88% dos argentinos rejeitam o “choque” de Milei
Para 77%, os preços dos produtos e serviços vão aumentar nos próximos seis meses – e 24,2% sentem que os preços vão subir “descontroladamente”
Publicado 21/03/2024 09:00 | Editado 21/03/2024 16:52
Em cem dias na Casa Rosada, o presidente Javier Milei afundou a Argentina numa espécie de crise sem fim. A rejeição à sua política econômica, marcada por um “tratamento de choque” de viés ultraliberal, é a mais alta na história do país.
Conforme pesquisa Atlas Intel divulgada na terça-feira (19), 88% da população avalia que a economia do país vai mal. Na outra ponta, somente 2% dos argentinos creem que a economia está no rumo certo. Para 80%, o cenário no emprego também é negativo. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
O temor de mais inflação persiste: 77% dos argentinos acreditam que os preços dos produtos e serviços vão aumentar nos próximos seis meses – e 24,2% sentem que os preços vão subir “descontroladamente”. O medo piorou porque, enquanto a inflação sobe, salários, aposentadorias, pensões e benefícios sociais são arrochados.
Quanto mais realistas, os argentinos ficam menos esperançosos. Em novembro, antes da posse de Milei, a Atlas Intel sondou a expectativa dos eleitores com o futuro da economia: 50% se diziam otimistas, enquanto 25% se declaravam pessimistas. Hoje, após o “choque” do presidente ultradireitista, 43% falam em otimismo e 47% manifestam pessimismo.
Conforme esperado, o setor financeiro e o FMI (Fundo Monetário Internacional) aplaudiram as medidas promovidas pelo governo, que privilegiam o rentismo em detrimento do conjunto da população. Mas os indicadores deixam claro que o governo castiga especialmente as camadas mais pobres do povo argentino.
A megadesvalorização cambial levada a cabo por Milei não interrompeu a recessão e ainda teve impacto devastador nos preços. Veja-se pela inflação acumulada em 12 meses, que passou de 211% em dezembro para 254% em janeiro e 276% em fevereiro. É a maior taxa inflacionária no mundo.
Apenas nos dois primeiros meses de 2024, o poder de compra dos trabalhadores teve uma queda recorde de 20%. No mesmo período, o custo da cesta básica saltou 15%.
Já o índice de pobreza – que era de 44% no início do mandato de Milei – foi a 57%, de acordo com Universidade Católica da Argentina (UCA). A projeção é que, em fevereiro, a taxa já tenha chegado a 60%. Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a taxa de pobreza infantil passou de 62% para 70%.
Não para dizer – ainda – que os eleitores de Milei se arrependeram do voto. Mas a Atlas Intel questionou se o desempenho do atual presidente era melhor ou pior que o de seu antecessor, o peronista Alberto Fernández, em 11 áreas. Mesmo com a vitória contundente na eleição presidencial de 2023, Milei se sai pior do que Fernández em seis dessas 11 áreas, como educação e saúde. As ilusões com o governo de extrema-direita começam a evaporar.