França: Sarkozy é condenado por financiamento ilegal de campanha

Mais de dez anos depois, Sarkozy vai continuar recorrendo da decisão. O ex-presidente continua influente na política da direita francesa.

Eventos caríssimos "ao estilo americano" escandalizaram a rigorosa Justiça Eleitoral francesa, na eleição derrotada de Sarkozy em 2012.

Nesta quarta-feira (14), a Justiça francesa emitiu uma sentença histórica, condenando o ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy, de 69 anos, por financiamento ilegal de uma campanha luxuosa em que sequer foi reeleito, em 2012. A decisão foi proferida pela Corte de Apelação de Paris, que reduziu a sentença inicial de um ano de prisão para seis meses de pena efetiva, com mais seis meses de pena suspensa. Esta última modalidade implica que o condenado não seja imediatamente encarcerado, mas deve cumprir certas condições estabelecidas pelo tribunal, como manter boa conduta ou pagar multas, por exemplo.

O advogado de Sarkozy, Vincent Desry, afirmou aos repórteres locais que seu cliente se considera totalmente inocente e que tomará todas as medidas legais disponíveis para reverter a decisão. “Nicolas Sarkozy é totalmente inocente. Ele tomou conhecimento desta decisão e decidiu apelar para o Tribunal de Cassação. Portanto, ele mantém sua luta, sua posição neste assunto”, declarou Desry. Apesar de chegar sorrindo ao tribunal, Sarkozy não reagiu à decisão e deixou o local sem fazer comentários.

Os advogados do político anunciaram que recorrerão ao Supremo Tribunal, o que na prática suspende a condenação até que um novo julgamento seja realizado. O caso remonta a 2012, quando Sarkozy, então presidente desde 2007, concorreu à reeleição contra o socialista François Hollande. Enfrentando pesquisas desfavoráveis, Sarkozy decidiu aumentar o número de comícios, ignorando os limites de gastos estabelecidos. Ao final, ultrapassou em mais de R$ 106 milhões o valor permitido para sua campanha.

Para esconder o descontrole financeiro, o partido de Sarkozy, a UMP (mais tarde rebatizado como Os Republicanos), assumiu os gastos como sendo seus, ao invés da campanha. A empresa de eventos Bygmalion, próxima dos dirigentes da UMP, emitiu faturas falsas por serviços nunca prestados. Embora não tenha sido condenado pelas faturas falsas, Sarkozy foi considerado culpado por ultrapassar o limite de gastos.

O ex-presidente sempre defendeu sua inocência, alegando não ter ciência de ter ultrapassado o teto de gastos eleitorais. Ele sustenta que é vítima de uma perseguição judicial. Além deste caso, Sarkozy enfrenta outras acusações, incluindo corrupção e tráfico de influência no chamado Caso das Escutas. Também está marcado para 2025 um terceiro julgamento, no qual é acusado de financiar sua campanha de 2007 com dinheiro do presidente líbio Muammar Gaddafi.

Apesar de todas as acusações e problemas legais, Sarkozy mantém considerável influência e popularidade na direita política francesa de Emmanuel Macron. Até o momento, ele não cumpriu nenhuma pena de prisão, já que seus casos têm sido prolongados por meio de apelações. No entanto, o futuro político e legal do homem que uma vez se autodenominou “hiper-presidente” permanece incerto diante das batalhas judiciais que enfrenta.

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