia, que será realizada na Suíça nos dias 15 e 16 de junho, excluindo a Rússia. Se existe uma coisa na vida fácil de prever é o fracasso dessa conferência. O próprio presidente dos EUA, Joe Biden anunciou que não irá alegando “compromissos de campanha”. O presidente Lula igualmente não irá, embora o Brasil talvez envie representantes.

A China não confirmou se participará, mas o Global Times (porta-voz oficioso da China para o público estrangeiro) publicou nesta sexta-feira (24), a opinião de um analista chinês dizendo temer que “a próxima conferência de paz seja um palco para tomar partido e, se assim for, não produzirá nenhum resultado significativo, mas poderá até arriscar uma escalada adicional de tensões”.

Fica claro que EUA e aliados ainda não querem estimular uma solução política para o problema, o que coloca esses países em um beco sem saída, pois é praticamente impossível reverter a imensa superioridade que a Rússia demonstrou no campo de batalha, o que faz com que a proposta de Brasil e China tenha grande capacidade de aglutinação, atraindo o conjunto do Sul Global e até mesmo atores geopolíticos do Ocidente.  Leia, na próxima nota, a íntegra do texto conjunto sino-brasileiro.

Nota Conjunta China-Brasil sobre Ucrânia – Íntegra

1. As duas partes (China e Brasil) apelam a todas as partes envolvidas para que observem três princípios para desescalar a situação, a saber, não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar qualquer das partes; 2. As duas partes acreditam que o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia. Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e promover a desescalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente. China e Brasil apoiam uma conferência internacional de paz a ser realizada em um momento oportuno, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes e discussão justa de todos os planos de paz. 3. Esforços são necessários para aumentar a assistência humanitária às regiões afetadas e prevenir uma crise humanitária em maior escala. Ataques a civis ou instalações civis devem ser evitados, e civis, incluindo mulheres e crianças, e prisioneiros de guerra (POWs) devem ser protegidos. As duas partes apoiam a troca de POWs entre as partes em conflito. 4. O uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares e armas químicas e biológicas, deve ser combatido. Todos os esforços possíveis devem ser feitos para prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear. 5. Ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas devem ser combatidos. Todas as partes devem cumprir o direito internacional, incluindo a Convenção sobre Segurança Nuclear, e prevenir resolutamente acidentes nucleares causados pelo homem. 6. A divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deve ser combatida. As duas partes apelam para esforços que aumentem a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestruturas críticas, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra ótica, de modo a proteger a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais. As duas partes chamam os membros da comunidade internacional a apoiar e endossar os entendimentos comuns acima mencionados, e conjuntamente desempenhar um papel construtivo na desescalada da situação e na promoção de conversações de paz”.

É preciso retirar Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo

Praça José Martí, no município de Caimanera, Guantánamo / Foto: Wevergton Brito

No dia 15 de maio, o Departamento de Estado dos EUA anunciou que Cuba foi retirada da lista de países que, segundo critérios unilaterais dos EUA, não cooperam plenamente com o combate ao terrorismo. No entanto, Cuba ainda permanece na lista, identicamente unilateral, de países que supostamente patrocinam o terrorismo, o que, entre outras coisas, é um contrassenso. Coopera para combater o terrorismo e ao mesmo tempo o financia? O governo brasileiro saudou a decisão estadunidense, mas pediu que o próximo passo seja dado: “O governo brasileiro tomou conhecimento, com satisfação, da decisão do governo dos Estados Unidos de retirar Cuba da lista unilateral de países que não cooperam plenamente no combate ao terrorismo. O Brasil estima tratar-se de passo importante na direção correta e insta o governo norte-americano a excluir Cuba também de sua lista unilateral de Estados patrocinadores do terrorismo, da qual derivam pesadas e injustificadas sanções ao país caribenho. A manutenção de Cuba na lista de Estados patrocinadores do terrorismo é objeto de repúdio unânime dos países da América Latina e do Caribe, conforme consta de Declaração Especial aprovada por ocasião da última Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) (Kingstown, 1º de março), e de ampla maioria da comunidade internacional”. Já o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), divulgou, nesta sexta-feira, uma nota assinada por seu presidente nacional, José Reinaldo Carvalho, apontando “que, neste caso (da lista de países que patrocinam o terrorismo), não se pode admitir meias-medidas. Não basta que os EUA anunciem o que todos já sabem: que Cuba coopera com o combate ao terrorismo, é preciso que retirem imediatamente a calúnia perpetrada contra Cuba, eliminem o nome do país dessa lista arbitrária e respeitem o direito internacional, levantando também o ilegal bloqueio econômico, comercial e financeiro que promovem, na contramão do clamor mundial que exige o seu fim”. 

China e Rússia têm 80 amplos projetos “imunes a interferência maligna”

Um aspecto pouco salientado na última visita do presidente da Federação Russa, Vladmir Putin à Pequim, nos dias 16 e 17 de maio, foi a revelação de que Rússia e China promovem 80 grandes projetos de investimento, que estariam blindados de interferência estrangeira (leia-se, interferência dos EUA) e flutuações inesperadas no mercado. Putin, em entrevista coletiva ao final da visita, citada pela agência Sputnik, elogiou a carteira conjunta de projetos de investimentos “ambiciosos” e o crescente percentual das transações realizadas em moedas nacionais. “Apesar do impacto da pandemia e de algumas ações de terceiros países que buscam frear nosso desenvolvimento, o volume de negócios entre Rússia e China vem aumentando em um bom ritmo nos últimos cinco anos. Formou-se uma carteira de 80 grandes projetos de investimento conjunto em diferentes áreas“, destacou Putin. O mandatário russo indicou que a transição para os pagamentos em moedas nacionais foi um impulso importante para o intercâmbio comercial entre Moscou e Pequim. “Hoje, 90% de todos os pagamentos são realizados em rublos e yuans“, sublinhou. Além disso, o mandatário russo afirmou que a cooperação com a China no âmbito comercial e de investimento está blindada contra a “interferência maligna” de terceiros graças ao amplo uso de moedas nacionais. “O rublo e o yuan já representam mais de 90% das transações comerciais entre Rússia e China, e esse percentual está aumentando“, assinalou Putin. Para o mandatário russo, “o comércio e os investimentos recíprocos estão fortemente protegidos da influência negativa de terceiros países e das tendências negativas nos mercados monetários internacionais“.

Cuba: Relatos de uma viagem recente

No início de maio estive em Cuba, representando o Cebrapaz em uma série de atividades no país caribenho. Neste arquivo, disponibilizo o relato dessa viagem com observações e opiniões sobre a atual realidade cubana: Cuba Relatos.

Mais uma “lição” do primeiro manual de campanha eleitoral, que foi escrito por Quinto Cícero no Século I A.E.C., para seu irmão Marco Túlio Cícero, que era candidato a Cônsul (e foi eleito). Este é um dos primeiros conselhos do livro:

Pondera quais as características da tua cidade, a que cargo aspiras, quem és tu. Quase todos os dias, quando desceres ao foro, deves refletir nestes pensamentos: ‘Sou um homo nouus (1), aspiro ao consulado, esta cidade é Roma’”.

Breve Comentário sobre a Campanha Eleitoral (Commentariolum Petitionis) de Quinto Cícero, 63 A.E.C.

1- Homem novo. Apesar da origem nobre, ninguém da linhagem de Cícero foi Cônsul, o que o tornava alvo de preconceito da própria aristocracia a qual pertencia e cujos privilégios defendia. Quinto Cícero adverte o irmão a não esquecer a principal dificuldade que enfrentará na campanha.

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