RS tem perdas bilionárias e infraestrutura pode levar 10 anos para ser recuperada

Para reerguer o Rio Grande do Sul, serão necessários, segundo o governo estadual, cerca de R$ 19 bilhões no médio e longo prazo; retração no PIB pode ser de R$ 40 bilhões

Ponte destruída em Santa Maria. Foto: Mauricio Tonetto / Secom/Governo do RS

Além da destruição de vidas e das perdas ambiental e habitacional, a magnitude do desastre climático que assola o Rio Grande do Sul se reflete com força também na infraestrutura e na economia. Projeção inicial da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) indica que poderá ser preciso cerca de uma década para que a infraestrutura seja recuperada no território gaúcho.

A tarefa, de fato, é monumental, considerando o trágico cenário vivido pela maioria dos municípios gaúchos. Cerca de 93% do estado e 2,3 milhões de pessoas foram afetadas até o momento, segundo dados do governo do RS, e cidades inteiras foram destruídas ou seriamente prejudicadas. Mais de 581 mil habitantes estão desalojados e 157 perderam a vida.

Em meio a esse quadro, a contabilidade dos prejuízos ainda está em aberto em várias áreas, inclusive porque em muitas cidades a água ainda não baixou o suficiente para que a avaliação possa ser feita. 

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Mas, segundo explicou ao jornal Valor Econômico o presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, é inevitável que pesados aportes sejam investidos.  “Não há o que fazer. Os mais céticos em relação a questões fiscais sabem que esses recursos efetivamente vão ter que ser gastos”, explicou.

No último dia 9, o governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou que para reerguer o estado serão necessários cerca de R$ 19 bilhões no médio e longo prazo. 

Reflexos na economia 

Segundo a Federação das Indústrias do RS (Fiergs), 96% dos empregos industriais e 80% da atividade econômica do estado foram afetados pelas enchentes. 

Dentre os principais segmentos estão o metalmecânico e de móveis, na Serra; veículos, máquinas, autopeças, derivados do petróleo e alimento, concentrados na Região Metropolitana de Porto Alegre; calçados, no Vale dos Sinos; alimentos (carnes, massas) e tabaco, no Vale do Rio Pardo, e de carnes, calçados e químicos, no Vale do Taquari.

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A Região Metropolitana de Porto Alegre responde por R$ 107 bilhões em valor adicionado bruto ao estado, seguida do Vale dos Sinos, com R$ 60 bilhões e Serra, com R$ 41 bilhões. Na avaliação da Fecomércio-RS, no pior cenário, as perdas patrimoniais das famílias podem chegar a R$ 2,3 bilhões. 

No campo, os prejuízos ultrapassam R$ 2,5 bilhões, de acordo com dados parciais da Confederação Nacional de Municípios (CNM), R$ 2,3 bilhões somente na agricultura e R$ 226 milhões na pecuária. 

Recuo no PIB

Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), a calamidade pode levar o PIB do RS a encolher R$ 40 bilhões, o que corresponde a uma queda de 6,2 pontos percentuais em relação a 2023, quando o PIB foi de R$ 640 bilhões. 

Conforme assinalou a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o PIB do RS “deverá registrar perdas principalmente no segundo trimestre, parcialmente compensadas ao longo dos trimestres posteriores”. 

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Considerando que o Rio Grande do Sul tem o quarto maior PIB do país, com 6,5% do total segundo o IBGE, o impacto também poderá ter reflexos na economia brasileira como um todo. Agências do mercado estimam que as perdas no PIB nacional pode, ficar entre de 0,2 e 0,3 ponto percentual. 

No dia 16, o Ministério da Fazenda aumentou a projeção para o PIB de 2,2% em março para 2,5% — porém, não foram levados em conta as possíveis perdas do RS. “A magnitude do impacto depende da ocorrência de novos eventos climáticos, de transbordamentos desses impactos para estados próximos e do efeito de programas de auxílio fiscal e de crédito nas cidades atingidas pelas chuvas”, explicou a pasta. 

Recursos federais

Para enfrentar os problemas vividos pelo estado, o governo federal vem fazendo grandes aportes financeiros, para além daqueles voltados ao socorro e auxílio imediato. Entre as medidas estão a suspensão, por três anos, da dívida do RS com a União, de maneira que o estado poderá direcionar R$ 11 bilhões para as ações de reconstrução. Já o perdão dos juros da dívida, de 4% ao ano, gerará economia de cerca de R$ 12 bilhões aos cofres do estado, segundo o governo. 

Além disso, na semana passada foi anunciado o repasse de uma parcela adicional do Fundo de Participação dos Municípios a 47 cidades gaúchas que se encontram em situação mais grave, num total de R$ 192,7 milhões, a ser feito em parcela única. 

Na sexta-feira (17), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reforçou o empenho do Governo Federal em apoio à recuperação da atividade econômica e à manutenção do emprego no Rio Grande do Sul, durante reunião com a Fiergs. 

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Outra medida é a emenda de resgate emergencial, que soma R$ 1,33 bilhão para os municípios em situação de calamidade. Com isso, ficou autorizado o pagamento de R$ 733,4 milhões, dos quais R$ 630,77 milhões foram pagos (86%), além de transferências especiais de R$ 464 milhões disponíveis para aceite dos municípios: 467 (99,57%) dos 469 municípios indicados já confirmaram o aceite, totalizando R$ 459 milhões (98,91% do total disponível).

Segundo a plataforma Brasil Participativo, que concentra as ações do governo federal no RS, o total de recursos destinados ao estado somam, até o momento, R$ 60,7 bilhões em medidas de apoio. 

Desse total, R$ 46,2 bilhões são considerados recursos novos, tais como medidas de crédito, segurança alimentar, defesa civil, saúde (medicamentos, atendimento, vigilância epidemiológica), alimentação escolar, aquisição de arroz, reconstrução de rodovias, Força Nacional, Polícia Federal e Defesa (atendimento à emergência). 

No item “medidas de crédito” constam, por exemplo, R$ 30 milhões para subvenção do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e R$ 5 milhões para o Programa Emergencial de Acesso a Crédito. 

O restante dos recursos novos, R$ 14,5 bilhões, dizem respeito à antecipação de benefícios e prorrogação de tributos, entre os quais auxílio-gás, abono salarial, FGTS, Imposto de Renda, Bolsa Família  Benefício de Prestação Continuada.

Com agências