Ampliação deixou Brics “muito mais relevantes”, diz chanceler de Lula

Para Mauro Vieira, “interesse de 23 países em unir-se ao espaço é exemplo eloquente do seu êxito”

Foto: ONU/Devra Berkowitz

O ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Mauro Vieira, defendeu a entrada de seis países nos Brics, anunciada no começo do mês, durante a cúpula do grupo, na cidade sul-africana de Joanesburgo. Anteriormente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco de países emergentes agora também conta com Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã.

Segundo o chanceler, a ampliação mostra a força crescente dos Brics. “O bloco é hoje, 15 anos após sua criação, muito mais relevante, e esse capital político ampliado continuará a crescer e a render dividendos políticos para todos os integrantes”, afirmou Vieira, em artigo na Folha de S.Paulo, publicado nesta quinta-feira (14). “O interesse de 23 países em unir-se ao espaço é exemplo eloquente do seu êxito, somado a conquistas tangíveis como a criação do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), o chamado ‘banco do Brics’.”

Para Vieira, é falsa a suposição de o presidente Lula se opunha à extensão do bloco. “Não seria coerente que o Brasil, que advoga a reforma da governança global e a ampliação da participação dos países em desenvolvimento nos órgãos decisórios, como o Conselho de Segurança da ONU, bloqueasse o acesso ao grupo”, registra o ministro.

A seu ver, a posição do País reflete os trunfos do Itamaraty no histórico das relações internacionais. “O Brasil e sua diplomacia sempre souberam navegar em momentos de fratura, como nas duas guerras mundiais e também na Guerra Fria, sem alinhamentos automáticos ou alianças excludentes —e não será diferente caso cenários semelhantes se repitam no futuro. Não nos faltam, para isso, experiência, acesso a todos os interlocutores, clareza sobre o interesse nacional e visão estratégica.”

Sem citar a campanha de Lula pela desdolarização da economia mundial – mas, sim, a “abertura do debate técnico sobre o uso de moedas locais” –, Vieira ressaltou outro ponto comum aos membros dos Bric: a defesa de “um sistema internacional mais justo e que priorize o desenvolvimento para todos”. Uma das reivindicações do grupo, proposta incialmente pelo Brasil, é a ampliação do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Desde sua instituição, na década de 1940, o conselho se restringe a cinco países como membros permanentes.

“O Brics não tem um só dono, e a negociação em Joanesburgo demonstrou essa realidade claramente”, afirmou. “Já a partir do processo preparatório dos últimos meses, a delegação brasileira insistiu na necessidade de critérios e compromissos a serem assumidos pelos novos membros, caso da necessidade de reforma das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança. Quem já se deu ao trabalho de ler a declaração da cúpula de Joanesburgo e de compará-la às declarações de encontros anteriores pôde comprovar uma evolução importante na posição do bloco.”

Esses pontos, conclui Vieira, revelam o consenso cristalizado entre os membros (antigos e recentes) dos Brics. De acordo com o chanceler, os “resultados” da cúpula “atenderam plenamente os objetivos do Brasil”. Em caso de “problemas futuros”, estes serão “tratados com o mesmo pragmatismo e independência que caracterizam a política externa brasileira”.

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