ONU adverte Israel por “usar a fome como método de guerra”
Segundo as Nações Unidas, 300 mil pessoas podem ficar sob fome extrema até maio. Enquanto isso, extrema-direita brasileira vai à Israel em apoio ao genocídio
Publicado 20/03/2024 11:52 | Editado 20/03/2024 15:49
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu, nesta terça (19), um novo alerta sobre a deterioração da situação humanitária em Gaza. A porta-voz Margaret Harris disse que os médicos palestinos relatam consequências mais graves do efeito da fome, além da crescente morte de recém-nascidos com peso muito baixo. ONU adverte Israel por “usar a fome como método de guerra”
O momento crítico no enclave árabe contrasta com a visita dos governadores de extrema-direita, também nesta terça, ao governo do primeiro-ministro Netanyahu. “Em solidariedade ao povo judeu”, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, tentaram capitalizar no cenário político brasileiro após o tensionamento nas relações entre Brasil e Israel, ainda que a população de Gaza venha sucumbido às ações genocidas de Tel Aviv.
“O que os médicos e o staff nos dizem é que cada vez mais vêem os efeitos da fome; eles estão vendo bebês recém-nascidos simplesmente morrendo porque têm peso muito baixo ao nascer”, disse a Dra. Margaret Harris, da OMS.
“Cada vez mais, vemos crianças à beira da morte e que precisam ser realimentadas”, disse a porta-voz da OMS à jornalistas em Genebra, um dia depois de especialistas em nutrição alertarem que a penúria pode acontecer “a qualquer momento” no norte de Gaza.
Uma análise conduzida pela ONU concluiu que 300 mil pessoas no norte de Gaza estarão sob fome extrema até maio, se não houver um aumento significativo na entrega de alimentos à região.
O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, acusou Israel de impedir o acesso da ajuda humanitária à Faixa de Gaza e de conduzir o conflito no enclave palestino de maneira que “pode equivaler a usar a fome como método de guerra”.
Em nota divulgada pela entidade, amplamente criticada por Israel, Turk afirma que “a situação da fome, inanição e escassez é resultado das amplas restrições à entrada e distribuição de ajuda humanitária”. Segundo afirmou, as decisões israelenses desde o início do conflito estão diretamente associadas ao “deslocamento forçado da maioria da população, assim como à destruição de infraestruturas civis essenciais”.
O exército israelense já assassinou ao menos 31.726 pessoas em Gaza, vingança pelos ataques orquestrados pelo Hamas em 7 de outubro, que deixou cerca de 1.2 mil pessoas mortas. Entre os mortos no enclave, 13 mil são crianças e 8.4 mil mulheres.
Apesar do morticínio, Tarcísio e Caiado não mencionaram a tragédia humanitária em Gaza, mas partiram em defesa do governo genocida de Israel ao mesmo tempo que criticaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Peço desculpas em nome do meu povo, de nós, brasileiros, pelas declarações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao desconhecer totalmente a história, fez uma comparação, a mais desastrosa possível, agredindo o povo judeu”, afirmou o governador de Goiás.
Em sua publicação, o governador paulista preferiu não citar o presidente, mas também fez menção à guerra.
“Externei a minha solidariedade ao povo de Israel e sinceros votos de sucesso nas negociações para trazer de volta os reféns para suas casas, além da nossa torcida para que seja pavimentado um caminho para a paz”, escreveu Tarcísio.
Netanyahu, em resposta, disse que os governadores “são bons amigos de Israel” e que está muito contente em tê-los no país.
O governo de extrema direita de Netanyahu, desde o começo de sua ofensiva, não contabiliza quantos combatentes do Hamas foram executados nos ataques aéreos, através dos intensos bombardeios desde 7 de outubro, ou via incursão terrestre.
Ultimamente, as operações militares vem sendo criticadas por líderes mundiais. O próprio presidente Lula, alvo de fúria de integrantes da coligação que governa Israel, afirmou, no começo de março, que o direito de defesa de Israel foi transformado em “direito de vingança” que pune mulheres e crianças de forma indiscriminada.
“Se alguém tinha dúvida, as últimas imagens de Gaza são para que todos nós não percamos o humanismo que ainda temos. Não sejamos algoritmos. Sejamos seres humanos de verdade e percebamos que o que está acontecendo lá é um verdadeiro genocídio. […] No dia do acontecimento, a primeira coisa que o Brasil fez foi condenar o ato terrorista do Hamas, mas não podemos deixar de condenar a atuação do governo de Israel em relação aos palestinos”, afirmou.
Até mesmo os aliados de primeira hora vêm criticando o governo de Israel a frear seus impulsos bélicos. O presidente americano Joe Biden está pressionando Tel Aviv a desistir de atacar a cidade de Rafah por terra.
A cidade, na fronteira com o Egito, abriga a maioria da população desabrigada de Gaza e tem se tornado uma espécie de “linha vermelha” as pretensões da extrema-direita israelense.
Netanyahu diz que a cidade é o último reduto do grupo extremista e planeja uma invasão por terra, algo que vem gerando embates com o principal aliado, os Estados Unidos.