Estudo revela poder da extrema direita evangélica nas redes sociais

Postagens no Brasil exploram sentimentos negativos e defendem práticas antidemocráticas.. O X (ex-Twitter) é a mais popular entre extremistas

Atos golpistas do dia 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes, em Brasília | Foto: Joedson Alves-Agência Brasil

Uma pesquisa inédita conduzida por acadêmicos das universidades Federal Fluminense (UFF) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou a predominância de influenciadores evangélicos entre os publicadores de extrema-direita no Brasil. Com dados coletados entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, o estudo identificou que oito dos dez perfis mais influentes pertencem a evangélicos, destacando-se em estados como Santa Catarina e São Paulo. As informações são do jornal Deutsche Welle.

Segundo a professora do programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFF, Christina Vital, coordenadora da pesquisa, “no universo acompanhado pela pesquisa, os atores que se autodeclaram evangélicos são os que mais postam e os que têm maior alcance junto aos seguidores desse espectro político”.

A pesquisa, que contou com financiamento da Fundação Heinrich Böllm detalha como esses influenciadores utilizam as redes sociais para espalhar conteúdos que geram medo, sentimentos de ameaça e desconfiança, sem apresentar propostas construtivas, direcionando os usuários para mais conteúdos dentro de um ecossistema de extrema-direita.

Este método parece ser eficaz, alcançando até 50 milhões de pessoas diariamente através de plataformas como X (ex-Twitter), Instagram, Facebook e YouTube, com o X – cujo dono, Elon Musk, fez ataques recentes contra o ministro do Supremo Tribunal Fderal (STF), Alexandre de Moraes – sendo a mais prevalente,

“Em muitos casos, as postagens apenas direcionam o leitor para links que induzem à leitura de outros materiais desse ecossistema”, observa Vital, que dividiu a coordenação da pesquisa com Michel Gherman, professor do Programa de Pós-Gradução em História da UFRJ.

A metodologia aplicada envolveu a análise de conteúdos publicados nas redes sociais por 191 “atores sociais” categorizados em quatro grupos: políticos, influenciadores, blogs ou sites, e grupos antidemocráticos. Deste total, 14 eram mulheres, 111 homens e 66 coletivos. A pesquisa também notou uma intensa atividade desses perfis em datas significativas, como o aniversário dos atos golpistas de 8 de janeiro, com mensagens que misturam suporte ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ataques ao STF.

“Nas postagens, eles tentavam separar a manifestação do vandalismo, e imputar a desordem ao atual governo. Para esses influenciadores extremistas, o STF é o verdadeiro inimigo da democracia. É a chamada ‘retorsão’ do argumento”, explica Vital.

Na lista dos oito perfis com maior engajamento no campo evangélico, figuram nomes como os do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro – única mulher no grupo.

O estudo utilizou um software de inteligência artificial para coletar e analisar dados, permitindo uma visão abrangente da disseminação de conteúdos e sua recepção pelo público. “Em sua maioria, os atores mais atuantes e com maior alcance são homens, brancos, influenciadores, políticos e lideranças religiosas”, diz Vital.

Com as eleições municipais se aproximando, a atuação esses influenciadores evangélicos pode ser decisiva. Joanildo Burity, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, aponta que apesar de serem minoria (cerca de 10%), os evangélicos de extrema-direita possuem uma capacidade de projeção amplificada por recursos financeiros e conexões internacionais. “O que faz com que tenha uma capacidade de projeção muito maior do que o seu tamanho”, lembra o pesquisador.

A pesquisa destaca a importância da militância digital e a necessidade de uma comunicação mais eficaz por parte de líderes de esquerda, como o presidente Lula, para contrapor a narrativa dominante da extrema-direita nas redes sociais.

__
com informações da Deutsche Welle (DW)

Autor