Ao Conselhão, Lula presta contas do 1º ano de mandato
Presidente compartilhou as conquistas com a frente ampla que lhe deu sustentação desde a campanha eleitoral – e que está agora representada no Conselhão
Publicado 13/12/2023 16:12 | Editado 14/12/2023 14:00
Por causa da rouquidão e da tosse, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quase desistiu de falar na última plenária do ano do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado Conselhão. Mas o presidente não resistiu e usou a agenda desta terça-feira (12), em Brasília, para prestar contas do primeiro ano de seu mandato.
Antes de Lula, porém, o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, fez bem em lembrar que, a depender das previsões de supostos especialistas, esse início de gestão seria catastrófico. “A gente termina o ano superando as expectativas de muitos. No começo do ano, tinha muito analista semeando o pessimismo”, cutucou Padilha.
Segundo o ministro, é a primeira vez em sete anos que o País apresenta avanços simultâneos em três importantes indicadores econômicos: “crescimento econômico de 3%, inflação controlada e desemprego em queda, com a taxa de 7,6%, menos de 8%”. Talvez o próprio governo Lula tenha se surpreendido, por exemplo, com o patamar de cerca de 2 milhões de empregos abertos em 2023. Não foi um ano perdido, mesmo com os atos golpistas perpetrados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Lula compartilhou as conquistas com a frente ampla que lhe deu sustentação desde a campanha eleitoral – e que está agora representada no Conselhão. Recriado em seu governo, o colegiado é composto por 246 personalidades e lideranças, que fizeram mais de cem reuniões em 2023.
“Vocês perceberam que não é difícil governar um país, não é difícil governar uma cidade ou um estado. Basta que a gente tenha a capacidade de ouvir as pessoas e aprender com as pessoas”, afirmou Lula. A seu ver, há preconceito com os investimentos no País. “Quanto custou a este país não tomar as decisões na época certa? A gente poderia ter resolvido muitos problemas.”
O presidente disse que cabe a ele ter “decisão política” para que o Brasil dê “o salto de qualidade”, o que inclui sacrificar o déficit zero: “Se for necessário esse país fazer um endividamento para esse país crescer, qual é o problema? Qual é o problema de você fazer uma dívida para produzir ativos produtivos para esse país?”.
Na sequência, ironizando os pessimistas, Lula deu números do primeiro ano de governo: “Somos um país de 200 milhões de habitantes que, só neste ano, abriu 71 novos mercados para o nosso agronegócio. Este país tem um projeto de investimento de R$ 1,7 trilhão, que é o PAC Novo. Este país tem um compromisso de fazer mais 2 milhões de casas novas, além de recuperar as outras 187 mil casas que não foram construídas, esse país que tem quase 10 mil obras de construção”.
Ainda assim, o presidente ponderou que o ano inaugural de seu terceiro mandato serviu, essencialmente, para “arrumar a casa, consertar, colocar as coisas no lugar”, depois de quatro anos do governo de destruição de Jair Bolonaro (PL). O que virá agora, com a “casa em ordem”, para ficar na metáfora? “Eu tenho dito o seguinte: se preparem, porque o ano que vem a economia brasileira não vai decepcionar”, diz Lula.
Em parte, esse otimismo se deve a investimentos que foram anunciados em 2023, mas que resultarão em entregas nos próximos anos. Lula citou recursos oriundos de bancos públicos (Caixa, Banco do Brasil e BNDES) – mas também de ministérios como Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Ciência, Tecnologia e Inovação, entre outros. Apesar das sequelas bolsonaristas, muitos desses investimentos são os maiores na história desse órgãos federais.
“Fico me perguntando: aonde que esse dinheiro vai parar?”, continuou o presidente. “Esse dinheiro vai começar a gerar emprego no ano que vem. Esse emprego vai começar a gerar consumo no ano que vem. Esse dinheiro vai começar a gerar melhoria da vida do povo.”
O discurso de Lula se voltou também ao programa Desenrola. O presidente elogiou nominalmente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas disse estar preocupado porque apenas 10 milhões de brasileiros, de um total de 72 milhões de endividados, aderiram à negociação. Desses 10 milhões, segundo Lula, 8,7 milhões deviam até R$ 100. “Cadê os devedores que não apareceram fazendo negociação de até 90% de desconto? Eu não sei se é por causa da publicidade nossa, mas nós vamos continuar.”
Para o presidente, uma das missões do governo é fazer com que todo e qualquer brasileiro se sinta cidadão “para que ele volte a consumir” e ajude a estimular a economia. “Somente com consumo vai ter indústria. Somente com indústria vai ter salário. Somente com salário vai ter distribuição de renda”, sintetizou.
A plenária também foi de escuta. Lula esperou as falas dos representantes dos diversos grupos temáticos do Conselhão, que apresentaram resultados e recomendações. “Temos o caminho das pedras e temos que decidir agora se nós vamos retirar essas pedras ou não”, concluiu Lula.
Segundo o Planalto, a lista de propostas envolve temas como “recuperação de áreas degradadas, criação de uma política integrada para a primeira infância, lançamento de um conjunto de polos tecnológicos de alto impacto, medidas para acesso ao crédito para micro e pequenas empresas de forma menos concentrada nos grandes centros urbanos”. Na visão de Lula, o “caminho das pedras” está dado. “Temos que decidir agora se nós vamos retirar essas pedras ou não”.