Apoio do PT a Boulos vai repercutir em todo o Brasil

Deputado do PSOL pretende ampliar as alianças e construir uma frente mais ampla, incluindo “todos os setores econômicos”. Segundo ele, “ninguém precisa ter medo da mudança”.

A boa nova se confirmou. Em nome da unidade do campo democrático e progressista, o PT abriu mão de lançar um concorrente à Prefeitura de São Paulo em 2024 e declarou apoio à pré-candidatura de Guilherme Boulos (PSOL). Embora a adesão estivesse prevista desde 2022 – quando o PSOL aderiu à coligação de Fernando Haddad (PT) no pleito ao Palácio dos Bandeirantes –, a contrapartida parecia estar em xeque. Não está mais.

Desde que foi fundado, em 1980, o Partido dos Trabalhadores jamais deixou de lançar candidatos a prefeito na maior cidade do País. Em dez eleições disputadas, venceu três – com Luiza Erundina em 1988, Marta Suplicy em 2000 e Fernando Haddad em 2012. No ano passado, os candidatos majoritários do PT – Luiz Inácio Lula da Silva a presidente e Haddad a governador – não venceram no estado de São Paulo, mas foram os mais votados na capital.

Pesou a favor de Boulos, porém, seu desempenho nas últimas votações. Em 2020, como candidato a prefeito, recebeu 20,24% dos votos no primeiro turno e 40,62% no segundo. Dois anos depois, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) chegou à Câmara Federal ao obter o melhor desempenho entre todos os candidatos a deputado no Brasil, com mais de 1 milhão de votos.

O PT quer que ele seja – e Boulos aceita ser – o nome de Lula em São Paulo, em contraponto ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai disputar a reeleição e deve receber o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda desconhecido da imensa maioria do eleitorado, Nunes herdou o cargo com a morte de Bruno Covas, em 2021. Faz uma gestão apagada, marcada por críticas às suas concessões no debate sobre o a revisão do Plano Diretor, pela acelerada decadência do Centro paulistano e pelas políticas sociais insatisfatórias. A aliados, já declarou que, em 2024, prefere não parecer um candidato do bolsonarismo.

O prefeito quer, sim, o apoio e o capital político de Bolsonaro, mas teme herdar a elevada rejeição do ex-presidente, que é maior em São Paulo do que no conjunto do Brasil. A esperteza é conhecida, mas Boulos não passou recibo. “Como se não bastasse uma gestão que deixou São Paulo abandonada, para piorar o cidadão ainda foi pedir a benção do Bolsonaro”, acusou ele no sábado, durante a atividade em que o PT lhe reiterou apoio.

Lembrando os resultados da extrema-direita em São Paulo na eleição passada, Boulos provocou: “Bolsonarismo aqui não se cria. Espero que a gente consiga superar e virar a página de uma polarização rasteira construída pelo bolsonarismo”. Diferentemente de 2020 – ano em que tentou cravar uma marca essencialmente esquerdista à sua campanha a prefeito –, o deputado pretende ampliar ­as alianças e construir uma frente mais ampla, incluindo “todos os setores econômicos”. Segundo ele, “ninguém precisa ter medo da mudança”.

Uma frente desse porte é fundamental para viabilizar a vitória em São Paulo. Mais do que isso, o PT faz um gesto louvável ao não impor uma candidatura própria na capital paulista – o que também não ocorrerá no Rio de Janeiro, onde os petistas apoiarão a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PSD). A decisão do PT vai repercutir em todo o Brasil e reforçar a preocupação em estabelecer uma base mais sólida de sustentação ao governo Lula. A 14 meses das eleições 2024, uma nova frente ampla começa a vingar.

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