Pesquisadores alertam para possibilidade de colapso da Amazônia em 2050
De acordo com estudo feito por cientistas brasileiros, risco está atrelado a desmatamento e mudanças climáticas e exige medidas para estancar destruição e restaurar a floresta
Publicado 15/02/2024 16:05
Pesquisa feita por brasileiros e publicada na revista científica Nature traz um dado alarmante para o futuro ambiental do país e do mundo: em 2050, a Amazônia pode atingir o chamado ponto de não retorno em seu desmatamento, caso medidas urgentes não sejam tomadas.
Esse estágio indica um colapso parcial do bioma capaz de comprometer a floresta. Tal situação afetaria a fauna, a flora e a vida para além do Brasil, considerando a importância da Amazônia para a humanidade e seu papel no equilíbrio climático.
“A gente encontra aí mais ou menos 50% de possibilidades. Significa [redução de] uma quantidade substancial de floresta, o que influencia na quantidade de água, na quantidade de carbono que a floresta é capaz de manter e reciclar água”, disse, à Agência Brasil, a cientista Marina Hirota, professora do departamento de física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do estudo.
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Para enfrentar essa grave situação, cientistas responsáveis pelo artigo apontam a necessidade não apenas de combater a degradação ambiental e o desmatamento — o que, lembra Hirota, vem sendo feito — como, também, trabalhar pela restauração do bioma. E isso depende não apenas do Brasil, mas também da comunidade internacional.
A cientista explicou, ainda, que “o clima da Amazônia é muito dirigido pelo que acontece na temperatura global do planeta, assim como em qualquer parte do mundo. A temperatura global aumentando vai ter impacto em cascata no clima regional da Amazônia. E as previsões, e o que a gente já vê acontecendo, são de redução gradual da quantidade de chuvas, aumento da duração e da intensidade das secas, aumento de eventos extremos de seca, de chuva, intercalados”.
A pesquisa aponta, ainda, o que seriam os limites críticos que, se atingidos, poderiam causar um colapso de partes ou de toda a floresta: o aumento na temperatura média global acima de 1,5 ºC; volume de chuvas abaixo de 1,8 mil milímetros; duração da estação seca superior a cinco meses e desmatamento superior a 10% da cobertura original da floresta, somada à falta de restauração de pelo menos 5% do bioma.
No caso de a floresta, de fato, atingir esse ponto de não retorno, a pesquisa indica a possibilidade de uma mudança que levará à formação de uma floresta degradada, a áreas sem floresta e a savanas de areia branca.
“Quando muda o ecossistema, muda toda a biodiversidade. As espécies são substituídas por outras. O tipo de solo muda, os rios se modificam, modifica tudo. […] A Amazônia contribui para o balanço energético da atmosfera. Haveria menor fluxo de umidade para outras partes do mundo, sem falar que a emissão de gases de efeito estufa estocados na floresta aceleraria”, afirmou, ao site Nexo, o pesquisador e um dos autores do artigo, Bernardo Flores.
Medidas governamentais
Desde que assumiu a presidência, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem tomando medidas para enfrentar o desmatamento da Amazônia, que havia crescido consideravelmente nos anos do governo de Jair Bolsonaro.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, após quatro anos de retrocesso, a retomada da governança ambiental e das ações de fiscalização fez com que o desmatamento na Amazônia reduzisse 50% em 2023 na comparação com 2022, de acordo com o sistema Deter, do Inpe. A queda evitou a emissão de aproximadamente 250 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente na atmosfera.
Além disso, ainda conforme o MMA, de janeiro a dezembro de 2023, o Ibama aumentou os autos de infração por crimes contra a flora em 106% na comparação com a média de 2019 a 2022. A destruição de bens e os embargos cresceram 161% e 64%, respectivamente, no mesmo período. Já as apreensões aumentaram 79%.
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Outro ponto importante foi a retomada do Fundo Amazônia. Com Lula, em 2023, os anúncios de novas doações chegaram a R$ 3,9 bilhões. Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, Alemanha, Dinamarca, União Europeia e Suíça comprometeram-se com novos aportes.
“Seguimos empenhados com o monitoramento da região e com a adoção de medidas integradas para combater práticas ilegais e acabar com a expectativa de impunidade, que gera mais criminalidade ambiental. Nosso compromisso público é alcançar o desmatamento zero até 2030, meta assumida pelo presidente Lula”, reafirmou recentemente, pelas redes sociais, a ministra Marina Silva.
Com agências
(PL)