Livro com imagens da história do Partido Comunista é lançado, em São Paulo

Edição limitada está disponível para venda e traz cerca de três mil imagens, desde os precursores da fundação em 1922. Esforço coletivo, publicação levou dez anos de preparação editorial

Na última quinta-feira (17), lideranças do PCdoB, dos movimentos sociais e estudiosos da historiografia política do país se reuniram para o lançamento do livro iconográfico Cem Anos de Amor e Coragem pelo Brasil. A publicação de 600 páginas reúne as imagens da centenária história do Partido Comunista do Brasil (1922-2022).

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O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, ressaltou o trabalho coletivo, “um mutirão de 10 anos de trabalho”. O livro é composto por fotografias, mapas, charges, pinturas, gráficos, cartazes, documentos oriundos de arquivos públicos e privados, e grande parte do acervo do Centro de Documentação e Memória da Fundação Maurício Grabois. Adalberto “ousa” dizer que o caráter monumental da obra a torna “a maior e mais bela publicação de iconografia de um século de lutas do Partido Comunista do Brasil”.

O dirigente comunista afirmou que, na história do Brasil, a classe trabalhadora oprimida, na batalhas que travou, teve que empreendê-la duas vezes. “A primeira, protagonizar a resistência, a luta, a realização, a conquista, o fato histórico em si. A segunda, divulgá-lo, fazê-lo reconhecido oficialmente e conhecido do conjunto do povo e da nação”, explicou. 

Ele observou que o estado brasileiro, sob o controle das classes dominantes, além de literalmente massacrar as jornadas democráticas e populares, adotou simultaneamente o procedimento de adulterar e distorcer o significado dessas batalhas, ou de ocultá-las nas páginas da história oficial e da imprensa burguesa. 

Partido clandestino

O presidente da fundação Maurício Grabois e secretário de Formação e Propaganda do PCdoB, Adalberto Monteiro

Ele lembrou que o Partido Comunista do Brasil, teve apenas 7 meses e 12 dias de atuação tolerada no período da República Velha e um ano e meio de legalidade, de 1930 a 1985. “Legalizada em 1985, a legenda completou agora em 2023, 38 anos de atuação livre, mas com as restrições ainda presentes numa democracia jovem, em construção e sempre atacada pelo neofascismo”. 

Também mencionou as gerações de dirigentes pontuados nas imagens, como Astrojildo Pereira, da geração dos fundadores, Luiz Carlos Prestes, João Amazonas, Renato Rabelo, e Luciana Santos, a primeira mulher a presidir a legenda. 

Adalberto conclui ressaltando “o reflexo das contingências da corrente do movimento comunista”. “Houve o solavanco de confrontos teóricos e ideológicos, com a nossa reorganização em 1962″. Ele lembrou como o partido foi se enriquecendo com a integração de correntes políticas como a Ação Popular (AP) e o PPL, o Partido Pátria Livre.

“É uma obra que nos faz mirar o futuro, com a consciência que ele não é uma toalha de renda bordada por mãos divinas. O futuro, nossas mãos unidas vão arrancando, talhando, esculpindo na rocha bruta e áspera do presente”, concluiu.

Melhor intérprete

O primeiro vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, concluiu o evento observando que o livro é um monumento aos trabalhadores e suas lutas, sempre conduzidas com a participação dos comunistas. 

“Nós pulamos uma grande fogueira em outubro passado”, afirmou o dirigente partidário, referindo-se à eleição. Ele citou nesses oito meses o que considera “um governo assombroso em realizações”.

De acordo com ele, o governo fez imensas entregas na área econômica em termos de crescimento, queda da inflação e desemprego, aumento do investimento. “Nesse desafio, o PCdoB ocupa a primeira linha, porque tem experiência de 101 anos e tem no seu DNA um projeto nacional”. 

O êxito do governo Lula é fator decisivo para os comunistas. Desta forma, Sorrrentino acredita que quem melhor interpreta isso hoje é o PCdoB, citando as pressões da luta política para atingir o partido em seu papel no governo. 

De acordo com Sorrentino, não existe maioria política sem uma maioria social mobilizada politicamente. Em sua opinião, tem sido difícil mobilizar uma sociedade fragmentada por guerras culturais e pela miséria.

