Hezbollah, Hamas e Jihad Islâmica discutem estratégia sobre conflito na Palestina

Autoridades das frentes de defensa da Palestina se reuniram em local não divulgado para fortalecer sua aliança para “alcançar uma vitória total” sobre Israel.

A reunião inesperada do segundo general da Jihad Islâmica da Palestina, Ziad Al-Nakhalah, e Saleh al-Arouri, vice-presidente do Hamas, com Seyyed Hassan Nasrallah, o segundo general do Hezbollah libanês, para acompanhar a evolução diária e permanente [do conflito].

Nesta quarta-feira (25), o chefe do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, reuniu-se com vice-chefe do Hamas, Saleh al-Arouri, e o chefe da Jihad Islâmica, Ziad al-Nakhala para traçar estratégias sobre como “parar o ataque brutal ao povo oprimido de Gaza e da Cisjordânia”, informou o grupo libanês, segundo a mídia estatal libanesa Al-Manar.

“Os líderes abordaram os últimos desenvolvimentos desde o início da operação Dilúvio de Al-Aqsa [os atentados de 7 de outubro] e os eventos que se seguiram em todas as frentes, incluindo os confrontos através da fronteira entre o Líbano e a Palestina ocupada. Sayyed Nasrallah avaliou com Nakhale e al-Arouri as posições internacionais e regionais, bem como as medidas a serem tomadas pelo Eixo da Resistência nesta fase crítica, a fim de alcançar uma vitória total e parar o ataque brutal ao povo oprimido de Gaza e da Cisjordânia”, disse o comunicado do Hezbollah citado pela mídia.

Desde o ataque de 7 de outubro, o Hezbollah tem mantido trocas de tiros quase diárias com as forças israelitas ao longo da fronteira israelo-libanesa. O grupo anunciou hoje (25) que mais dois dos seus combatentes foram mortos, aumentando o número de militantes mortos para 40 desde o início do conflito.


Irradiação do conflito

Em entrevista ao Portal Vermelho, o dirigente de Organização do Partido Comunista Libanês, Firas Al-Masry, disse que o Hezbollah, estabeleceu duas “linhas vermelhas” para seu envolvimento: o deslocamento forçado do povo palestino de suas terras e uma invasão terrestre israelense que ameace a resistência palestina. O líder do Partido Comunista Libanês enfatizou que a resistência está pronta para intervir caso essas linhas vermelhas sejam cruzadas, acreditando que este é o momento para forças da resistência regional fazerem a diferença em apoio à causa palestina. 

O dirigente comunista descreveu uma resposta heróica e profissional da resistência, causando perdas significativas ao exército israelense. O confronto ocorreu dentro das fronteiras do Líbano, com baixas no lado israelense. O libanês lamentou a falta de cobertura midiática internacional sobre esses eventos. Segundo ele, esta resistência “heróica” ocorre, apesar da instabilidade econômica e política no país, que encontra-se desgovernado por um sistema político sectário e “desastroso”, e uma inflação que deteriorou profundamente a vida dos trabalhadores libaneses.

Em meio a temores de que o conflito possa se espalhar por todo o Oriente Médio, os militares de Israel disseram que seus jatos também atingiram a infraestrutura do exército sírio em resposta a foguetes lançados do país vizinho. A agência de notícias da Síria (SANA) citou uma fonte militar, ao informaque que o ataque israelense matou oito soldados e feriu sete outros perto da cidade de Deraa, no sudoeste.

Ontem (24), o Ministério da Saúde disse que 704 palestinos, incluindo 305 crianças, foram mortos enquanto Israel intensifica a sua agressão contra o enclave. Até o momento, o embate entre Israel e Hamas matou 1.400 israelenses e 6.500 palestinos.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) disse que o número de mortos de terça-feira (24) foi o mais alto relatado em um único dia desde o início do conflito.

