Relatório notifica assassinatos de 257 LGBT+ no Brasil, em 2023
Pela primeira vez, Sudeste foi a região com maior número de violência notificada, e mortes de travestis e transsexuais femininas ultrapassaram os assassinatos de gays.
Publicado 22/01/2024 19:01 | Editado 22/01/2024 19:20
No ano passado, 257 pessoas LGBTQIA+ foram vítimas de mortes violentas no Brasil, conforme divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga organização não governamental LGBT da América Latina. O país manteve sua triste classificação como o mais homotransfóbico do mundo em 2023, com uma pessoa LGBTQIA+ perdendo a vida de forma violenta a cada 34 horas.
Os dados, coletados há 44 anos pela ONG por meio de notícias, pesquisas e informações de familiares, alertam que o número pode ser ainda maior, com 20 mortes ainda em apuração, podendo elevar o total para até 277 casos. O estudo admite, ainda, um índice de subnotificação, já que muitas vezes é omitida a orientação sexual ou identidade em tais publicações fúnebres.
Das mortes registradas, 127 foram de pessoas travestis e transgêneros, 118 gays, nove lésbicas e três bissexuais. O relatório destaca que 67% das vítimas eram jovens entre 19 e 45 anos, incluindo o mais jovem, de apenas 13 anos, morto em Sinop, Mato Grosso, após uma tentativa de estupro.
Das 257 mortes, 204 foram classificadas como homicídios, 17 como latrocínios e 20 como suicídios, seis a mais do que em 2022. Quanto ao local da violência, 29,5% das vítimas morreram em casa, enquanto 40% perderam a vida nas ruas ou espaços externos. O padrão persistente inclui travestis sendo assassinadas a tiros em pistas, terrenos baldios, estradas, motéis e pousadas, enquanto gays e lésbicas são mortos a facadas ou com ferramentas domésticas, principalmente dentro de seus apartamentos.
O relatório destaca que, em 44 anos de pesquisa, pela primeira vez travestis e transexuais ultrapassaram os gays no número de mortes violentas.
Sudeste
Um dado alarmante é o aumento de 59% nas mortes na Região Sudeste, saltando de 63 casos em 2022 para 100 em 2023, assumindo o primeiro lugar nacional pela primeira vez em 44 anos. A Região Nordeste ficou em segundo lugar, com 94 mortes, seguida pelas regiões Sul (24 óbitos), Centro-Oeste (22) e Norte (17).
Contrariando a expectativa de que maior escolaridade e melhor qualidade de vida reduziriam esses índices, os dados revelam que esses fatores não têm funcionado como anteparos contra essa violência letal.
São Paulo lidera com 34 mortes, seguido por Minas Gerais (30), Rio de Janeiro (28), Bahia (22) e Ceará (21). O Grupo Gay da Bahia destaca a urgência de ações e políticas públicas efetivas para combater a violência direcionada à comunidade LGBTQIA+, começando pela contabilização oficial dessas mortes. A subnotificação é evidenciada pela elucidação de apenas 77 casos pelas autoridades policiais, refletindo a falta de monitoramento efetivo da violência homotransfóbica pelo Estado brasileiro.
Conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os LGBTQIA+ brancos como categoria isolada é majoritária com 14,39%, seguida dos pardos (10,50%) e pretos (10,89%). Se agrupados, pardos e pretos totalizam 21,39%.