Brasil foi o segundo país mais letal para ambientalistas em 2022, aponta ONG

Relatório revela que 177 ambientalistas perderam suas vidas no ano passado, sendo que 88% dessas mortes ocorreram na América Latina. Colômbia lidera o ranking; relatório diz que dos 177 ambientalistas mortos no mundo em 2022, 88% eram da América Latina

Foto: Mauro Pimentel/ AFP

O Brasil, sob a liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro, enfrentou uma preocupante escalada de violência contra ambientalistas, de acordo com o recente relatório da ONG Global Witness divulgado na terça-feira (12). O país sul-americano foi classificado como o segundo mais letal para defensores do meio ambiente em 2022, com um total alarmante de 31 ativistas assassinados.

O relatório revela que, globalmente, 177 ambientalistas perderam suas vidas no ano passado, sendo que 88% dessas mortes ocorreram na América Latina. Embora o número geral tenha diminuído em relação ao ano anterior (200 mortes), a situação no Brasil não demonstrou melhora substancial, mantendo a média de um ativista morto a cada dois dias.

Colômbia lidera o ranking

Liderando o ranking sombrio está a Colômbia, com defensores mortos todos os meses, totalizando 54 assassinatos em 2021, contra 30 no ano anterior. Mais de 40% dos mortos eram indígenas e mais de um terço do total de casos foram desaparições forçadas, incluindo pelo menos oito membros da comunidade Yaqui. Este país, marcado por um conflito armado de meio século, sempre figurou entre os mais perigosos para os defensores do meio ambiente.

“Mais uma vez, os povos indígenas, as comunidades afrodescendentes, aqueles que se dedicam à agricultura de pequena escala e as pessoas que defendem o meio ambiente foram duramente atingidos” no país sul-americano, ressaltou a Global Witness.

O ano de 2022 também foi letal para os defensores do meio ambiente no México (31), em Honduras (14) e nas Filipinas (11). “Continua sendo difícil especificar as causas exatas dos assassinatos”, destacou o relatório.

No entanto, é o Brasil que chama a atenção pelo seu rápido aumento na letalidade contra ambientalistas. Durante a gestão de Bolsonaro, que era conhecido por negar as mudanças climáticas, os defensores da natureza enfrentam uma hostilidade implacável e o país sul-americano viu um aumento drástico na violência contra aqueles que se dedicam a proteger o meio ambiente. O relatório revela que, nos últimos 10 anos, 342 defensores foram mortos no Brasil, com 44 deles protestando especificamente contra o agronegócio.

A desigualdade fundiária é apontada como uma das principais razões por trás dessa escalada de violência. O índice de Gini, um indicador de desigualdade amplamente utilizado, mostra que o Brasil tem uma concentração fundiária de 0,73, colocando-o entre os países com maior desigualdade fundiária do mundo. Pesquisas indicam que a desigualdade é ainda mais acentuada nos estados com altos índices de produção de commodities agrícolas, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que foram focos desses conflitos, refletindo a ligação entre atividades econômicas e a violência contra os ativistas.

Floresta Amazônica

A Floresta Amazônica, um dos biomas mais críticos para a saúde do planeta, também foi palco de tragédias em 2022, com todos os 39 defensores do meio ambiente mortos, onde 11 são provenientes de comunidades indígenas, o que realça a vulnerabilidade dos povos originários na luta pela preservação do bioma da Amazônia.

A violência na Amazônia, frequentemente associada a traficantes de drogas, garimpeiros ilegais e caçadores furtivos, foi destacada pelo assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira em junho de 2022.

O assassinato de Bruno é especialmente indicativo do ataque aos povos indígenas e daqueles que os examinaram. Bruno havia trabalhado anteriormente na Funai e foi removido de seu cargo como representante da fundação junto a tribos isoladas logo após a chegada de Bolsonaro ao poder, em algo que foi visto como uma ação com motivações políticas. Seu afastamento, no final de 2019, ocorreu logo depois que sua equipe ajudou a desativar um dos maiores garimpos da região amazônica.

O relatório da Global Witness ressalta que a busca pelo crescimento econômico baseado na exploração de recursos naturais não está relacionada a conflitos e violência crescente. O aumento na concentração de terras nas mãos de uma elite rica agrava ainda mais a situação, empurrando pequenos produtores, agricultores familiares, indígenas e comunidades rurais para pedaços cada vez menores de terra ou expulsando-os completamente.

Para ler a íntegra do relatório, acesse: https://www.globalwitness.org/pt/decade-defiance-pt/

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Fonte: Global Witness

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