Gerações de líderes

Mensagens enviadas por Renato Rabelo e Luciana Santos

O ex-presidente do PCdoB, Renato Rabelo, enviou uma mensagem em vídeo para transmitir aos presentes no auditório da sede nacional, em São Paulo, mas também para a audiência da transmissão ao vivo pelo canal da TV Grabois.

O livro teve grande parte de sua editoração sob os olhares do ex-presidente, tanto do Partido, quanto da Fundação Maurício Grabois. “É um monumental livro iconográfico que retrata a centenária trajetória de lutas do Partido Comunista do Brasil, entrelaçada com a história de nosso país”.

Para ele, o livro reafirma com imagens o compromisso da luta pelo socialismo como alternativa ao capitalismo em crise, socialismo cujo caminho no Brasil é a luta pelo novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

A presidenta do partido e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também enviou uma mensagem comentando o lançamento editorial. “O livro comprova que não se pode falar da história do povo brasileiro nesse período centenário sem considerar o papel do partido. Nele se vê que com lutas, ideias e realizações, como os comunistas ajudaram a construir o Brasil”, afirmou. 

Ela também destacou a contemporaneidade de um Partido tão duradouro. “Resistiu e sobreviveu às ditaduras, sempre nas primeiras linhas de combate às violações da democracia, às vezes ao preço da tortura e de muitas vidas ceifadas”, diz ela. 

O desafio da contemporaneidade

José Luis Del Roio disponibilizou o acervo de Astrojildo Pereira para ilustrar o livro

O ex-senador da Itália, José Luís Del Roio, deu enorme contribuição ao livro pelo trabalho que realizou de resgate e preservação do acervo histórico do Partido, desde Astrojildo Pereira, por ocasião da ditadura militar, quando levou todo o material para a Itália.

”Os comunistas estão num governo de um país importante nessa grande transição mundial. Precisam ter grande capacidade de análise, de aliança nacional e internacional e saber que os perigos são muitos. Tem que ser um partido reflexivo, organizado, combativo, mas que tenha a glória, a honra de poder influir na transformação da história da humanidade neste século”, disse. 

Após o presidente do PCdoB da cidade de São Paulo, Alcides Amazonas, contar a história da foto de capa, quando foi criado o “bandeirão” que domina as imagens das manifestações por todo o Brasil, a historiadora Mariana Venturini representou a grande equipe de pesquisadores que contribuíram para a edição. 

A historiadora Mariana Venturini

“Espero que esse livro empolgue a que mais pessoas se somem ao trabalho de pesquisa. É um trabalho coletivo, muitas vezes solitário, que ainda enfrenta anticomunismo nas universidades, e a precariedade do acesso às nossas fontes”, disse Mariana.

Ela saudou a memória do historiador Augusto Buonicore que teve grande papel no recorte histórico e faleceu em março de 2020.

O secretário de Organização do PCdoB-SP, André Bezerra, afirmou que ao folhear cada imagem do livro, a emoção vai fluindo por entre o leitor. “Lá, nós nos vemos, nós acompanhamos tudo o que  fizemos. (…) Isso é a verdadeira prova de que nós fincamos bandeira, os comunistas deram o suor do seu trabalho, do seu pensamento, nas páginas, na nossa luta”. 

Motivos para celebrar

Adilson Araújo, André Bezerra e Carlos Lopes

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, lembrou que o secretário Sindical do PCdoB, Nivaldo Santana, antecipou o ambiente do livro, ao publicar sobre os 100 anos de história dos trabalhadores comunistas. Mas ele apontou a dificuldade de reunir imagens dessa luta sindical.

Para o líder sindical, há motivos de sobra para celebrar um Partido que ocupa importantes cargos no Governo Federal. 

O editor do jornal Hora do Povo, Carlos Lopes, pediu licença para usar um superlativo para qualificar o livro. 

“Este livro é belíssimo, é finíssimo. Como vocês sabem, superlativo não é exatamente algo que tem uma boa fama na língua portuguesa. Machado de Assis em Dom Casmurro, criou um personagem ridículo chamado José Dias, que só falava em superlativos. O Graciliano Ramos detestava superlativos. Mas apesar disso, tem determinadas situações em que o superlativo é extremamente bem colocado. Essa é uma dessas situações”, defendeu-se.

(Fotos por Cezar Xavier)

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