João Pedro Stédile joga pá de cal na moribunda CPI do MST da Câmara

O líder do MST foi didático e deixou claro que a comissão não tem fato determinado e age com intuito apenas de criminalizar os movimentos sociais

Stédile durante depoimento na CPI (Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara)

João Pedro Stédile passeou durante depoimento que prestou nesta terça-feira (15) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as ações do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Ao responder todas as perguntas de forma didática e até descontraída, o líder do MST deixou claro que a CPI não tem fato determinado e age com intuito apenas de criminalizar os movimentos sociais.

Minoria no colegiado, os bolsonaritas agora só aguardam o fim melancólico de um palanque político que também queria responsabilizar o governo Lula por omissão diante dos conflitos agrários.

O deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro de Bolsonaro e relator do colegiado, irritou os próprios colegas ao deixar de lado a objetividade e exagerar nas longas digressões.

Os bolsonaristas que usaram o tempo restante receberam aulas de Stédile. Como foi o caso do deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), que o acusou de orientar as invasões de terra.

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“Invasão de terra é crime, como fazem os fazendeiros do Mato Grosso do Sul invadindo terra indígena. O que o MST faz é ocupação de terra como uma forma de pressionar a que se aplique a Constituição”, devolveu.

Lembrou ao bolsonarista que o conceito está Código Penal e há jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto que nos 40 anos do movimento ninguém foi preso por ocupação.

“Invasão de terra, ou de qualquer bem público, é quando alguém faz isso em proveito próprio. E aí se caracteriza como esbulho possessório e é criminalizado pelo Código Penal sobre essa ação. Repito: aqui no Brasil é frequente ter invasões feitas por pessoas de dinheiro, que invade terra indígena, que invade terra quilombola, que invade terra pública”, afirmou.

O relator disse que durante as diligências nos acampamentos ouviu denúncias de desvios de condutas por parte de lideranças do movimento.

Nesse caso, Stédile esclareceu como os assentados são orientados: “Se você tiver algum caso que acha que deve haver denúncia, vá à delegacia, leve provas, testemunha, e abra um processo contra quem. Porque o maior afetado disso é MST, não é o sacana que se apropriou do bem. Nós temos interesse em que se corrija isso”.

O líder disse ainda que o agronegócio está dividido. “A metade que tem juízo apoiou o Lula. A outra parcela é a Aprosoja [Associação Brasileira dos Produtores de Soja, um dos braços políticos do setor], que só pensa em ganhar dinheiro. Parte do agronegócio já tem consciência dos limites e já está migrando para outra agricultura, a chamada agora de ‘práticas regenerativas’, para substituir pesticidas por defensivo agrícola agroecológico. Parcela do agronegócio ainda vai para o céu. Mas o agronegócio burro, que só pensa em lucro fácil, está com os dias contados”, disse.

Repercussão

A fala do líder do MST foi elogiada. “E o Stédile deu um show: desmascarou completamente a extrema-direita; demonstrou a importância da reforma agrária para o desenvolvimento do Brasil e a importância da agricultura familiar para alimentar as famílias brasileiras; desmascarou completamente os objetivos políticos maliciosos daqueles que manobram o Congresso Nacional para atender finalidades inadequadas e expõem o Congresso Nacional com gasto e desperdício de dinheiro público”, avaliou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

“Eu queria parabenizar o João Pedro Stédile pelo pronunciamento na CPI! Foi um show! Isso eleva o moral da luta popular. O que vai fazer o governo avançar mais é o povo organizado, mobilizado, e o MST é inspiração para a luta do povo brasileiro”, disse a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

“A CPI dos trapalhões acabou expondo os crimes do agrogolpismo que financia as campanhas dos bolsonaristas. Enquanto isso, Stédile deu uma aula aos amantes da ignorância, e o MST e a luta por Reforma Agrária saíram ainda mais fortalecidos”, afirmou a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

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