Ao mesmo tempo, autoridades israelenses têm alertado o Hezbollah sobre a escalada. Segundo Tzachi Hanegbi, conselheiro de Segurança Nacional do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Tel Aviv “passou mensagens” para o Hezbollah para desencorajar o grupo de se juntar ao Hamas em uma guerra contra o Estado judeu.

“Nosso objetivo é não sermos arrastados para uma guerra em duas frentes. Achamos que o Hezbollah não vai convidar à destruição do Líbano, porque não será menos do que isso se houver uma guerra lá”, disse Hanegbi, conforme noticiado.

Hezbollah

Sayyed Hashem Safieddine, alto funcionário do Hezbollah, fala enquanto apoiadores do grupo baseado no Líbano participam de um comício para expressar solidariedade aos palestinos

O Hezbollah, que significa “Partido de Deus”, é um grupo armado e político xiita apoiado pelo Irã e que foi formado em 1982 para combater a ocupação israelense do sul do Líbano. Os grupos palestinos no Líbano incluem ainda o Hamas, o partido secular Fatah e a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP).

Surgiu dos grupos armados formados pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, na sequência da invasão do Líbano por Israel em 1982. O grupo, que encontra o seu apoio entre os muçulmanos xiitas, é um dos maiores inimigos de Israel na região.

Em 2021, o líder Hassan Nasrallah afirmou que o Hezbollah tinha 100.000 combatentes. O grupo possui foguetes de precisão e afirma que podem atingir todas as partes de Israel. Os Estados Unidos estimam que o Irã atribuiu centenas de milhões de dólares anualmente ao Hezbollah.

O grupo, liderado por Nasrallah desde 1992, é um dos blocos mais influentes no sistema político sectário do Líbano, contando com o apoio de uma grande parte da população xiita. O grupo é frequentemente apelidado de “um estado dentro do estado” devido à sua vasta rede de forças políticas e militares instaladas num país dividido por linhas sectárias.

As forças israelenses retiraram-se unilateralmente do sul do Líbano em 2000, após quase 20 anos de combates mortais, o que levou o Hezbollah a proclamar-se o primeiro exército árabe a forçar Israel a ceder o controle do território.

Hamas

Combatentes palestinos no norte da Faixa de Gaza dirigem um veículo militar israelense que foi apreendido depois que o Hamas entrou em áreas do sul de Israel em 7 de outubro de 2023

O Hezbollah e o Hamas são entidades separadas, mas partilham o objetivo comum de resistência armada contra Israel. Enquanto o Hezbollah é uma organização libanesa, o Hamas é um grupo palestino que foi formado em Gaza em 1987, após o início da primeira Intifada, uma revolta contra a ocupação dos territórios palestinos por Israel. O Hamas controla politicamente a Faixa de Gaza depois de vencer as eleições em 2006.

O último conflito colocou em destaque o bloqueio de 16 anos de Israel à Faixa de Gaza e a sua política de expansão dos colonatos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental.

Os líderes do Hezbollah e do Hamas se reuniram em 2020 para discutir a normalização da relação entre Israel e os países árabes. Num comunicado, o Hezbollah explicitou que o ataque do Hamas foi uma “resposta decisiva à contínua ocupação de Israel e uma mensagem para aqueles que procuram a normalização com Israel ”, referindo-se aos países árabes que procuram normalizar os laços com Israel.

Hamas significa Movimento de Resistência Islâmica e em árabe significa “zelo”. O grupo controla politicamente a Faixa de Gaza, um território de cerca de 365 quilômetros quadrados que abriga mais de dois milhões de pessoas, mas que está bloqueado por Israel.

O Hamas está no poder na Faixa de Gaza desde 2007, após uma breve guerra contra as forças do Fatah leais ao presidente Mahmoud Abbas, chefe da Autoridade Palestina e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

O movimento Hamas foi fundado em Gaza em 1987 por um imã, o xeque Ahmed Yasin, e o seu assessor Abdul Aziz al-Rantissi, pouco depois do início da primeira Intifada, uma revolta contra a ocupação dos territórios palestinianos por Israel.

