14 mortes em tempestade na Argentina põem em xeque negacionismo de Milei
Novo governo deu sinais de que pretende incentivar a implantação de indústrias nas margens do rio Paraná, o que pode prejudicar os países que são banhados por eles
Publicado 19/12/2023 11:55 | Editado 19/12/2023 18:44

Rajadas de vento a 180 km/h, pedras de granizo do tamanho de uma manga e chuvas de um mês registradas em poucas horas. Foi assim que a imprensa argentina reportou o evento climático que atingiu a província de Buenos Aires, neste final de semana, e que deixou 14 pessoas mortas, milhares sem luz e dezenas de bairros em situação crítica.
Menos de dez dias depois da posse, o novo presidente e líder da extrema-direita enfrenta a primeira crise climática do seu governo, tendo que encarar a realidade concreta das mudanças climáticas, apesar de suas declarações negacionistas.
Nesta segunda (18), o Centro de Prevenção de Crescentes do Serviço de Hidografia Naval, do ministério da Defesa argentino, alertou para uma possível grande enchente do rio da Prata.
Alguns registros oficiais dão conta que as ruas das Cidade Autônoma de Buenos Aires, assim como Tigres, San Fernando, Avellaneda e Quilmes estão alagando com maior frequência. Na cidade de Enseada, também na região metropolitana da capital, cerca de 70 pessoas foram evacuadas por precaução e levadas para o ginásio polidesportivo local devido as enchentes.
Vientos huracanados en Argentina, han movido un avión en tierra. Impresionante! pic.twitter.com/xrguvNdnXO
— Fer???? (@FerVeneppon) December 17, 2023
Se uma tormenta não pode ser considerada consequência direta das mudanças climáticas, as condições que propiciam a aparição delas estão cada vez mais recorrentes por causa das consequências das ações humanas.
O anarcocapistalista, no entanto, já atribuiu as discussões climáticas ao “marxismo cultural” e, ao longo da campanha eleitoral, manifestou a intenção de retirar seu país do Acordo de Paris, assim com o fez o ex-presidente Donald Trump, durante seu mandato.
Em meio ao processo de transição com o governo do ex-presidente Alberto Fernández, o líder da extrema-direita argentina mandou apenas uma diplomata para a COP 28, nos Emirados Árabes Unidos.
Apesar do peso da Argentina nas negociações de cúpula não ser tão grande quanto o de países como Brasil, Estados Unidos e China, um governo negacionista pode impactar no bem-estar da população do seu país e dos vizinhos.
O descaso de Milei pode impactar, por exemplo, a governança das fronteiras hídricas e terrestres da Argentina com Paraguai e Brasil. O novo governo já deu sinais de que pretende incentivar a implantação de indústrias nas margens da Bacia do Paraná, o que pode poluir os rios de maneira desmedida e prejudicar os países que são banhados por eles.
Milei chegou a defender que as empresas teriam o direito de poluir os rios à vontade, enquanto seu plano motoserra prevê reduções significantes das verbas destinadas às universidades públicas e aos institutos de pesquisa.
❗??? – In Argentina, a sofa simply went flying during the strong storm that hit the country's capital, Buenos Aires. pic.twitter.com/OmQIdWtjzx
— ??The Informant (@theinformantofc) December 18, 2023
Neste domingo (17), vestido com um casaca militar, Milei se reuniu com o comitê de crise na cidade de Bahía Blanca, na província de Buenos Aires. A cidade foi uma das mais atingidas pela tormenta e registrou 13 mortes.
O presidente se comprometeu em ajudar a região e classificou a situação como um “desastre” e destacou o trabalho “integrado que foi realizado nas áreas afetadas, sem distinção de partidos ou ideologias, com a mera intenção de preservar a vida”.
Nesta segunda (18), no entanto, Milei foi cobrado pela jornalista Cynthia García que, em editorial, afirmou que o líder da extrema-direita “não tinha nenhuma solução em mãos” durante a entrevista coletiva que concedeu ao lado de ministros, alguns, como o próprio presidente, fardado com trajes militares.
“Não poderia ser real que o Presidente e o seu ministro da Defesa se vestissem como para ir a uma guerra”, disse a jornalista. “A guerra contra quem? Contra a negação da mudança climática? Contra a mudança climática mística? Quem quer vencer com essa imagem?”, concluiu.