Participação do trabalho no PIB despencou após golpe de 2016

Com Lula e Dilma, peso do trabalho no PIB brasileiro se aproximava dos níveis dos países desenvolvidos

O jornalista Umberto Martins, assessor da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), foi o primeiro a denunciar que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, foi uma expressão direta da luta de classes no Brasil. Seu livro O Golpe do Capital contra o Trabalho (2017) revela como o governo ilegítimo de Michel Temer (MDB) deu início a uma escalada de retirada de direitos e imposição de retrocessos à classe trabalhadora.

Conforme levantamento divulgado nesta segunda-feira (5), os reflexos do golpe podem ser aferidos na composição, ano a ano, do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Desde 2017, a economia nacional registra uma perda da participação do trabalho – ou seja, dos salários e das contribuições dos trabalhadores. Em contrapartida, o capital, representado por lucros de negócios e outros ganhos, ganha espaço.

Os números mostram que em 2016, no último ano dos governos progressistas de Lula e Dilma, o trabalho respondeu por 44,7% do PIB, seu patamar recorde. Esse resultado foi possível graças a políticas como a de valorização do salário mínimo e da renda do trabalhador.

Mas cinco anos depois, no curso do desmonte dessas políticas, da reforma trabalhista, da reforma da Previdência e de outras medidas pró-capital, o peso da a renda dos assalariados no PIB despencou para 39,2% – menor percentual desde 2004. Em contrapartida, o lucro das empresas – que representavam 32,1% da economia em 2015 – avançou para o índice recorde de 37,5% em 2021.

É de 48,2% na Zona do Euro, na União Europeia, chega a 53,8% nos EUA, 50,6% no Reino Unido.

É um período marcado por desemprego elevado (sempre acima de 10%), avanço da uberização/precarização e o fenômeno da “pejotização”. Para burlar a legislação e elevar seus lucros, empresas passaram cada vez mais a trocar o regime CTL (com carteira assinada) por registros de MEI (microempreendedores individuais).

“Há duas maneiras de ver a desigualdade: do ponto de vista da renda pessoal e dessa distribuição funcional da renda, entre capital e trabalho”, declarou ao O Globo Kátia Namir, gerente de Renda e Investimento de Contas Nacionais do IBGE. Segundo ela, “não conseguimos identificar a desigualdade entre os trabalhadores, mas vemos que há mais renda apropriada pelo capital – e menos pelos trabalhadores”.

Com Lula e Dilma, o peso do trabalho no PIB brasileiro se aproximava dos níveis dos países desenvolvidos. Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), esses índices chegam a 48,2% na União Europeia e 53,8% nos Estados Unidos – mas caem para 37% no Chile, 34% na Colômbia e 26,9% no México.

Autor