Greve na USP completa duas semanas sem acordo; diretores criticam
Faculdades de economia, farmácia, educação física e odontologia aprovam apoio à paralisação por mais professores; gestores dizem que instituição ‘não pode parar’
Publicado 30/09/2023 14:02 | Editado 03/10/2023 10:45
A greve na Universidade de São Paulo (USP) atingiu sua segunda semana sem sinais de resfriamento. Iniciada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), o movimento se estendeu para outras unidades da universidade, todas aderindo à greve devido à carência de professores na instituição. A mobilização exige a contratação imediata de professores e o aumento dos auxílios estudantis de permanência, além de sugestões de novidades de cursos.
Na última quinta-feira (28), estudantes se reuniram com representantes da reitoria, mas não foi feito nenhum acordo entre as partes, mantendo uma greve por tempo indeterminado. O reitor, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, encontra-se na Europa para compromissos na Alemanha e na França, com previsão de retorno ao Brasil em 3 de outubro.
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Segundo publicação da Folha da S.Paulo, nas últimas horas, várias instituições, incluindo a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA), a Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), a Faculdade de Odontologia (FOUSP) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) ), se juntaram à greve após apoio majoritário em suas assembleias. Isso se soma às 25 unidades já paralisadas na Cidade Universitária, no Butantã, zona oeste da capital paulista.
Reivindicações estudantis
Os estudantes sintetizam suas demandas em cinco eixos principais: contratação de professores, aumento dos auxílios para a permanência estudantil, melhorias estruturais na USP Leste, promoção de vestibular indígena e valorização dos estudantes. A contratação de novos docentes é o ponto central das reivindicações, com ênfase em três critérios específicos:
– Retorno do gatilho automático para contratação de professores: Os estudantes buscam a reinstauração desse mecanismo, que garante a reposição automática de vagas quando um professor morre, é exonerado ou se aposenta.
– Número mínimo de educadores para garantir o funcionamento dos cursos: Os alunos propõem um número mínimo de 1.683 professores, com base na proporção entre o número de estudantes e o de professores que a USP tinha em 2014.
– Fim do edital de excelência ou mérito: Os estudantes compartilham esse estratégico injusto e clamam por uma distribuição mais justa de vagas para unidades que concorrem de professores.
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Diretores se manifestam
Enquanto a greve avançava, os diretores de todas as unidades da USP lançaram, na tarde desta sexta-feira (29), uma carta defendendo a administração e o reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior. Embora respeitem o movimento estudantil, expressam preocupação com práticas não condizentes com o ambiente acadêmico, “envolvendo interdições físicas que bloqueiam o acesso aos espaços da universidade, em alguns casos acompanhadas por constrangimentos a professores, servidores técnico-administrativos e alunos”.
Os diretores confirmam a importância das reivindicações dos estudantes, especialmente a contratação de docentes para suprir a demanda dos cursos. No entanto, atribuem o problema à administração anterior da universidade e destacam os esforços atuais para a contratação de novos professores.
“Apesar da longa tramitação dos concursos públicos para contratação de docentes, que duram cerca de 8 meses para serem concluídos, as contratações estão em franco progresso, com 240 novos docentes já contratados”, afirmam. “A universidade é dinâmica. Não para e não pode parar”.
Leia íntegra do texto:
“Diretoras e diretores da Universidade de São Paulo vêm a público declarar sua unidade na defesa da USP, manifestando-se sobre aquilo que lhes cabe gerir em seu cotidiano, sua realidade.
A USP é um patrimônio paulista e brasileiro. Ao longo de seus quase 90 anos de existência, vem formando milhares de profissionais em todas as áreas do conhecimento, em graduação e pós-graduação, produzindo pesquisas que têm impactado no desenvolvimento da sociedade, sendo referência nacional e internacional.
Como um todo, a USP é responsável por um quinto de toda a Ciência que se faz no Brasil. Não é por acaso que está entre as 100 melhores do mundo, ocupando a 85.ª posição no ranking mundial (2023).
Uma parte significativa desse processo é nosso alunado. Nos orgulhamos de formar cidadãos críticos e participativos.
Respeitamos a autonomia do movimento estudantil em nossa instituição, pois esse respeito é parte do nosso compromisso democrático.
Este mesmo espírito uniu toda a comunidade uspiana tantas vezes ao longo de sua história, para lutar por direitos e pela democracia.
Na última semana, a USP foi palco de diversas manifestações estudantis que afetam cerca da metade das escolas, faculdades, institutos e museus da universidade.
Embora boa parte delas esteja ocorrendo de forma pacífica, algumas têm recorrido a expedientes que não condizem com o ambiente acadêmico, envolvendo interdições físicas que bloqueiam o acesso aos espaços da universidade, em alguns casos acompanhadas por constrangimentos a professores, servidores técnico-administrativos e alunos.
As manifestações têm duas demandas principais: a contratação de docentes e a ampliação das políticas de apoio à inclusão de estudantes com vulnerabilidade socioeconômica. São demandas importantes e que inquietam a comunidade uspiana há anos.
De 2014 a 2022, a USP não conseguiu repor completamente o seu quadro de docentes e funcionários, e entre 2019 a 2022, os concursos para docentes foram interrompidos devido à pandemia ocasionada pela Covid-19.
A despeito disso, os servidores docentes e técnicos e administrativos se mantiveram firmes no propósito de garantir uma Universidade de classe mundial.
Por outro lado, as políticas de cotas nos exames vestibulares implantadas ao longo dos últimos anos aumentaram a proporção de alunos vindos de escolas públicas e de alunos pretos, pardos e indígenas, e é importante que este grupo tenha plenas condições de permanecer na universidade com dignidade.
A direção da Universidade, seus diretores e a Reitoria, estiveram atentos a essas questões. Há vários anos a universidade vem investindo na política de ingresso e permanência estudantil.
Mais recentemente, foi criada a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), com as respectivas Comissões de Inclusão e Pertencimento (CIP) nas Unidades.
No último vestibular, 54% dos alunos aprovados são provenientes de escolas públicas, com 27% de alunos pretos, pardos e indígenas, demonstrando a efetividade das políticas de inclusão no ingresso.
Para dar plenas condições aos estudantes em vulnerabilidade socioeconômica, a Universidade ampliou em 60% o investimento em bolsas e com reajuste de valores que não têm paralelo na história da universidade.
Do mesmo modo, no último ano a atual gestão Reitoral implementou um programa ambicioso de renovação do quadro docente da Universidade, apoiado pelos Diretores de todas as Unidades, Institutos, Museus e membros do Conselho Universitário, com a distribuição de 879 novos cargos de docentes.
Apesar da longa tramitação dos concursos públicos para contratação de docentes, que duram cerca de 8 meses para serem concluídos, as contratações estão em franco processo, com 240 novos docentes já contratados, que trarão grande renovação à Universidade, inclusive em novas áreas do conhecimento.
Além disso, a USP retomou a contratação de servidores técnicos-administrativos, com 597 novas vagas para contratações.
A Universidade é dinâmica. Não para e não pode parar.
A comunidade USP – dirigentes, docentes, servidores técnicos e administrativos, estudantes e demais colaboradores – está trabalhando intensamente para continuar construindo uma Universidade pública forte, formando gerações de cidadãos conscientes, profissionais competentes e pesquisadores dedicados, produzindo e disseminando conhecimento para termos uma sociedade cada vez melhor.”
A greve na USP permanece em andamento, com estudantes e a reitoria em um impasse, enquanto a comunidade acadêmica aguarda desenvolvimentos.
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com agências