Por que a popularidade de Lula não cresce?

Há mais brasileiros acreditando que o emprego, a renda, saúde e a educação vão melhorar. Quando o assunto é segurança, porém, os brasileiros se dividem

Foto: Ricardo Stuckert / PR

A aprovação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém estável há quatro meses, mas os brasileiros têm cada vez mais expectativas positivas com o governo. É o que aponta a nova rodada da pesquisa do Instituto MDA, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada nesta terça-feira (23).

Em números arredondados, 55% dos eleitores aprovam o desempenho pessoal de Lula como presidente – percentual similar ao do levantamento anterior, feito entre 27 de setembro e 1º de outubro de 2023. A rejeição oscilou dentro da margem de erro, indo de 39% para 40%

Com relação ao conjunto do governo, a avaliação positiva passou de 41% para 43%, enquanto a negativa foi de 27% para 28%. Para outros 28%, a gestão é regular. A pesquisa CNT/MDA ouviu presencialmente 2.002 pessoas, em todas as regiões do País, de 18 a 21 de janeiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Na base de apoio ao governo, há razoável consenso de que o primeiro ano deste terceiro mandato de Lula foi de entregas. A percepção de que o Brasil, em geral, está melhor após a saída de Jair Bolsonaro (PL) do poder também tem respaldo na opinião pública. Por que, então, a popularidade do governo e do próprio Lula se mantém praticamente inalterada e não cresce?

Por regra, mandatários com apenas um ano de governo só tendem a exibir aprovação elevada se tiverem vencido a eleição e chegado ao cargo com grande adesão popular. Com “gordura para queimar”, esses governantes podem se dar ao luxo de arriscar a tomar medidas mais polêmicas, que eventualmente desagradem segmentos do eleitorado, mas se tornam marcas de gestão.

Lula não tem essa gordura. Eleito em 2022 com exíguos 50,90% dos votos válidos, contra 49,10% de Bolsonaro, o petista ainda enfrenta dificuldades para ampliar sua base num Congresso majoritariamente conservador e repleto de bolsonaristas. As pautas econômicas têm prevalecido, mas cada uma delas demanda muita articulação – e concessões – para ser aprovada. O tempo do Executivo tem sido o tempo do Legislativo.

Mas a pesquisa CNT/MDA também mostra trunfos e gargalos do governo. Recortes da sondagem revelam nichos em que Lula ainda enfrenta resistência. A rejeição ao governo é maior que a aprovação em poucos – mas significativos – segmentos: entre quem ganha mais de cinco salários mínimos, tem nível superior, mora no Sul ou é evangélico.  

“Lula encerra seu primeiro ano de governo com avaliação positiva e mantendo índices favoráveis de avaliação de sua gestão, em especial na economia, saúde, educação e benefícios aos mais pobres”, diz Vander Costa, presidente da CNT. “O crescimento da geração de emprego e a queda da inflação projetam um cenário mais positivo para 2024. Para avançar na popularidade, contudo, o governo precisará se conectar mais com evangélicos e com o público de maior renda e escolaridade.”

Um dado curioso foi captado numa das perguntas destinadas aos 40% que desaprovam Lula. O instituto questionou se eles poderiam eventualmente apoiar o governo caso o presidente consiga “reduzir a inflação, melhorar a economia, reduzir o desemprego e melhorar a qualidade de vida do brasileiro”. Nada menos que 63,3% disseram que sim.

A contradição é que, já no primeiro ano de governo, a inflação caiu, os indicadores econômicos melhoraram e o desemprego diminuiu. Por que, mesmo assim, esses brasileiros continuaram hostis à gestão Lula? Ou a comunicação oficial é falha demais, ou essas conquistas ainda não representam uma melhoria efetiva nas condições de vida da família.

Tanto que, segundo a pesquisa, dois terços dos brasileiros (66%) dizem não ter notado “alguma ação direta do governo Lula” onde moram, “seja investimentos em rodovias, educação, saúde, segurança, infraestrutura, melhora na economia local, dentre outras ações”. Se é necessário “ver para crer”, o governo, de fato, precisa se comunicar melhor e prestar contas do que tem feito.

Ainda assim, há mais brasileiros crentes do que descrentes em que o emprego, a renda, saúde e a educação vão melhorar. Quando o assunto é segurança, porém, os brasileiros se dividem: 31% acham que a área vai melhorar, 29% que vai piorar e 39% que vai ficar igual.

“Após o primeiro ano do governo Lula, as expectativas para os próximos meses se mantêm positivas, em especial nos temas que são prioritários para a população, como economia, saúde e educação. É preciso atenção com ações que envolvem a segurança pública, já que é onde apresenta as piores avaliações”, afirma Marcelo Souza, diretor do Instituto MDA.

O governo já sabe onde o humor dos brasileiros está mais sensível. Avançar nessas áreas, conseguir resultados e divulgá-los melhor é o desafio. Há tempo de alcançar mais apoio antes das eleições municipais de 2024, desde que a comunicação do governo Lula saia da zona de conforto. A esperar.

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