Israel ignora resolução da ONU e intensifica ataque contra Gaza
Mais: Argentina e os velhos erros da velha direita / PCdoB envia condolências pela morte de Li Keqiang / Cebrapaz exige fim do bloqueio e cessar-fogo imediato em Gaza.
Publicado 28/10/2023 12:07 | Editado 30/10/2023 07:38
Uma importante resolução foi aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira (27) que recomendou uma “trégua duradoura” na Faixa de Gaza e o início negociações. A resolução, aprovada pela ampla maioria das nações (120 votos a favor, 14 contra, e 45 abstenções) recomenda claramente uma “trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada que leve ao fim das hostilidades” (clique aqui e leia a íntegra). Israel, no entanto, intensificou o ataque contra Gaza, que agora está às escuras e sem comunicação. Apesar do placar da aprovação representar uma vitória política que revela o crescente isolamento da dupla EUA/Israel, a resolução será mais uma das centenas que Israel viola, com a certeza da impunidade. Isso por conta do funcionamento da ONU, inalterado, no fundamental, desde sua criação em 1945. As decisões da Assembleia Geral não são impositivas (obrigatórias). O Conselho de Segurança da ONU, que pode tomar medidas efetivas como impor sanções ou mesmo formar forças de paz, nada faz graças ao poder de veto dos Estados Unidos. Os EUA bloquearam os projetos de resolução apresentados pelo Brasil e pela Rússia em relação à crise atual na Faixa de Gaza. Porém, graças à nova configuração de forças que se verifica no mundo, amplia-se o espaço político dos países solidários com o povo palestino. Mesmo o secretário-geral da ONU, António Guterres, conhecido por suas consistentes posições ultra moderadas, na reunião do Conselho de Segurança da última terça-feira (24) afirmou que os “ataques horríveis” de 7 de outubro “não surgiram do nada”, já que “o povo palestino está sob ocupação israelense sufocante há 56 anos”, em um contexto em que “suas esperanças de alcançar uma solução política estão se desvanecendo”.
Israel ignora resolução da ONU e intensifica ataque contra Gaza II
A singela verdade dita pelo secretário-geral desatou a fúria sionista, com Israel exigindo nada menos do que a renúncia de Guterres. Contudo, o placar desta sexta-feira a favor da resolução aprovada, que menciona claramente Israel como “Potência Ocupante” e condena o deslocamento forçado da população palestina, mostra que politicamente a arrogância israelense encontra cada vez menos eco. Mesmo assim, depois da aprovação da resolução na Assembleia Geral, o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, chamou a resolução de “ridícula” e o pedido de trégua imediata, de “audácia”. Neste exato momento, crimes horrendos contra a humanidade estão sendo perpetrados em Gaza. Safwat Kahlout, correspondente da rede de notícias Al Jazeera no norte do enclave, citado pelo site Monitor do Oriente Médio, informou que as pessoas em Gaza estão “em pânico” por causa do blecaute em todos os meios de comunicação do território sitiado e sob constante escalada nos bombardeios. “As pessoas estão com muito, muito medo. As pessoas estão em pânico — sem conseguir se comunicar com outras que foram deslocadas”, declarou Khalout. A ONU, infelizmente, está paralisada entre os apoiadores da guerra e o mundo que exige paz. O que pode acelerar atitudes concretas é o clamor popular. É urgente que se levante cada vez mais forte, em todos os países, o brado da indignação contra a barbárie e por justiça para o sofrido povo palestino.
Argentina e os velhos erros da velha direita
A surpreendente vitória de Sergio Massa (foto) no primeiro turno das eleições presidenciais argentinas, realizado no dia 22/10, foi uma excelente notícia e o debate está aberto, tanto sobre os motivos da “virada” (Javier Milei liderou as PASO) quanto sobre as projeções para o segundo turno, em 19 de novembro, cujas primeiras pesquisas apontam Massa na liderança. Porém, uma coisa chama a atenção: como a velha direita, ou a chamada direita tradicional, repete os velhos erros. Por uma questão puramente pragmática, de sobrevivência política, a direita tradicional argentina deveria apoiar Sergio Massa. Claro, o ideal seria um apoio que fosse condicionado em primeiro lugar pelo compromisso com a democracia, mas quem ainda espera isso da direita neoliberal também deve esperar o bom velhinho aparecer de trenó no Natal. A defesa da democracia, para essa turma, que enxerga tudo pela ótica mercantil, é o pretexto público depois que uma análise pragmática prove que a ascensão da extrema-direita é, via de regra, acompanhada pelo completo esvaziamento da direita tradicional. Isso tem acontecido em todo lugar: Europa, Israel, América Latina etc. Para constatar este fato basta que os neoliberais argentinos deem uma rápida passada de olhos na situação dos seus congêneres brasileiros.
