Lula e Macron anunciam investimento bilionário para a Amazônia
Brasileiro afirmou que vai continuar demarcando áreas indígenas e reservas florestais, apesar da oposição do agronegócio no Congresso.
Publicado 27/03/2024 08:07 | Editado 28/03/2024 10:06
Em um encontro histórico realizado nesta terça-feira em Belém, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lançaram um ambicioso plano para arrecadar mais de R$ 5 bilhões destinados a projetos de economia sustentável na Amazônia Legal e na Guiana Francesa. Esta iniciativa conjunta visa promover o desenvolvimento econômico da região, ao mesmo tempo em que se compromete a preservar sua rica biodiversidade.
O anúncio foi feito como parte de uma agenda internacional liderada por ambos os líderes em preparação para a COP-30 do clima, que acontecerá em Belém em 2025. O investimento planejado será distribuído ao longo dos próximos quatro anos e contará com a colaboração de bancos públicos brasileiros e da Agência Francesa de Desenvolvimento, além de investimentos do setor privado.
Durante sua visita à Amazônia, Macron enfatizou o compromisso da França em apoiar a causa indígena e destacou a importância de preservar a Floresta Amazônica diante das crescentes ameaças. Em um gesto simbólico, o presidente francês condecorou o cacique Raoni Metuktire, líder do povo Caiapó, com a mais alta distinção francesa, a Legião de Honra.
Apesar do momento histórico, o encontro também teve seus momentos de descontração, como quando Lula se confundiu e trocou o nome de Macron pelo do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. No entanto, a troca não diminuiu a importância do compromisso conjunto de ambos os líderes em prol da preservação da Amazônia.
O plano de investimento bilionário inclui diversos componentes-chave, como o diálogo entre as administrações francesa e brasileira sobre os desafios da bioeconomia, parcerias entre bancos públicos brasileiros e a Agência Francesa de Desenvolvimento, e a criação de um hub de pesquisa e investimento para impulsionar a economia sustentável na região.
Além disso, os governos brasileiro e francês se comprometeram a promover um mercado de carbono eficaz, capaz de remunerar os países florestais que investem na preservação e restauração de suas florestas. Esta iniciativa visa incentivar o financiamento de projetos ambientais e sociais nos países que mais contribuem para a proteção da biodiversidade.
Demarcação de terras indígenas
Durante a cerimônia na comunidade indígena em Belém (PA), Lula reafirmou o compromisso do governo brasileiro com a demarcação de terras indígenas e a proteção ambiental na Amazônia. O presidente enfatizou que a extensão atual de 14% do território nacional destinada a essas comunidades ainda é insuficiente. Ele confrontou as críticas dos conservadores brasileiros, que frequentemente argumentam que os indígenas já possuem terras em excesso, afirmando que o governo seguirá demarcando áreas indígenas e reservas florestais.
“É por isso que o governo que mais demarcou terras indígenas nesse país vai continuar demarcando terras indígenas e parques de reservas florestais”, afirmou o presidente.
A disputa em torno das demarcações é um ponto de divergência entre o ex-presidente e o setor do agronegócio, que exerce forte influência no Congresso. No entanto, Lula reiterou seu compromisso em liderar a agenda ambiental e a redução do desmatamento, ressaltando que o Brasil busca tornar a Amazônia um destino internacional de pesquisas e riqueza em biodiversidade, em vez de um santuário intocável.
O presidente disse a Macron que o Brasil quer liderar a agenda ambiental e a redução do desmatamento, mas que precisará da ajuda “dos países que já derrubaram suas florestas”.
Durante a cerimônia na Ilha do Combu, Raoni fez um apelo emocionado a Lula, pedindo que o Brasil não permita a conclusão das obras da Ferrogrão, uma ferrovia controversa que enfrenta resistência de comunidades indígenas e ambientalistas devido aos seus possíveis impactos na região, mas é considerada estratégica para o escoamento da produção do Centro-Oeste.
Em seu discurso, o líder indígena expressou preocupação com o futuro das próximas gerações e pediu que Lula e Macron o ajudem a receber o Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento ao seu trabalho pela preservação ambiental e defesa dos direitos dos povos indígenas. Macron, por sua vez, agradeceu a honraria concedida a Raoni e reiterou o compromisso da França com a proteção da biodiversidade e a cooperação internacional em questões ambientais.