Silvinei Vasques depõe na PF e vai para presídio da Papuda

Ex-diretor-geral foi transferido para o presídio da Papuda, em Brasília. A defesa do investigado nega oferecer delação premiada.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques prestou depoimento nesta quinta (10) na Polícia Federal, em Brasília. Vasques foi preso preventivamente nesta quarta (9) no âmbito da operação Constituição Cidadã, que investiga se as blitzes da PRF no segundo turno de 2022 foram usadas para interferir no resultado da eleição.

O ex-diretor da PRF chegou à sede da PF em Brasília por volta das 14h com a pressão alta. Passando mal, os bombeiros do prédio da corporação atenderam Silvinei que, após se recompor, prosseguiu com a oitiva. O depoimento encerrou às 18h, durando quase cinco horas.

Aos agentes, Silvinei negou que as blitzes realizadas em 30 de outubro, dia do segundo turno das eleições presidenciais, tinham o objetivo de impedir a votação dos eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Naquele dia, a PRF abordou 696 veículos por todo o país. Na região nordeste, 324 ônibus foram paralisados. A região deu 32 milhões (66,7%) dos votos do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com as investigações, a ação teria sido planejada desde o início de outubro daquele ano, e, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país.

O depoimento de um servidor que atuou na Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública deu início às apurações. Segundo ele, logo após o resultado do primeiro turno das eleições, foi pedido painel com a lista das cidades com mais de 75% dos votos para os dois candidatos que foram ao segundo turno.

O servidor considerou “estranho” o pedido e percebeu que as ações da PRF seriam blitz em municípios, ou próximas a municípios, nos quais o então candidato Lula tivesse votação acima de 75%.

Ao deixar a sede da PF, os advogados de Silvinei afirmaram que seu cliente não fará delação premiada sob a justificativa de que o instrumento é “para criminoso”. “Delação premiada é para criminoso. Ele é um herói nacional”, afirmou Eduardo Nostrani Simão, um dos responsáveis pela defesa de Silvinei. Segundo Simão, a proposta não foi sequer oferecida, mas seria prontamente rejeitada.

Os advogados alegam que, naquele 30 de outubro, a orientação repassada para os quadros da PRF foi para cumprir as determinações que a legislação exige. No depoimento, Silvinei disse que o objetivo era coibir compra de votos, sem direcionamento a eleitores de um candidato específico.

“Não existe nenhuma gravação em nenhuma reunião com ele dizendo para fiscalizar A ou B. A situação foi sempre para fiscalizar independente de partido, de condição; isenção total, não teve nada de perseguição em reação a ninguém”, disse Simão.

A defesa ainda salientou que a PRF cumpria ordens do Ministério da Justiça, comandado naquele momento por Anderson Torres. “Então, tem que obedecer, né? Mas não teve nenhum pedido no sentido de cometer alguma infração ou perseguir um viés político ou outro, nada disso”, disse o advogado.

Documentos oficiais mostram que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, foi à Bahia cinco dias antes do segundo turno. A viagem, feita com avião da FAB (Força Aérea Brasileira), não estava na agenda oficial.

Saiba mais: Silvinei Vasques é preso pela PF por interferência nas eleições de 2022

MP avalia aposentadoria de Silvinei

Hoje, em função da prisão preventiva, o subprocurador-geral do Ministério Público, Lucas Rocha Furtado, pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que avalie a legalidade da concessão de aposentadoria ao ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques.

Para Furtado, há “indícios de irregularidades na referida concessão” do benefício, já que “o servidor que responder a processo disciplinar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntariamente, após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade”.

O ex-diretor da PRF é alvo de três processos administrativos motivados pela suposta interferência no segundo turno das eleições de 2022 e da apuração criminal que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e que embasou a Operação Constituição Cidadã.

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