Há 200 anos, Nona Sinfonia de Beethoven mudou história da música

Em 7 de maio de 1824, Ludwig van Beethoven, apresentava a “Nona” Sinfonia, uma obra visionária que transformou a música clássica e permanece um símbolo de liberdade e união até hoje

Ludwig van Beethoven | Imagem: Joseph Karl Stieler (domínio público)

Em 7 de maio de 1824, Ludwig van Beethoven (1770-1827) apresentou pela primeira vez sua emblemática “Sinfonia nº 9”, uma obra que revolucionou a música clássica ocidental e que, 200 anos depois, continua a ressoar com sua mensagem de irmandade global. Composta nos anos finais de sua vida e considerada o ápice de sua carreira, a “Nona” transformou a percepção da música orquestral e solidificou a posição de Beethoven como um dos maiores compositores de todos os tempos.

A imagem do “gênio solitário” trabalhando em completa reclusão não faz justiça à realidade do processo criativo de Beethoven. Segundo Beate Angelika Kraus, musicóloga do Beethoven Archiv, o compositor alemão era, na verdade, um empresário que coordenava uma vasta rede de colaboradores para dar vida às suas grandiosas composições. A

estreia da Nona Sinfonia envolveu uma equipe completa no palco, com assistentes auxiliando na regência do coro e da orquestra. Michael Umlauf, maestro principal, conduzia ao lado de Beethoven, que ditava os andamentos mesmo estando quase completamente surdo. Além do primeiro violinista, um pianista ajudava na coordenação.

“Ode à Liberdade

A Nona Sinfonia, com seus cerca de 70 minutos de duração e a inclusão inédita de solistas vocais e um coro, surpreendeu o público. O quarto movimento, intitulado “Ode à Alegria”, é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller e exalta a paz e a harmonia entre os povos. Este movimento final tornou-se um marco cultural, sendo incorporado em eventos como os Jogos Olímpicos e a Unesco além de ser o hino oficial da União Europeia desde 1985.

 A Sinfonia nº 9, opus 125 também fez parte de momentos históricos como a apresentação do maestro Leonard Bernstein no Natal de 1989, celebrando a queda do Muro de Berlim. Na ocasião, a palavra “Freude” (alegria) foi substituída por “Freiheit” (liberdade). Mais recentemente, a regente ucraniana Oksana Lyniv regeu a Nona um dia após o início da invasão russa à Ucrânia, destacando a relevância do verso de Schiller “Todos os seres humanos se tornam irmãos”.

Um longo processo criativo

Os primeiros esboços da Nona Sinfonia datam de 1815, quase uma década antes de sua estreia. Durante a vida de Beethoven, a obra foi apresentada 12 vezes em diferentes versões. A primeira apresentação oficial em Viena foi apenas uma versão preliminar, distinta da que o compositor posteriormente dedicou ao rei da Prússia, Frederico Guilherme 3º.

Dedicatória de Beethoven a Frederico Guilherme 3º, rei da Prússia | Foto: AKG-Images/Picture Alliance

Originalmente encomendada pela Philharmonic Society de Londres, a estreia deveria ter ocorrido na Inglaterra. No entanto, devido a uma carta assinada por 30 músicos de Viena solicitando a apresentação na cidade, Beethoven acabou cedendo ao pedido e realizou a estreia no Wiener Hoftheater.

Um espetáculo de caos e silêncio

O último movimento da “Nona” abre com dissonâncias orquestrais, simulando o caos que Beethoven experimentava devido à sua surdez. A deficiência auditiva, que se manifestou precocemente, havia afetado sua capacidade de ouvir sons agudos, como os de flautas, e “a isso juntaram-se tinnitus [acufeno] e recruitment. Ou seja: apesar da surdez, sons altos lhe causavam sensação dolorosa”, relata Kraus. Apesar disso, ele insistiu em participar ativamente da estreia, sendo talvez capaz de ouvir apenas as frequências graves.

O público respondeu à estreia com aplausos entusiasmados, mas Beethoven não pôde ouvir a ovação, necessitando de ajuda para compreender o alcance de sua obra. No entanto, a Nona Sinfonia transcendeu os limites do silêncio, transformando-se num marco da música e num símbolo duradouro de liberdade e união.

Hoje, 200 anos depois de sua estreia, a Nona Sinfonia de Beethoven continua a inspirar e emocionar pessoas ao redor do mundo, reafirmando o poder da música para conectar diferentes culturas e gerações.

Assista abaixo a Sinfonia No. 9, no Theatro Municipal de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Coro Lírico e Coral Paulistano.

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com informações de Deutsche Welle (DW) e agências

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