Cresce o “fluxo” na Cracolândia em São Paulo, apesar de redução do espaço físico

As ações repressivas das polícias se mostram inócuas, enquanto o problema se agrava, apesar das promessas milagrosas dos governos.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na primeira quinzena de março deste ano, a Cracolândia (fluxo de usuários de drogas), situada em São Paulo, registrou um aumento significativo em comparação com o mesmo período de 2023. Dados da Prefeitura indicam que a média de usuários que frequentaram as cenas abertas de uso cresceu 44,3% no período da tarde e 17,4% pela manhã.

Apesar do aumento registrado, desde novembro, o “fluxo” teve seu espaço físico reduzido, concentrando-se em um único ponto, a Rua dos Protestantes, entre as estações de trem Luz e Júlio Prestes. Essa concentração foi resultado de confrontos entre policiais e usuários após a instalação de uma base móvel da Guarda Civil Metropolitana para conter a expansão dos dependentes químicos para outras áreas.

O coordenador de Análise e Planejamento da Secretaria Estadual da Segurança Pública, major Rodrigo Vilardi, negou o aumento de frequentadores das cenas abertas de uso, atribuindo a concentração na Rua dos Protestantes à requalificação de outras vias pela polícia. Ele afirmou que a presença policial na região resultou em uma redução significativa de roubos e furtos nos últimos meses.

A área da Cracolândia é uma das mais policiadas da cidade, abrigando várias unidades policiais e de investigação. O monitoramento do “fluxo” por drones começou em janeiro de 2023, mas a Secretaria de Segurança Urbana alerta que os dados podem ser afetados pelo horário de registro e pela presença de obstáculos que prejudiquem a vista aérea.

Desde sua reinauguração em abril de 2023, o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas já atendeu 15,1 mil pacientes, com muitos buscando tratamento mais de uma vez. Um mapeamento de perfil realizado pela Secretaria Estadual da Saúde revelou que a maioria dos dependentes atendidos já frequentou as cenas de uso aberto de crack, e quase 30% viveram nessa condição por pelo menos um ano.

O aumento do “fluxo” na Cracolândia destaca os desafios contínuos enfrentados pelas autoridades e organizações de saúde na abordagem da dependência química e na prestação de assistência aos usuários de drogas em situação de vulnerabilidade.

Ação coordenada

Especialistas em políticas sociais destacam que a sociedade possui os recursos necessários para resolver esses problemas, mas faltam vontade política e compromisso de longo prazo. A situação é alarmante, mas o governo tem recursos suficientes para lidar com essa questão, enquanto há verbas sendo desviadas para outros fins menos urgentes.

Apesar dos aparentes esforços por parte do governo municipal e estadual, a solução para esses problemas não é simples como alardeiam as autoridades. É necessário um plano abrangente e de longo prazo, que envolva não apenas os entes públicos, mas também a participação ativa da sociedade civil.

No entanto, o que se observa são apenas ações policiais sistemáticas que visam apenas a repressão violenta de pessoas doentes e revoltadas com o tratamento que recebem. Uma tática que agrada setores da sociedade que se sentem “vingados” com a brutalidade da polícia, enquanto os usuários de drogas vão apenas se espalhando pelo centro da cidade.

O problema envolve não apenas questões de saúde pública, mas também crime e desigualdade social. Por isso, a necessidade de uma abordagem integrada, que inclua não apenas ações policiais, mas também assistência médica e psicológica.

As pessoas estão num grau de vício em que já não conseguem pensar. Além disso, recursos de programas assistenciais, que poderiam ajudá-los, ficam com os traficantes, que fornecem uma cota por mês de crack, para aquelas pessoas. Nesse sentido, é uma questão não só de saúde pública, mas social também. Não adianta a Polícia entrar lá sozinha, precisa ter o planejamento das outras ações. 

Por fim, o problema dos moradores de rua poderia ser resolvido em quatro anos, pelo menos em São Paulo. Infelizmente a sociedade paulista e brasileira não está debruçada sobre o problema da pobreza e da dependência química, por isso ela continua.

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