Para a CGU, cada vida perdida em Brumadinho só vale R$ 67

Mesmo após inspeção da Tüv Süd não apontar irregularidades em 2019, barragem da Vale rompeu em 25 de janeiro de 2019, deixando 270 mortos

A Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho) está na luta para revisar a multa que a CGU (Controladoria Geral da União) quer cobrar da Tüv Süd Industries Service. Responsável pela inspeção da barragem de rejeitos de minério de ferro em 2018, a multinacional alemã não apontou irregularidades.

A barragem da Vale, porém, rompeu em 25 de janeiro de 2019, deixando 270 mortos. O número de vítimas chega a 272, se foram contados dois bebês que estavam na barriga de mulheres grávidas que morreram devido à tragédia. A Tüv Süd virou ré no caso em 2023. Como a multa aplicada pela CGU à empresa foi de R$ 18 mil, cada vida perdida vale R$ 67 – ou R$ 66,95.

A área técnica da Controladoria havia proposto uma multa de R$ 22,7 milhões, calculada de acordo com o faturamento da multinacional. Na Justiça, executivos da Tüv Süd se tornaram réus, acusados de homicídio qualificado, a exemplo dos executivos da Vale. Mas, numa manobra que causou “indignação e revolta” aos familiares da vítima, a CGU decidiu considerar apenas o faturamento da filial brasileira da Tüv Süd, isentando a matriz europeia. A redução foi de mais de 99%.

Em ofício a Vinicius Carvalho, ministro da CGU, a Avabrum cobrou uma audiência para debater a multa irrisória. “O Estado e a sociedade brasileira, em memória e honra de 272 vidas, não podem sinalizar para as empresas envolvidas em um crime, objeto de processo em andamento no Judiciário federal, que a impunidade é permitida. A diretoria da Avabrum fica à disposição para o diálogo e entendimento, no que for pertinente, rogando para que tal decisão seja desconsiderada e revista”.

Para Josiane Melo, diretora da entidade, a batalha por reparações justas vai continuar. “O foco das ações da Avabrum é justiça em todas as esferas. Essa multa irrisória de só R$ 66 é uma injustiça que precisa ser combatida”, declarou Josiane ao jornal O Tempo. “O mundo não pode esquecer Brumadinho. As empresas envolvidas em um crime não podem ficar impunes.”

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