O movimento começou como uma ramificação da Irmandade Muçulmana no Egipto e criou um braço militar, as Brigadas Izz al-Din al-Qassam, para prosseguir uma luta armada contra Israel com o objetivo de libertar a Palestina histórica.

Ao contrário da OLP, o Hamas não reconhece a condição de Estado de Israel, mas aceita um Estado palestino nas fronteiras de 1967. “Não renunciaremos a um centímetro do território palestiniano, independentemente das pressões recentes e da duração da ocupação”, disse Khaled Meshaal, o líder no exílio do grupo palestiniano, em 2017.

O Hamas opõe-se violentamente aos acordos de paz de Oslo negociados por Israel e pela OLP em meados da década de 1990.

O Hamas faz parte de uma aliança regional que também inclui o Irã, a Síria e o grupo Hezbollah no Líbano, que se opõem às políticas dos EUA em relação ao Oriente Médio e a Israel.

O Hamas e a Jihad Islâmica, o segundo maior grupo armado da região, estão frequentemente unidos contra Israel e são os membros mais importantes da sala de operações conjuntas que coordena a atividade militar entre os vários grupos armados em Gaza. Às vezes se desentendem sobre a tática.

O Hamas alega que não estava atacando civis no 7 de outubro, mas colonos. “Não estamos alvejando civis de propósito. Declaramos que os colonos fazem parte da ocupação e fazem parte da força armada israelense. Eles não são civis”, acrescentou. Os colonatos judeus avançam sobre territórios palestinos e expulsam os moradores originais com violência e apoio militar e geralmente são formados por setores mais ortodoxos judaicos com forte ideologia sionista.

Jihad Islâmica

Ainda em agosto de 2022, Israel lançou repetidamente ataques aéreos na Faixa de Gaza, matando pelo menos 15 pessoas, incluindo um comandante do movimento Jihad Islâmica Palestina.

Depois de bombardear Gaza, o primeiro-ministro israelita, Yair Lapid, descreveu a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) como “um representante iraniano que quer destruir o Estado de Israel”.

Embora não possua foguetes de longo alcance como o Hamas – o grupo que governa Gaza, o PIJ possui um arsenal significativo de armas ligeiras, morteiros, foguetes e mísseis antitanque, e um braço armado ativo denominado Brigadas al-Quds.

A Jihad Islâmica é conhecida por se opor ao processo de paz e à abordagem de negociação com Israel. Adota uma luta armada contra a ocupação israelense, mas ao contrário do Hamas, o PIJ recusa-se a participar nas eleições e parece não ter qualquer ambição de formar um governo em Gaza ou na Cisjordânia. A Jihad Islâmica é um aliado muito próximo do Irã, governo com quem suas lideranças já se reuniram publicamente.

A Jihad Islâmica Palestina foi fundada em 1981 por estudantes palestinos no Egito com o objetivo de estabelecer um Estado palestino na Cisjordânia ocupada, em Gaza e em outras áreas do que hoje é Israel. A Jihad Islâmica é o menor dos dois principais grupos palestinos na Faixa de Gaza e é amplamente superado em número pelo grupo governante Hamas.

O Irã fornece à Jihad Islâmica formação, conhecimentos especializados e financiamento, mas a maior parte das armas do grupo é produzida localmente. Embora a sua base seja Gaza, a Jihad Islâmica também tem liderança no Líbano e na Síria, onde mantém laços estreitos com autoridades iranianas.

Tanto o Hamas, que travou seis guerras com Israel desde 2009, o Hezbollah, como o PIJ são listados como “organizações terroristas” pelos EUA e Europa. Há nuances de tolerância de alguns países, como o braço político do Hezbollah no governo do Líbano, mas até países como a Rússia têm restrições a estes grupos. 

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