Chefe da inteligência militar de Israel renuncia após assumir culpa em ataque do Hamas
O major-general Aharon Haliva demite-se alegando o fracasso em impedir o ataque surpresa mortal do Hamas, tornando-se o primeiro alto funcionário a assumir a culpa e a renunciar.
Publicado 22/04/2024 14:34
O cenário político em Israel foi agitado com a inesperada renúncia do major-general Aharon Haliva, chefe da inteligência militar do país, em meio às repercussões do mortal ataque surpresa perpetrado pelo Hamas. Haliva tornou-se o primeiro alto funcionário a assumir a culpa pelos fracassos que levaram ao ataque e optou por deixar o cargo, lançando uma sombra sobre a liderança militar e política de Israel.
A demissão de Haliva foi anunciada oficialmente pelo Estado-Maior militar, que reconheceu a sua contribuição e agradeceu o seu serviço. Esta ação coloca pressão sobre outras figuras de alto escalão na segurança nacional de Israel, possivelmente preparando o terreno para mais renúncias em meio à crescente insatisfação pública e à necessidade de responsabilização.
Haliva, que havia assumido a responsabilidade pelo fracasso em impedir o ataque, expressou sua decepção por não ter cumprido com êxito a missão atribuída à sua divisão de inteligência militar. Em sua carta de renúncia, ele compartilhou o fardo emocional que carregava desde o dia do ataque e afirmou que levará para sempre consigo a dor da guerra.
Haliva não está sozinho em sua responsabilidade compartilhada. O chefe do Shin Bet, os serviços de segurança interna de Israel, também assumiu a culpa pessoal pelo fiasco do dia 7 de Outubro, caracterizando-o como um enorme fracasso tanto da inteligência quanto militar em geral. Relatos revelam que Israel estava ciente de ameaças iminentes, incluindo o plano detalhado denominado “Muro de Jericó”, mas ignorou os sinais de alerta, inclusive alertas do Egito, subestimando a capacidade da resistência palestina de lançar um ataque de tal escala.
O ataque surpresa de outubro de 2023, que resultou na morte de mais de mil israelenses e na captura de centenas, abalou profundamente a sensação de segurança em Israel e questionou a eficácia das defesas do país. Observadores militares haviam alertado sobre possíveis atividades do Hamas, inclusive com relatórios precisos sobre os planos de ataque, mas esses avisos foram ignorados pelos altos escalões das forças armadas e do governo.
O momento da renúncia de Haliva levanta questões sobre o papel do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que ainda não assumiu publicamente a responsabilidade pelo ataque. Enquanto isso, líderes da oposição, como Yair Lapid, elogiaram a decisão de Haliva e pressionaram Netanyahu a seguir o exemplo.
Analistas políticos sugerem que a demissão é uma clara crítica ao primeiro-ministro Netanyahu, que até agora se recusou a assumir a responsabilidade pelo ataque. A medida de Haliva visa pressionar Netanyahu a seguir o exemplo e reconhecer suas falhas, especialmente em meio à guerra contínua em Gaza.
A renúncia aponta para uma crise mais ampla dentro da inteligência israelense, destacando não apenas as falhas de inteligência em Outubro, mas também a falta de previsão em relação à possível resposta iraniana a eventos regionais. A renúncia de Haliva também aumenta a pressão sobre outros membros do gabinete de guerra, como Benny Gantz e Gadi Eisenkot, enquanto energiza os protestos antigovernamentais.
A renúncia de Haliva ocorre em um momento de contínuo conflito com a resistência palestina em Gaza e no Líbano, bem como tensões elevadas com o Irã. Responsabilizações que deveriam ocorrer apenas “após a guerra”, eclodem porque não há expectativa de que Netanyahu consiga debelar o conflito tão cedo. Embora o país ainda esteja em meio a esses desafios, a renúncia de Haliva destaca a necessidade de responsabilização e reforma dentro das estruturas de segurança e liderança de Israel.