Descoberta no RS revela fóssil de anfíbio gigante mais antigo que dinossauros
Crânio de 250 milhões de anos encontrado em uma fazenda em Rosário do Sul, a 380 km de Porto Alegre, mostra semelhança entre faunas do Brasil e Rússia
Publicado 24/01/2024 13:28 | Editado 24/01/2024 14:19
No interior do Rio Grande do Sul, pesquisadores do Laboratório de Paleobiologia do Campus São Gabriel da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) fizeram uma descoberta surpreendente que remonta a 250 milhões de anos – cerca de 20 milhões de anos antes dos primeiros dinossauros. Em uma fazenda em Rosário do Sul, a 380 quilômetros de Porto Alegre, eles encontraram os restos fossilizados de um anfíbio gigante, batizado de Kwatisuchus rosai, que compartilha semelhanças notáveis com os crocodilos atuais.
O fóssil, um pedaço de crânio medindo impressionantes 1,5 metros de comprimento, pertence a uma nova espécie de temnospôndilo, grupo que inclui animais semelhantes a crocodilos. O nome “Kwatisuchus” deriva do termo Tupi para “focinho comprido”, uma alusão à característica afilada do crânio do animal, semelhante aos crocodilos modernos. O epíteto “rosai” presta homenagem ao paleontólogo Átila Stock Da-Rosa, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pioneiro na localização de sítios fossilíferos dessa idade.
“O Kwatisuchus era um sobrevivente. Viveu em um ambiente devastado pela maior extinção em massa da história do planeta”, explica o paleontólogo da Unipampa, Felipe Pinheiro, que coordenou a pesquisa. “Já que eram animais adaptados a condições de alto estresse ambiental, os anfíbios temnospôndilos acabaram se tornando abundantes em todo mundo. Eles nos ajudam a entender como as extinções afetaram o planeta e como podemos reconhecer seus efeitos atualmente”.
A descoberta, realizada em agosto de 2022, foi mantida em sigilo até recentemente, após análises rigorosas dos materiais. O fóssil, encontrado fixado a uma rocha, passou por um meticuloso processo de limpeza e preparação nas instalações da Unipampa.
“Certamente o achado mais emocionante que já participei. Estávamos encerrando as buscas no sítio após encontrar poucos fragmentos ao longo do dia. Foi quando notei o que parecia ser um pedaço de osso mais alongado, e apenas no momento de sua coleta é que percebemos que se tratava de um pedaço do crânio em perfeitas condições! E já, ali mesmo, sabíamos que se tratava de algo fantástico e completamente novo!”, conta Voltaire D. Paes Neto, pesquisador em uma parceria entre a Unipampa e a Universidade de Harvard.
O achado também surpreendeu os pesquisadores ao revelar que os parentes mais próximos do Kwatisuchus foram todos encontrados na Rússia, sugerindo uma intrigante conexão entre as faunas brasileiras e russas em um passado remoto.
“Naquele momento, os continentes estavam unidos em um supercontinente chamado Pangeia e a distância entre o Brasil e a Rússia era menor. Ainda assim, existiam barreiras. É incrível encontrar esse e outros animais que provavelmente conseguiram ultrapassar esses obstáculos. Participar do achado dessa nova espécie foi muito emocionante e suas similaridades com espécies russas instigam novos estudos para entender como essas conexões se deram”, explica a ecóloga e paleontóloga Arielli Fabrício Machado, pesquisadora da Unipampa, em parceria com a Universidade de Harvard.
O estudo, que acaba de ser publicado na revista científica especializada The Anatomical Record, é apoiada por um financiamento da Lemann-Brasil concedida à professora de Harvard, Stephanie Pierce, em colaboração com Felipe Pinheiro e o ex-pesquisador de Harvard e coautor Tiago Simões, atualmente na Universidade de Princeton.
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com informações da Unipampa