A argentina e os velhos erros da velha direita II
O PSDB, que desde 1989 era a opção preferencial das elites econômicas brasileiras, ao se aliar tacitamente à extrema-direita com a esperança de utilizá-la como aríete contra a esquerda, viu todo seu espaço ser engolido pelo bolsonarismo. A coligação que reúne o ideário neoliberal argentino, Juntos Pela Mudança (Juntos por el Cambio), está indo pelo mesmo caminho. Quando das primárias, escolheu como candidata a que mais se aproximava do discurso da extrema-direita, Patricia Bullrich, derrotando o direitista moderado, que demarcava com Milei, Horacio Larreta. Resultado, entre a extrema-direita original e sua versão Nutella, passou ao segundo turno a original. Juntos pela Mudança, além de ficar de fora do segundo turno, perdeu 23 cadeiras na Câmara (caiu de 117 para 94) e 6 cadeiras no Senado (caiu de 27 para 21). O partido de Milei (A Liberdade Avança – La Libertad Avanza), ganhou 35 cadeiras na Câmara (cresceu de 3 para 38) e no Senado, onde não tinha representante, agora terá 8 cadeiras. A União pela Pátria (Unión por la Patria), de Sergio Massa, terá a maior bancada da Câmara (108) mas perdeu 10 cadeiras, sendo que no Senado, onde igualmente tem a maior bancada (32 senadores), ganhou uma vaga, o que deixa claro que a extrema-direita cresceu principalmente em cima dos liberais.
A argentina e os velhos erros da velha direita III
Nesta quarta-feira (25), o ex-presidente Mauricio Macri e a candidata do Juntos pela Mudança, Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno (23,83%) reuniram-se e anunciaram o apoio a Javier Milei. Se Sergio Massa vencer, Macri e Patricia serão quase certamente engolidos por uma oposição raivosa liderada pelo neofascista e pouco terão a aspirar além de uma posição de coadjuvantes. Se Milei vencer, serão ou subalternos, no caso de integrarem o governo, ou mais uma vez coadjuvantes, no caso de optarem pela oposição, uma vez que o sentimento oposicionista a Milei será, muito provavelmente, galvanizado pelo peronismo antineoliberal e antifascista personificado principalmente no kirchnerismo. Embora sem dúvida seja um valioso trunfo político para Javier Milei o anúncio do apoio de Macri e Patricia, é duvidosa a dimensão do impacto que isso terá, pois o próprio eleitorado atraído pelo discurso falsamente “antissistema” de Milei pode repudiar a aliança com dois representantes do que seu candidato até há poucos dias identificava como a “casta política” que ele estava destinado a combater. Além disso, tal decisão de Macri e Patricia não foi unânime no Juntos Pela Mudança, que na prática, implodiu. O prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, por exemplo, que foi derrotado por Bullrich nas prévias, declarou apoio a Massa. Ainda assim, diante de um tresloucado neofascista como Javier Milei, que qualificou as vítimas da ditadura militar argentina como “terroristas” e declarou que as Malvinas estão melhores sob ocupação inglesa, Macri e Patricia provam que prevalece, na direita, o ódio atávico a tudo que ameace seus privilégios de classe, sendo a democracia e o patriotismo meros detalhes que, na maioria das vezes, nada significam além de palavras a serem usadas quando for conveniente.
PCdoB envia condolências pela morte de Li Keqiang
Em mensagem enviada ao Secretário Geral do Partido Comunista da China, Xi Jinping, a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, e a Secretária de Relações Internacionais, Ana Prestes, expressaram, em nome do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o pesar pela morte do importante dirigente Li Keqiang, que faleceu de ataque cardíaco, nesta sexta-feira, aos 68 anos (leia a íntegra da nota, clicando aqui). No texto, o partido expressa que Keqiang foi um “importante dirigente com quase 50 anos de dedicação ao trabalho revolucionário nas fileiras do Partido Comunista da China. Li Keqiang sempre atuou com grande disciplina e competência, chegando a ocupar altos postos de responsabilidade no partido e no Estado, como o de primeiro-ministro e membro permanente do Birô Político dos Comitês Centrais do 17º, 18º e 19º Congressos”. No mesmo dia, a embaixada da República Popular da China no Brasil, respondeu à mensagem do PCdoB: “A vida do camarada Li Keqiang foi uma vida de revolução, uma vida de luta, uma vida de glória, uma vida de serviço ao povo de todo o coração e uma vida de devoção à causa do comunismo. Sua morte é uma grande perda para o partido e para o país. Devemos transformar a dor em força, aprender com o seu espírito revolucionário, caráter nobre e estilo requintado, e trabalhar juntos em unidade para promover de forma abrangente a construção de um país forte e a grande causa do rejuvenescimento nacional com a modernização ao estilo chinês. Agradecemos pela mensagem de condolências”.
Cebrapaz exige fim do bloqueio e cessar-fogo imediato em Gaza
A Direção Nacional do Cebrapaz aprovou, em reunião na última quarta-feira, um manifesto em que faz “um veemente chamado pelo fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o imediato estabelecimento do cessar-fogo, como solução emergencial para deter os crimes de lesa-humanidade que estão sendo praticados por Israel contra o povo palestino, com o apoio do imperialismo estadunidense. O povo palestino mais uma vez está sendo martirizado por bombardeios intensos e maciços, pelo deslocamento forçado de mais de um milhão de pessoas e por um insuportável cerco que há 17 anos vem acarretando uma extensa e profunda tragédia humanitária (…) São insuportáveis os sofrimentos do povo palestino: perdas de vidas, destruição e trauma contínuos. É chegada a hora de darmos um passo decisivo em direção à paz, o que requer ampla solidariedade e coexistência pacífica. Exigimos o imediato cessar-fogo em Gaza. É hora de acabar com o ciclo de destruição e sofrimento”. O texto pode ser lido na íntegra neste link.
“Predestinamo-nos à formação de uma raça histórica em futuro remoto, se o permitir dilatado tempo de vida nacional autônoma. Invertemos, sob este aspecto, a ordem natural dos fatos. A nossa evolução biológica reclama a garantia da evolução social. Estamos condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos”.
Euclides da Cunha, em Os Sertões (1902)