Delação de Cid revela reunião golpista entre Bolsonaro e militares

Ex-ajudante de ordens teria participado de reunião em que ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, pôs suas tropas à disposição do golpe.

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria se reunido, em 2022, com a cúpula das Forças Armadas para buscar apoio dos militares para um golpe de Estado. A informação foi levada a Polícia Federal em delação premiada do ex-ajudante de ordens de Boslonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

De acordo com apuração da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, Cid teria participado do encontro em que uma minuta de golpe foi debatida. A intenção era impedir a troca de governo no Brasil.

Cid revelou que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria à disposição dos golpistas para aderir a um chamamento do então presidente.

Já o comando do Exército teria afirmado que não embarcaria na aventura golpista sugerida pelo ex-presidente.

O almirante Almir é o mesmo que se recusou a comparecer à cerimônia de entrega do cargo ao comandante Marcos Sampaio Olsen, na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Também teriam participado da reunião os ministros militares do governo, como o ex-comandante do Exército, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, na Defesa, além de Augusto Heleno, Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e Luis Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência.

A minuta, segundo Cid, sugeria a convocação de novas eleições e autorizava o governo a prender adversários. A PF investiga se a minuta é a mesma encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, durante operação de busca e apreensão.

A notícia de que Cid delatou à PF o encontro golpista já chegou no alto comando das Forças Armadas, que temem os efeitos sobre membros da cúpula e ministros que, apesar de estarem na reserva, foram generais de alta patente.

Cid e a delação

O ex-ajudante de ordens Mauro Cid estava preso desde o dia 3 de maio sob suspeita de fraudes em cartões de vacina. Cid deixou a prisão dia 9 de setembro, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter homologado o acordo de delação premiada do militar.

Cid colabora em três investigações principais da PF: fraude em cartão de vacina da família Bolsonaro, desvio de presentes valiosos em suposto esquema que envolve o ex-presidente, e a articulação para tentar um golpe contra o estado democrático após a derrota de Bolsonaro contra o presidente Lula nas eleições de 2022.

O militar está afastado de suas funções no Exército, mas mantém seu salário de R$ 27 mil, conforme previsto em lei.

Autor