Analista diz que ordem de evacuação de Israel é cobertura para limpeza étnica

Segundo especialista em Política Palestina, Israel sabe da inviabilidade da expulsão total de cidadãos de Gaza, além de já ter rompido promessa e atacado comboio em fuga.

Brasília (DF) 10/10/2023 – Ato no museu da República em prol do povo Palestino Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Em meio ao caos e à tragédia que se desenrolam na Faixa de Gaza, a voz de Yara Hawari, doutora de Política Palestina da rede Al-Shabaka, ecoa a preocupação e a indignação dos palestinos diante da recente ordem de evacuação imposta por Israel. Em artigo publicado na Aljazira, Yara acusa que a ação de evacuar 1,1 milhões de palestinos no norte da Faixa de Gaza, em meio a ataques incessantes e promessas quebradas, é vista como nada mais do que uma cobertura para a continuação da limpeza étnica que começou em 1948.

“A ordem dá cobertura ao governo israelita para cometer atrocidades em massa, roubar terras e continuar a Nakba que começou em 1948”, diz.

O governo israelense ordenou que os palestinos residentes na região norte da Faixa de Gaza se deslocassem para o sul, alegadamente em preparação para uma iminente invasão terrestre. No entanto, as estradas seguras prometidas se transformaram em armadilhas mortais, com ataques israelenses a comboios de evacuação, resultando na perda trágica de vidas. Para ela, isso representa não apenas uma estratégia militar, mas uma tentativa clara de continuar a Nakba de 1948, o êxodo em massa que levou ao exílio permanente de 750 mil palestinos de suas casas.

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Nos hospitais, médicos e enfermeiros recusam-se a deixar para trás os seus pacientes incapacitados. Muitos se recusam a partir para um exílio que temem ser permanente e perder suas casas e bens para ser tratados como indigentes em algum campo de refugiados. A maioria dos palestinos de Gaza são de famílias deslocadas em 1948. O governo israelense sabe de tudo disso, inclusive que o exílio permanente significa se apropriar de mais território palestino para colonos judeus, como tem ocorrido há 70 anos. Israel nunca obedeceu resoluções internacionais de permitir que refugiados voltem para suas propriedades, como acontece em outras guerras.

“Também sabe que deslocar 1,1 milhões de pessoas num espaço como Gaza, numa questão de horas, é logisticamente impossível. Mas a ordem de evacuação serve o seu propósito – fornece cobertura para o governo israelita cometer atrocidades em massa, usando a antiga falácia de que o Hamas está a usar escudos humanos”, afirma a especialista.

Yara denuncia as ações do governo israelense como uma clara violação do direito humanitário internacional e critica a comunidade internacional por sua relutância em condenar essas ações. Apesar dos apelos das agências internacionais para rescindir a ordem de evacuação, Israel persiste em sua agenda, ignorando os direitos dos palestinos e as convenções internacionais sobre refugiados.

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“Vários ministros e políticos israelitas apelaram à destruição de Gaza durante a semana passada, usando uma linguagem desumanizante. O ministro da defesa de Israel chegou a chamar os palestinianos em Gaza de ‘animais humanos'”, relata Yara.

No vídeo abaixo, repostado por Yara em seu perfil no X, Isaac Herzog, o presidente, diz que não há cidadãos inocentes na Faixa de Gaza:

A situação atual é marcada por um clima de terror e incerteza, com a iminência de uma invasão terrestre israelense. A retórica agressiva dos políticos e generais israelenses sugere uma operação implacável, indo além da eliminação da liderança do Hamas para consolidar o controle sobre o território palestino. Para ela e muitos outros, essa ação é uma continuação da limpeza étnica histórica, perpetuando o sofrimento do povo palestino.

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“Tudo nos diz que a invasão será implacável. O pretexto de querer eliminar a ‘alta liderança política e militar do Hamas’ é apenas isso – um pretexto”, escreve Yara.

Enquanto o mundo observa a tragédia em Gaza se desdobrar, as palavras de Yara Hawari ressoam como um lembrete contundente de que a Palestina continua a enfrentar uma luta pela sobrevivência, com a ordem de evacuação de Israel sendo vista como mais uma tática em um conflito contínuo, uma batalha que começou muito antes dos recentes eventos e que continua a moldar o destino de um povo em busca de paz e justiça.

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