Biden afirma que Israel está perdendo apoio internacional
Biden chamou os ataques aéreos de “bombardeios indiscriminados” contra civis. São as críticas mais fortes ao governo de Netanyahu desde o início das agressões
Publicado 13/12/2023 08:28 | Editado 15/12/2023 08:46
O presidente dos Estados Unidos Joe Biden afirmou nesta terça (13) que o governo de Israel está perdendo o apoio internacional devido a seus “bombardeios indiscriminados” contra Gaza.
As declarações de Biden foram feitas a doadores democratas, em Washigton, durante um evento de arrecadação para sua campanha eleitoral de 2024.
“Continuaremos a fornecer assistência militar a Israel até que eles se livrem do Hamas, mas precisamos ter cuidado. Eles precisam ter cuidado. A opinião pública mundial pode mudar da noite para o dia, não podemos permitir que isso aconteça”, disse o presidente americano.
Os comentários foram feitos em conversas informais e não gravadas, e são as críticas mais fortes a Israel até agora.
Até então, Biden vinha apresentando apoio público inabalável ao país desde 7 de outubro, quando o Hamas lançou a operação Al-Aqsa, que matou cerca de 1.200 israelenses e sequestrou mais de 200 pessoas.
De lá para cá, Israel iniciou uma contraofensiva sem precedentes que já deixou mais de 18 mil vítimas fatais e cerca de 50 mil feridos. Desde o ataque surpresa do Hamas, Israel cortou todo o tráfego comercial e de ajuda humanitária para Gaza.
A violência desproporcional de Israel não se dá apenas com os bombardeios e com a incursão terrestre. O bloqueio impede que a ajuda humanitária adentre o enclave, forçando os palestinos a viver sem eletricidade, combustível, água e remédios.
Segundo as agências da ONU que operam lá, praticamente não há gás ou qualquer outro combustível em Gaza, então alguns construíram fornos improvisados de barro ou metal para cozinhar. Lenha e carvão também praticamente acabaram, levando as famílias a queimar portas, persianas e molduras de janelas desmontadas, papelão e mato. Alguns simplesmente não cozinham, comendo cebolas e berinjelas cruas em vez disso.
Nesta terça, o exército de ocupação israelense lançou ataques aéreos por toda a Faixa de Gaza e matou pelo menos 23 pessoas em Rafah, incluindo sete crianças e seis mulheres.
O presidente Joe Biden chamou os ataques aéreos de bombardeios “indiscriminados” de civis na guerra que, declaradamente, é contra o Hamas. Biden afirmou que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, precisa moderar seu governo linha-dura para encontrar uma solução de longo prazo para o conflito.
“Este é o governo mais conservador na história de Israel”, disse o presidente, acrescentando que o governo israelense “não quer uma solução de dois Estados”.
Biden acrescentou que Israel está começando a perder apoio em todo o mundo e que Netanyahu “precisa fortalecer e mudar” o governo israelense para encontrar uma solução de longo prazo para o conflito israelense-palestino.
“A segurança de Israel pode se firmar nos Estados Unidos, mas neste momento, há mais do que os Estados Unidos. Tem a União Europeia, tem a Europa, tem a maior parte do mundo”, disse ele aos doadores em Washington.
“Mas eles estão começando a perder esse apoio com os bombardeios indiscriminados”, disse ele. Biden, no entanto, acrescentou que “não há dúvidas sobre a necessidade de enfrentar o Hamas” e que Israel tem “todo o direito” de fazê-lo.
Biden vem enfrentado uma pressão crescente para controlar a campanha militar israelense. Segundo fontes da imprensa internacional, os democratas começaram a se irritar com a desproporcionalidade dos ataques.
Funcionários do alto escalão dos EUA também têm demonstrado crescente insatisfação com a resposta militar de Israel.
As declarações de Biden alinham-se aos recentes posicionamentos de seu governo sobre a guerra — que já exortou Israel a “valorizar a vida humana” e a dar instruções mais claras para permitir que as pessoas escapem do conflito.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse há poucos dias que havia uma “lacuna” entre as promessas das autoridades israelenses de poupar os civis em Gaza e a realidade.
Divergências para o pós-guerra
Os comentários do presidente americano Joe Biden refletem uma crescente divisão sobre o que acontecerá no pós-guerra. Os apelos dos Estados Unidos para que o governo de Gaza seja entregue a Autoridade Palestina foram recebidos com frieza pelo governo Netanyahu.
Nesta terça, Netanyahu reconheceu que há um “desacordo” entre os aliados sobre a fase pós-Hamas. O premiê dirigiu-se aos israelenses em um vídeo publicado em suas redes sociais descartando qualquer papel para o Fatah e Hamas em Gaza após o fim da guerra.
“Após o grande sacrifício de nossos civis e soldados, não permitirei a entrada em Gaza daqueles que educam para o terrorismo, apoiam o terrorismo e financiam o terrorismo”, disse Netanyahu. “Gaza não será nem Hamas, nem Fatah”, acrescentou.
Uma das medidas defendidas por Washington é a solução de dois Estados, isto é, a criação de um Estado palestino, o que é rejeitado pela extrema-direita israelense.
“Temos uma oportunidade de começar a unir a região. E eles ainda querem fazer isso. Mas temos de nos certificar de que Netanyahu entenda que ele precisa tomar algumas medidas para se fortalecer. Você não pode dizer ‘não’ a um Estado palestino. Essa será a parte difícil”, afirmou o presidente Biden.