Xi Jinping não vai ao G20, com manobras militares da Índia em sua fronteira

Ausência é vista como um “abalo” à presidência de Narendra Modi e ao status de liderança do bloco. China e Índia disputam fronteiras.

Presidente chinês deve enviar ao G20 o primeiro-ministro Li Qiang para representar Pequim

A China anunciou nesta segunda-feira (4) que o presidente Xi Jinping não comparecerá à Cúpula do G20, no próximo fim de semana, na Índia. A ausência da economia mais importante do Oriente se dá no momento em que se acirram as animosidades entre Pequim e Nova Délhi, com exercícios militares indianos na fronteira entre os dois países que devem prosseguir durante a reunião.

O Ministério das Relações Exteriores da China anunciou que o país será representado no encontro das principais economias do mundo pelo primeiro-ministro Li Qiang. Questionada sobre o anúncio, a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, não confirmou a ausência do presidente, limitando-se a dizer que Li vai liderar a delegação.

“O que posso dizer é que o G20 é um fórum importante para a cooperação econômica internacional”, declarou Mao. “Ao comparecer a essa reunião, o primeiro-ministro Li Qiang transmitirá as ideias e posições da China sobre a cooperação no G20, pedindo ao grupo que reforce a unidade e a cooperação, trabalhando juntos para combater os desafios econômicos e de desenvolvimento global”.

O G20 é o grupo das maiores economias do mundo, sendo uma da África, duas da América do Sul, os três países da América do Norte, sete da Ásia, cinco da Europa (além da UEE) e a Austrália.  À exceção de 2021, em meio à pandemia de covid-19, Xi participou de todas as reuniões de cúpula do G20 desde que chegou ao poder em 2013. 

O presidente russo, Vladimir Putin, que enfrenta um mandado de prisão internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia, também não participará da cúpula. A Rússia será representada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Diferentemente dos sul-africanos, a Índia não é signatária do Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional de Haia, portanto não está constrangida a prender o presidente russo.

Repercussão

Texto do Financial Times sobre a ausência de Xi no G20

Embora os jornais indianos minimizem a ausência do presidente chinês, para o Financial Times, a “Ausência de Xi desafia status do G20 como fórum de liderança global”. Em suma, “um golpe para a presidência da Índia no encontro multilateral”, que “abala a estatura do G20, em meio a fissuras profundas entre seus membros”. A partir desta cúpula, o presidente brasileiro Luis Inácio Lula da Silva, assume o comando do bloco.

No domingo (3), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou à imprensa que estava “decepcionado” com a ausência do chefe de Estado da China no encontro de cúpula. No entanto, Xi e Biden devem participar da cúpula da Apec (sigla em inglês para Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) daqui a dois meses, em San Francisco.

A tensão com a Índia é agravada com a crescente aliança do país com Washington, que, por sua vez, tem dado sinais de estabilizar suas relações. Xi e Biden falaram pessoalmente pela última vez em novembro de 2022, na Cúpula do G20 em Bali.

Território ampliado

Em agosto, Pequim publicou um mapa territorial “ampliado” incluindo como parte do país estados indianos (Arunachal Pradesh e o disputado planalto Aksai-Chincuja) cuja soberania é disputada com Nova Délhi. O governo indiano fez um protesto formal contra o mapa, que classificou como “sem base”.

Desde então, milhares de soldados se concentraram nos dois lados da Linha de Controle Efetiva (LCA), que divide a fronteira “de fato” entre Índia e China, que não é claramente delimitada. 

Xi e Narendra Modi concordaram em “intensificar esforços” para diminuir as tensões na fronteira no mês passado, na cúpula dos Brics na África do Sul — o que foi visto como um passo para reparar a sua relação tensa.

Nesta segunda, um treinamento militar indiano foi iniciado na região do Himalaia, em áreas fronteiriças com o Paquistão e a China. Os exercícios devem durar 11 dias, ocorrendo em paralelo à cúpula do G20.

A fronteira disputada tem sido uma fonte de atrito entre Nova Dhéli e Pequim e resultou numa guerra em 1962 que terminou com uma vitória chinesa.

As fronteiras entre os países são foco de tensão principalmente desde 2020, quando militares indianos e chineses entraram em combate direto. Na ocasião, 20 soldados indianos e ao menos quatro chineses morreram.

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